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Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro

domingo, 28 de agosto de 2011

O Inventário da Nossa Civilização…

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Londres 1940


«Fazer o inventário ou uma análise da nossa civilização, quer dizer o quê? Procurar esclarecer, de uma maneira rigorosa, a armadilha que fez do homem escravo das suas próprias criações. Por onde se infiltrou a inconsciência entre a acção e o pensamento metódicos? Na vida selvagem, a evasão constitui uma solução preguiçosa. É preciso reencontrar, na própria civilização em que vivemos, o pacto original entre o espírito e o mundo. De resto, trata-se de uma tarefa impossível de concretizar, por causa da brevidade da vida e da impossibilidade da colaboração e da sucessão. O que não é razão para não a empreender. Estamos todos em situação análoga à de Sócrates, o qual, enquanto esperava a morte na prisão, aprendeu a tocar lira... pelo menos, teremos vivido.»

Simone Weil in 'A Gravidade e a Graça'

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domingo, 21 de agosto de 2011

O Equilíbrio Humano…

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O Beijo por Rodin


«As nossas opiniões são apenas suplementos da nossa existência e na maneira de pensar de uma pessoa pode ver-se o que lhe falta. Os indivíduos mais frívolos são os que se têm a si mesmos em grande consideração, e as pessoas de maior qualidade são apreensivas. O homem de vícios é descarado e o virtuoso é tímido. Deste modo tudo se equilibra: cada um de nós quer ser completo ou, pelo menos, quer ver-se como tal.»

Johann Wolfgang von Goethe in "Máximas e Reflexões

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

A União entre o Espírito e a Beleza…


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O regresso à Escola onde frequentei a 4ª classe...

Praia da Foz do Arelho, vista do INATEL

FOTO DO PUBLICADA NO BLOG DO ERO, ALUSIVA AO JANTAR DOS AMIGOS DA FOZ DO ARELHO

«Há uma beleza espiritual e há outra beleza que fala aos sentidos. Certas pessoas pretendem que o belo pertence exclusivamente ao campo dos sentidos, separando dele por completo o espiritual, de modo que o nosso mundo apresente uma cisão entre os dois. Nisso também se baseia o ensinamento verídico: «Apenas por dois modos a felicidade é cognoscível em todo o Universo: a que nos vem das alegrias do corpo e a que nos vem da paz redentora do espírito». Desta doutrina, no entanto, segue-se que o espiritual não se acha, para o belo, na mesma relação em que o belo se encontra para com o feio e que, só em certas condições, se confunde com este.
O espiritual não é sinónimo de beleza pelo conhecimento e pelo amor do belo, amor este que se exprime em beleza espiritual. Tal amor, em absoluto, não é absurdo ou sem esperança, pois, pela lei da atracção dos opostos, o belo por sua vez anseia pelo espiritual, admirando-o e recebendo-lhe com agrado a corte. Este mundo não está constituído de tal modo que o espírito esteja fadado a amar apenas o espiritual, nem a beleza unicamente votada a procurar o belo. Na verdade, o próprio contraste entre os dois indica, com clareza ao mesmo tempo espiritual e bela, que a meta do mundo é a união entre o espírito e a beleza, isto é, uma felicidade não mais dividida porém total e consumada.»

Thomas Mann in 'As Cabeças Trocadas'


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sábado, 13 de agosto de 2011

O Solitário…

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Monet - Nightfall, c. 1865-70


O solitário leva uma sociedade inteira dentro de si: o solitário é multidão. E daqui deriva a sua sociedade. Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros. O génio, foi dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão. É a multidão individualizada, e é um povo feito pessoa. Aquele que tem mais de próprio é, no fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra o que é dos outros.
(...) O que de melhor ocorre aos homens é o que lhes ocorre quando estão sozinhos, aquilo que não se atrevem a confessar, não já ao próximo mas nem sequer, muitas vezes, a si mesmos, aquilo de que fogem, aquilo que encerram em si quando estão em puro pensamento e antes de que possa florescer em palavras. E o solitário costuma atrever-se a expressá-lo, a deixar que isso floresça, e assim acaba por dizer o que todos pensam quando estão sozinhos, sem que ninguém se atreva a publicá-lo. O solitário pensa tudo em voz alta, e surpreende os outros dizendo-lhes o que eles pensam em voz baixa, enquanto querem enganar-se uns aos outros, pretendendo acreditar que pensam outra coisa, e sem conseguir que alguém acredite.

Miguel de Unamuno in 'Solidão'

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O Saber da Experiência…

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Angola – Sá da Bandeira, Casino Sra. Monte


«É sempre melhor comprovar as coisas pela experiência do que apenas saber. Porque se se depende da adivinhação ou suposição ou de conjecturas, nunca se fica educado. Há coisas que não podemos descobrir mas nunca perceberemos se são desse tipo se não experimentarmos. Pois é, temos de ser pacientes e perseverar na experiência até compreendermos que não podemos compreender. E é maravilhoso quando assim é, torna o mundo tão interessante. Se não houvesse nada para descobrir seria uma chatice. Só mesmo o tentar descobrir e não conseguir é tão interessante como o tentar descobrir e consegui-lo, se calhar até mais, não sei...»

Mark Twain in 'O Diário de Adão e Eva'

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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Construir a Realidade…

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Picasso - L' Amitié


«A pura verdade é que no mundo acontece a todo instante, e, portanto, agora, infinidade de coisas. A pretensão de dizer o que é que acontece agora no mundo deve ser entendida, pois, como ironizando-se a si mesma. Mas assim como é impossível conhecer directamente a plenitude do real, não temos outro remédio senão construir arbitrariamente uma realidade, supor que as coisas são de certa maneira. Isto proporciona-nos um esquema, quer dizer, um conceito ou entretecido de conceitos. Com ele, como através de uma quadrícula, olhamos depois a efectiva realidade, e então, só então, conseguimos uma visão aproximada dela. Nisto consiste o método científico. Mais ainda: nisto consiste todo uso do intelecto. Quando ao ver chegar o nosso amigo pela vereda do jardim dizemos: «Este é o Pedro», cometemos deliberadamente, ironicamente, um erro. Porque Pedro significa para nós um esquemático repertório de modos de se comportar física e moralmente – o que chamamos «carácter» –, e a pura verdade é que o nosso amigo Pedro não se parece, em certos momentos, em quase nada à ideia «o nosso amigo Pedro».
Todo o conceito, o mais vulgar como o mais técnico, vai incluso na ironia de si mesmo, nos entre dentes de um sorriso tranquilo, como o geométrico diamante vai implícito na dentadura de ouro de seu engaste. Ele diz muito seriamente: «Esta coisa é A, e esta outra coisa é B». Mas é a sua a seriedade de um pince-sans-rire. É a seriedade instável de quem engoliu uma gargalhada e se não aperta bem os lábios a vomita. Ele sabe muito bem que nem esta coisa é A, assim, à valentona, nem a outra é B, sem reservas. O que o conceito pensa a rigor é um pouco outra coisa que o que diz, e nesta duplicidade consiste a ironia. O que verdadeiramente pensa é isto: eu sei que, falando com todo rigor, esta coisa não é A, nem aquela B; mas, admitindo que são A e B, eu entendo-me comigo mesmo para os efeitos do meu comportamento vital diante de uma ou de outra coisa.»

Ortega y Gasset in 'A Rebelião das Massas'

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