Hat Man
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Esta foto foi finalista e acabou de ser premiada agora com uma medalha de
ouro no Paris International Street Photography Awards 2024 photo contest.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
A Vida como Luta entre a Realidade e o Sonho…
"Van Gogh Sunset"
…«Somos um sonho divino que não se condensou, por completo, dentro dos nossos limites materiais. Existe, em nós, um limbo interior; um vago sentimental e original que nos dá a faculdade mitológica de idealizar todas as coisas. (...) Se fôssemos um ser definido, seríamos então um ser perfeito, mas limitado, materializado como as pedras. Seríamos uma estátua divina, mas não poderíamos atingir a Divindade. Seríamos uma obra de arte e não vivente criatura, pois a vida é um excesso, um ímpeto para além, uma força imaterial, indefinida, a alma, a imperfeição.
A vida é uma luta entre os seus aspectos revelados e o limbo em que eles se perdem e ampliam até à suprema distância imaginável; uma luta entre a realidade e o sonho, a Carne e o Verbo.
Entre nós, o Verbo não encarnou inteiramente. Somos corpo e alma, verbo encarnado e verbo não encarnado, a matéria e o limbo, o esqueleto de pedra e um fumo que o enconbre e ondula em volta dele, e dança aos ventos da loucura...
E aí tendes um pobre tolo sentimental, uma caricatura elegíaca.
Neste limbo interior, neste infinito espiritual, vive a lembrança de Deus que alimenta a nossa esperança, e transfigura esse bicho do Demónio, que anda por esses boulevards, vestido à moda ou coberto de farrapos.
Ardemos num incêndio de esperança, para que reste de nós uma lembrança, um fumo que sobe e não se apaga.
Tudo é memória: um fumo leve, em mil visagens animadas; ou denso, em formas inertes e sombrias; e, ao longe, a grande fogueira invisível que os demónios e os anjos alimentam.
Vivo, porque espero. Lembro-me, logo existo.»
Teixeira de Pascoaes in 'O Pobre Tolo'
Joe Dassin - Ca va pas changer le monde
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João Ramos Franco
terça-feira, 27 de abril de 2010
A Verdade é Histórica…
Mosteiro da Batalha
…«O viver faz-se sempre a partir de ou sobre certos supostos, que são como o solo em que para viver nos apoiamos ou do qual partimos. E isto em todas as ordens - em ciência como em moral e política, como em arte. Toda a ideia é pensada e todo o quadro é pintado a partir de certas suposições ou convenções tão básicas, tão evidentes para quem pensou a ideia ou pintou o quadro, que nem sequer repara nelas e por isso não as introduz na sua ideia nem no seu quadro, não as achamos ali postas mas precisamente supostas e como deixadas voluntariamente no esquecimento. Por isso, às vezes, não entendemos uma ideia ou um quadro: falta-nos a palavra do enigma, a clave da secreta convenção. E como, repito, cada época - vou ser mais exacto -, cada geração parte de supostos mais ou menos diferentes, quer dizer-se que o sistema das verdades e o dos valores estéticos, morais, políticos, religiosos têm inexoravelmente uma dimensão histórica, são relativos a uma certa cronologia vital humana, valem só para certos homens. A verdade é histórica.»
Ortega y Gasset in 'O Que é a Filosofia?'
Jacques Brel.J'arrive
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João Ramos Franco
sexta-feira, 23 de abril de 2010
A Simpatia pela Obra de Arte…
Renoir - The Swing
…«Qualquer produto intelectual de valor que se pretende surta um efeito imediato, vasto e profundo, tem de conter uma secreta harmonia, uma afinidade mesmo entre o destino pessoal do autor e o destino da generalidade dos seus contemporâneos. As pessoas não sabem por que razão atribuem fama a uma obra de arte. Longe de serem connaisseurs, julgam descobrir nela uma centena de virtudes para justificar tal apreço; mas o verdadeiro motivo do seu aplauso é imponderável - é a simpatia. »
Thomas Mann in 'Morte em Veneza'
Mireille Mathieu - La premiere ètoile
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João Ramos Franco
segunda-feira, 19 de abril de 2010
A Desgraça do Sonhador…
Auguste Renoir. Le Moulin de la Galette
….«E vocês sabem o que é um sonhador, cavalheiros? É um pecado personificado, uma tragédia misteriosa, escura e selvagem, com todos os seus horrores frenéticos, catástrofes, devaneios e fins infelizes... um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque ele é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, às vezes muito triste, às vezes rude, noutras muito compreensivo e enternecedor, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honoráveis sentimentos... não é uma vida assim uma tragédia? Não é isto um pecado, um horror? Não é uma caricatura? E não somos todos mais ou menos sonhadores?»
Fiodor Dostoievski in "Escritos Ocasionais"
Westlife - I Have A Dream
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João Ramos Franco
terça-feira, 13 de abril de 2010
O Belo é Necessário…
L'etoile [La danseuse sur la scene] - Edgar Degas
…«Neste mundo o lindo é necessário. Há mui poucas funções tão importantes como esta de ser encantadora. Que desespero na floresta se não houvesse o colibri! Exalar alegrias, irradiar venturas, possuir no meio das coisas sombrias uma transmudação de luz, ser o dourado do destino, a harmonia, a gentileza, a graça, é favorecer-te. A beleza basta ser bela para fazer bem. Há criatura que tem consigo a magia de fascinar tudo quanto a rodeia; às vezes nem ela mesmo o sabe, e é quando o prestígio é mais poderoso; a sua presença ilumina, o seu contacto aquece; se ela passa, ficas contente; se pára, és feliz; contemplá-la é viver; é a aurora com figura humana; não faz nada, nada que não seja estar presente, e é quanto basta para edenizar o lar doméstico; de todos os poros sai-lhe um paraíso; é um êxtase que ela distribui aos outros, sem mais trabalho que o de respirar ao pé deles. Ter um sorriso que - ninguém sabe a razão - diminui o peso da cadeia enorme arrastada em comum por todos os viventes, que queres que te diga? é divino.»
Victor Hugo in 'Os Trabalhadores do Mar'
Edith Piaf - La Foule
Melanie - Beautiful People
Melanie (Safka) - What have they done to my song
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João Ramos Franco
domingo, 11 de abril de 2010
O Prazer de Viver…
Dejeuner_sur_l'Herbe - Edouare Manet, 1863
….«É o prazer de viver que dispersa, suprime a concentração, paralisa todo o impulso para a grandeza. Mas sem prazer de viver... Não, a solução não existe... A menos que seja uma solução fazer de um grande amor uma raiz e nele encontrar a fonte de vida sem o castigo da dispersão.»
Albert Camus in 'Cadernos'
Roy Orbison - Oh, Pretty Woman
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João Ramos Franco
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Loucura Subjectiva…
Edouard Manet, A Bar at the Folies-Bergere, 1882
«Às vezes não tenho tanto a certeza de quem tem o direito de dizer quando um homem é louco e quando não é. Às vezes penso que não há ninguém completamente louco tal como não há ninguém completamente são até a opinião geral o considerar assim ou assado. É como se não fosse tanto o que um tipo faz, mas o modo como a maioria das pessoas o encara quando o faz.»
William Faulkner in 'Na Minha Morte'
Michel Polnareff - Love Me, Please Love Me
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João Ramos Franco
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Quantas Loucuras há num Homem!…
Vincent van Gogh : "Portrait of Dr. Gachet", 1890
«Há tantos amores na vida de um homem! Aos quatro anos, ama-se os cavalos, o sol, as flores, as armas que brilham, os uniformes de soldado; aos dez, ama-se a menina que brinca connosco; aos treze, ama-se uma mulher de colo túrgido, porque me lembro de que o que os adolescentes amam loucamente é um colo de mulher, branco e mate, e como diz Marot:
Tetin refaict plus blanc qu'un oeuf
Tetin de satin blanc tout neuf.
Quase me senti mal quando vi pela primeira vez os seis desnudados de uma mulher. Por fim, aos catorze ou quinze anos, ama-se uma jovem que vem a nossa casa, e que é um pouco mais que uma irmã, menos que uma amante; depois, aos dezasseis anos, ama-se uma outra mulher, até aos vinte e cinco; depois, talvez se ame a mulher com quem casamos. Cinco anos mais tarde, ama-se a dançarina que faz saltar o seu vestido sobre as suas coxas carnudas; por fim, aos trinta e seis, ama-se a deputação, a especulação, as honrarias; aos cinquenta, ama-se o jantar do ministro ou do presidente da câmara; aos sessenta, ama-se a prostituta que nos chama através dos vidros e a quem se lança um olhar de impotência, uma saudade do passado. Não será assim?
Porque eu passei por todos esses amores; não todos, porém, porque não vivi todos os meus anos, e cada ano, na vida de muitos homens, é marcado por uma paixão nova, paixão das mulheres, do jogo, dos cavalos, das botas finas, das bengalas, das lunetas, das carruagens, da posição. Quantas loucuras há num homem! Oh! não há a menor dúvida de que os matizes de um trajo de arlequim não são mais variados do que as loucuras do espírito humano, e ambos chegam ao mesmo resultado: ficarem coçados e fazerem rir durante algum tempo, o público em troca do seu dinheiro, o filósofo em troca da sua ciência.»
Gustave Flaubert in 'Memórias de um Louco'
The Platters Unchained Melody
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João Ramos Franco
sexta-feira, 2 de abril de 2010
O Comum a Todas as Religiões…
«Para a vasta massa humana, em todos os tempos, pagã, budista, cristã, maometana, selvagem ou culta, a Religião terá sempre por fim, na sua essência, a súplica dos favores divinos e o afastamento da cólera divina; e, como instrumentação material para realizar estes objectos, o templo, o padre, o altar, os ofícios, a vestimenta, a imagem. Pergunte a qualquer mediano homem saído da turba, que não seja um filósofo, ou um moralista, ou um místico, o que é Religião. O inglês dirá:—«É ir ao serviço ao domingo, bem vestido, cantar hinos». O hindu dirá:—«É fazer poojah todos os dias e dar o tributo ao Mahadeo». O africano dirá:—«É oferecer ao Mulungu, a sua ração de farinha e óleo». O minhoto dirá: —«É ouvir missa, rezar as contas, jejuar a sexta-feira, comungar pela Páscoa». E todos terão razão, grandemente! Porque o seu objecto, como seres religiosos, está todo em comunicar com Deus, e esses são os meios de comunicação que os seus respectivos estados de civilização e as respectivas liturgias que deles saíram, lhes fornecem.»
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
jimmy fontana-il mondo
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João Ramos Franco
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