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quarta-feira, 10 de março de 2010

O Acto Poético


















.."Goethe na campagna -1788"

…«O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação. Este fogo do conhecimento, que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E não há outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto uma singularidade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta mais facilmente nas diferenças do que nas semelhanças, esquecendo-se, e é Goethe quem o lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade, ele nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem sequer são capazes de imaginar. Palavra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema harmonia entre luz e sombra, presença e ausência, plenitude e carência. …»

Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'

Aguaviva - Poetas andaluces (1975)

1 comentário:

Isabel X disse...

Aprecio de um modo muito particular Goethe. Então no que se refere às "afinidades electivas" e à "teoria das cores" nem sei que diga...
Subscrevo inteiramente o que diz sobre poesia, que pela mão de João Ramos Franco aqui nos chega, através de Eugénio de Andrade.

É este tipo de situações que ainda me faz crer na humanidade, na nossa humanidade, que nos irmana.

Obrigada João Ramos Franco!...

- Isabel X -