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Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro

sábado, 30 de janeiro de 2010

UM ANGLIA EM ÓBIDOS (e comentários)

por Fernando Santa-Bárbara


Ao dar volta ao meu sotão (leia-se caixa dos pirolitos), lembrei-me de uma história passada aí há uns 50 anos, comigo, João Ramos Franco (João Traga Balas) e o Clóvis Remígio de Sousa.

Então foi assim (como agora se diz):

Estávamos, uma bela noite e devia ser numas férias, pois eu só cá vinha de férias, a pensar o que iríamos fazer!

Conversa para aqui, conversa para acolá, até que o João disse:

- " E se fôssemos dar uma volta no Anglia? " (O Anglia, era o carro do Pai - Dr. Ramos Franco, Médico-Veterinário em Caldas da Rainha).














Claro que ninguém tinha carta, mas dissémos logo que sim! Fomos direito à garagem, que servia também de consultório, buscar o Anglia.

Onde vamos, onde não vamos e lá fomos até Óbidos! Durante a viagem não houve qualquer problema. Chegados a Óbidos entrámos e fomos direitos ao Largo da Igreja de Santa Maria que, salvo erro, tinha umas escadas em vez de rampa.

Aqui, eu e Clóvis saímos do carro, para o João mostrar os seus dotes de condutor! Arranca para a frente e resolve fazer de seguida marcha atrás, esquecendo-se que estava um "senhor plátano" nas suas traseiras! E zás, traulitada no plátano e pára-choques metido para dentro!

Claro que nós dois partimo-nos a rir a ver a cena e a imaginar o momento em que o Dr. Ramos Franco visse o carro!

Acabaram-se as habilidades e regressámos às Caldas. Depois foi só meter o carro na garagem mas de maneira que, quando o Pai entrasse, não desse com os estragos. E assim lá entrou de marcha atrás,o que não era habitual, pois o Pai metia-o sempre de frente!

Para acabar a noite o João Traga Balas, ainda tentou endireitar o pára-choques com o cabo de uma vassoura a fazer de alavanca. Claro está que aquele se partiu e o bom do João bateu com os "costados" no chão!

Imaginem esta cena e o que nós nos rímos!

João, desculpa lá dar a conhecer esta História da Nossa Vida, mas nunca soube como foi o final, isto é, o que se passou a seguir?

Com um abraço

Fernando Santa-Bárbara
C O M E N T Á R I O S

João Ramos Franco respondeu:
A seguir a tu ires para casa, eu e o Clóvis (aluno da Escola Comercial), fomos até ao Marinto beber mais umas cervejas e jogar bilhar… sempre com ele a gozar comigo, cada vez que pegava no taco para dar uma carambola, ele dizia: vai mais uma volta do raly…
Esta e outras aventuras do João Traga-Balas, (João Ramos Franco) serão contadas, mas como não foram só vividas por mim, coloca-se o "conto eu, contas tu" e parece-me que dar a palavra aos amigos que também as viveram torna-as mais interessantes.
Obrigado, Fernando Santa-Bárbara!
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J J disse...
Este episódio, relatado pelo Fernando Santa-Bárbara, vem mostrar que diversas gerações de caldenses desviaram os carros familiares de forma a alargarem os seus horizontes e o seu campo de acção.
Uns mais discretamente do que outros...
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Julinha disse:
Se Óbidos "falasse" quantas estórias dos meninos do ERO teria para contar! Girissimos estes textos que nos contam estas aventuras.
Obrigada
Júlia R
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São Caixinha disse:
Divertidissimo...gostei muito!! ;))
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Isabel Esse disse...
Já repararam que nunca há raparigas convidadas para participar nestas aventuras? Porque será?
À parte isso a história é divertida, embora o João Ramos Franco não tenha respondido completamente à pergunta do escritor sobre o que se passou a seguir!IS
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Dalila Garcia disse:
Gostei do comentário da Isabel Esse, que até agora não teve resposta! :-)
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João Ramos Franco respondeu:
A Julinha disse que se Óbidos "falasse" quantas estórias dos meninos do ERO teria para contar! A resposta à Isabel Esse penso que está nas palavras da Julinha!?...
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M Rosário Pimentel disse:
O plátano no local errado e à hora errada e não teriamos mais uma estória divertida, por cujo final ficamos a aguardar com curiosidade...
MRosário Pimentel

Santa-Bárbara disse...
Para responder à Isabel Esse, que não tenho o prazer de conhecer, só lhe quero dizer, que se as raparigas não faziam parte destas aventuras, a culpa não era nossa!
Já pensaram, quais eram os Pais que nos finais dos anos 50, as deixavam sair à noite, a não ser para irem ao Casino? Pois é, nós bem gostávamos de as ter como companheiras...
Bem, o João já contou o resto da estória!
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João Ramos Franco disse...
Eu fugi a falar como o meu Pai enfrentou o assunto, mas se vos disser que ele não passou dos conselhos paternais, uma reprimenda verbal e no horário de chegada à noite a casa é a realidade. No meu blogue conto um pouco das minhas relações paternas, se forem ler vêm que tudo se passava como conto.
Quanto ao assunto da polícia, limitava-se a alertar os nossos pais e nada mais fazia… épocas!!!
Um abraço amigo
João Ramos Franco

Roberto Carlos - O Calhambeque

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

- A Essência das Coisas…





















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Édipo e a Esfinge
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…”Nunca me conformei com um conceito puramente científico da Existência, ou aritmético-geométrico, quantitativo-extensivo. A existência não cabe numa balança ou entre os ponteiros dum compasso. Pesar e medir é muito pouco; e esse pouco é ainda uma ilusão. O pesado é feito de imponderáveis, e a extensão de pontos inextensos, como a vida é feita de mortes.
A realidade não está nas aparências transitórias, reflexos palpitantes, simulacros luminosos, um aflorar de quimeras materiais. Nem é sólida, nem líquida, nem gasosa, nem electromagnética, palavras com o mesmo significado nulo. Foge a todos os cálculos e a todos os olhos de vidro, por mais longe que eles vejam, ou se trate dum núcleo atómico perdido no infinitamente pequeno, ou da nebulosa Andrómeda, a seiscentos mil anos de luz da minha aldeia!
A essência das coisas, essa verdade oculta na mentira, é de natureza poética e não científica. Aparece ao luar da inspiração e não à claridade fria da razão. Esta apenas descobre um simples jogo de forças repetido ou modificado lentamente, gestos insubstanciais, formas ocas, a casca de um fruto proibido.
Mas o miolo é do poeta. Só ele saboreia a vida até ao mais íntimo do seu gosto amargoso, e se embrenha nela até ao mais profundo das suas sensações e sentimentos. É o ser interior a tudo. Para ele, a realidade não é um conceito abstracto, ideia pura, imagem linear; é uma concepção essencial, imagem hipostasiada, possuída em alma e corpo, nupcialmente, dramaticamente, à São Paulo ou Shakespeare.”

Teixeira de Pascoaes in "O Homem Universal"

Jean Gabin-Maintenant je sais

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

- A Realização Humana está Fora da Sabedoria…





















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Ramalho Ortigão
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- A Realização Humana está Fora da Sabedoria…

…“O homem mais perfeitamente educado por um mestre foi Stuart Mill. Aos vinte anos de idade ele tinha aprendido com James Mill, seu pai, tudo quanto a ciência pode ensinar a um sábio e a um filósofo. E todavia Stuart Mill conta-nos na sua autobiografia que, ao perguntar um dia a si mesmo se seria feliz, uma vez realizadas nas instituições e nas ideias todas as reformas que ele projectava criar, a sua consciência lhe respondera: não. «Senti-me então desfalecer, - diz ele; todas as fundações sobre que se tinha arquitectado a minha vida se desmoronaram de repente.» Mais tarde ele sentiu a dor, sentiu depois o amor, o amor apaixonado, absorvente, enorme, dominando todo o seu ser, submetendo a força dissolvente da análise; e foi só então que ele se sentiu homem, revivendo para a natureza, forte da grande força que a natureza lhe comunicava, equilibrado para sempre no seu destino, cingido ao coração palpitante de uma mulher que ele amou - ele o sábio, o filósofo, o reformador frio e implacável - com o amor ilimitado, entusiástico, cavalheiresco, que as velhas lendas líricas atribuem aos grandes amantes célebres.”

Ramalho Ortigão in 'As Farpas (1883)'

Le temps de vivre - Georges Moustaki

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A Função do Escritor...


















...“Que o mundo «está infestado com a escória do género humano» é perfeitamente verdade. A natureza humana é imperfeita. Mas pensar que a tarefa da literatura é separar o trigo do joio é rejeitar a própria literatura. A literatura artística é assim chamada porque descreve a vida como realmente é. O seu objectivo é a verdade - incondicional e honestamente. O escritor não é um confeiteiro, um negociante de cosméticos, alguém que entretém; é um homem constrangido pela realização do seu dever e a sua consciência. Para um químico, nada na terra é puro. Um escritor tem de ser tão objectivo como um químico.
Parece-me que o escritor não deveria tentar resolver questões como a existência de Deus, pessimismo, etc. A sua função é descrever aqueles que falam, ou pensam, acerca de Deus e do pessimismo, como e em que circunstâncias. O artista não deveria ser juiz dos seus personagens e das suas conversas, mas apenas um observador imparcial.
Têm razão em exigir que um artista deva ter uma atitude inteligente em relação ao seu trabalho, mas confundem duas coisas: resolver um problema e enunciar correctamente um problema. Para o artista, só a segunda cláusula é obrigatória.
Acusam-me de ser objectivo, chamando-lhe indiferença em relação ao bem e ao mal, falta de ideias e ideais, etc. Querem que, ao descrever ladrões de cavalos, diga: «Roubar cavalos é mau». Mas isso é sabido há séculos sem que eu tenha de o dizer. Deixem que um júri os julgue; a minha tarefa é simplesmente mostrar que género de pessoas são. Escrevo: estão a lidar com ladrões de cavalos e, assim, deixem-me dizer-lhes que não são mendigos, mas gente bem alimentada que segue um culto especial e que roubar cavalos não é simplesmente roubo, mas uma paixão. Claro que seria agradável combinar arte com sermões, mas, quanto a mim, é impossível por questões técnicas. Para descrever ladrões de cavalos em setecentas linhas, tenho de falar, pensar e sentir à maneira deles. De outro modo, a história não será tão compacta como os contos deveriam ser. Quando escrevo, conto inteiramente com o leitor para que este acrescente os elementos subjectivos que faltam na história.”

Anton Tchekhov in "Cartas"

Alberto Cortez "Puedo Escribir los Versos"

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

- Civilização Construída ao Acaso…












- Grandes pensadores da Humanidade. Da esquerda para direita: Galileu, Newton, Mendel, Darwin, Pasteur, Lavoisier, Fleming, Einstein, Thomson e Rutheford.
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- Civilização Construída ao Acaso…
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“A civilização moderna encontra-se em má posição porque não nos convém. Foi construída sem conhecimento da nossa verdadeira natureza. Deve-se ao capricho das descobertas científicas, do apetite dos homens, das suas ilusões, das suas teorias e dos seus desejos. Apesar de ter sido edificada por nós, não foi feita à nossa medida.
Na verdade, é evidente que a ciência não seguiu nenhum plano. Desenvolveu-se ao acaso, com o nascimento de alguns homens de génio, a forma do seu espírito e o caminho que tomou a sua curiosidade. Não se inspirou de modo nenhum no desejo de melhorar o estado dos seres humanos. As descobertas produziram-se ao sabor da intuição dos cientistas e das circunstâncias mais ou menos fortuitas das suas carreiras.
Se Galileu, Newton ou Lavoisier tivessem aplicado os poderes do seu espírito ao estudo do corpo e da consciência, talvez o nosso mundo fosse diferente do que é hoje. Os cientistas ignoram para onde vão. São guiados pelo acaso, por raciocínios subtis, por uma espécie de clarividência. Cada um deles é um mundo à parte, governado pelas suas próprias leis. De tempos a tempos, certas coisas, obscuras para os outros, tornam-se claras para eles. Em geral, as descobertas são feitas sem nenhuma revisão das consequências. Mas a forma da nossa civilização resultou dessas consequências.”

Alexis Carrel in 'O Homem esse Desconhecido'

Yesterday - The Beatles

sábado, 9 de janeiro de 2010

PALCOS E PERSONAGENS (João Ramos Franco)

por João Ramos Franco

Café Central – a porta aberta (marcação de entrada em cena)•.






Quem tenta fazer desfilar personagens e factos que lhe povoam a mente, precisa de palcos para a encenação das histórias a contar .
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Por isso no post “UMA VIAGEM” apareceu a fotografia da Praça, e não uma outra da nossa Cidade, os escritores e encenadores necessitam de palcos amplos e livres para que neles possam desfilar as personagens…


Personagens como por exemplo o avô Garrido, a quem eu ouvi declamar no Casino o monólogo “ Os Malefícios do Tabaco”, de Anton Tchekhov, que pode abrir o desfile… são tantos e tantas as artes e ofícios a apresentar, que a cidade das Caldas me parece pequena…















Jacques Brel - La valse à mille temps – 1963

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Vida não Está por Ordem Alfabética
















Psicologia dos Contactos

A Vida não Está por Ordem Alfabética

….”Surge... ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são miga¬lhas, o problema depois é juntá-las, é esse montinho de areia, e este grão que grão sustém? Por vezes, aquele que está mesmo no cimo e parece sustentado por todo o montinho, é precisamente esse que mantém unidos todos os outros, porque esse montinho não obedece às leis da física, retira o grão que aparentemente não sustentava nada e esboroa-se tudo, a areia desliza, espalma-se e resta-te apenas traçar uns rabiscos com o dedo, contradanças, caminhos que não levam a lado nenhum, e continuas à nora, insistes no vaivém, que é feito daquele abençoado grão que mantinha tudo ligado... até que um dia o dedo resolve parar, farto de tanta garatuja, deixaste na areia um traçado estranho, um desenho sem jeito nem lógica, e começas a desconfiar que o sentido de tudo aquilo eram as garatujas.”

António Tabucchi in 'Tristano Morre'

Andy Williams - Impossible Dream

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Todo o Presente Espera pelo Passado…















Café Central - Caldas da Rainha

Todo o Presente Espera pelo Passado…

….“Há vária gente que não gosta de evocar o passado. Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro. Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação. Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser. O presente é cheio de urgências mas ele que espere. Ha tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz. Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão. Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem...”
Vergílio Ferreira in 'Conta-Corrente 5'

Jose Carreras En Aranjuez Con Tu Amor