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Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro

sábado, 7 de julho de 2012

A Vantagem do Esquecimento…












100 da Republica

Publicada no Blog “Caricaturas do Centenário” em 25-05-2011


A Vantagem do Esquecimento

O esquecimento não é só uma vis inertioe, como crêem os espíritos superfinos; antes é um poder activo, uma faculdade moderadora, à qual devemos o facto de que tudo quanto nos acontece na vida, tudo quanto absorvemos, se apresenta à nossa consciência durante o estado da «digestão» (que poderia chamar-se absorção física), do mesmo modo que o multíplice processo da assimiliação corporal tão pouco fatiga a consciencia. Fechar de quando em quando as portas e janelas da consciência, permanecer insensível às ruidosas lutas do mundo subterrâneo dos nossos orgãos; fazer silêncio e tábua rasa da nossa consciência, a fim de que aí haja lugar para as funções mais nobres para governar, para rever, para pressentir (porque o nosso organismo é uma verdadeira oligarquia): eis aqui, repito, o ofício desta faculdade activa, desta vigilante guarda encarregada de manter a ordem física, a tranquilidade, a etiqueta. Donde se coligue que nenhuma felicidade, nenhuma serenidade, nenhuma esperança, nenhum gozo presente poderiam existir sem a faculdade do esquecimento.


Friedrich Nietzsche, in "A Genealogia da Moral"


terça-feira, 19 de junho de 2012

A definição aristotélica: zoon politikon.





Leal daCâmara. “O Bacôco”. Revista “A Corja!”, 1898


(Umacoisa utópica que os governantes fazem de conta que cumprem assobiando para olado. Esquecem, cada vez que tomam posse, que juram cumprir a Constituição daRepública e não apenas aquilo que mais jeito lhes dá.
E está àvista de todos, até dos que preferem enterrar a cabeça na areia, na esperançavã de que o mundo esteja direito quando a desenterrarem, que se faz tábua rasada Lei Fundamental.)

Combater a Opressão

O homem,enquanto ser social, só se realiza plenamente quanto inserido numa determinadacomunidade política.
E estaintegração, pressupondo a interiorização consciente ou inconsciente de umconjunto de regras sociais, exige que o conceito de cidadania se estabeleçacomo primeiro tecido constituinte da natureza humana no cumprimento dosdireitos e deveres a que cada indivíduo está socialmente obrigado.
A estepropósito, se é particularmente sugestiva a aproximação etimológica que esteconceito estabelece com os vocábulos latinos civis (civil ou cidadão) ecivitate (cidade), dado que identifica de forma imediata a realidade dacidadania na relação do indivíduo à cidade; não deixa de ser igualmentesignificativo o paralelo que se pode estabelecer com os conceitos correlativosde origem grega: politês (político) e polis (cidade). Pois, se a polis grega éa civitate latina e se o politês grego é o civis latino, então o homem,enquanto ser social, é imediatamente um ser político. Tal é o significado e aamplitude da definição aristotélica: zoon politikon.
Ora, seos conceitos de cidadão e de político são duas noções etimologicamentepróximas, cada indivíduo, quando inserido numa determinada comunidade, temresponsabilidades acrescidas no estabelecimento do bem-comum. Pois, a cidadaniaimplica não só compreensão dos direitos e deveres de cada indivíduo, enquantocidadão, mas também a exigência de os colocar em prática na praxis social.


É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies deopressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assimela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficienteimperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte opensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade seconfunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem; aexistência passou a ser para ele o meio que um deus benevolente colocou ao seudispor para conseguir, pelo que lhe toca, deixar uma centelha onde até aíapenas a treva se cerrara; é um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho aseguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou ointimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma lutade que a não interessam nem dificuldades nem extensão.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'


sábado, 9 de junho de 2012

Sou um Português que sente...Penso logo Existo


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Celebra-se a 10 de Junho, data da morte do poeta Luís Vaz de Camões, além do dia do poeta autor de “Os Lusíadas”, o Dia de Portugal e também das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo.

Camões representa o génio da pátria e da língua portuguesa, sobretudo devido à forma esplendorosa como descreveu a História dos Portugueses n’ Os Lusíadas.

Nesta comemoração alia-se a portugalidade com o génio do poeta e com o espírito aventureiro dos portugueses, que, tal como nos tempos da expansão marítima, de grandiosidade portuguesa, em que Portugal “deu mundos ao mundo”, continuam espalhados pelos vários continentes, levando consigo o saber, a língua, a cultura e as raízes nacionais. Esses portugueses “dos quatro cantos do mundo” são deveras importantes para a expansão da importância de Portugal, daí a justiça da associação das Comunidades Portuguesas ao feriado que comemora o dia de Portugal e de Camões.

O ler das palavras que explicam a data que se celebra colocaram-me no momento actual a reler o 'Discurso do Método'… a dúvida metódica está presente…sou um Português que sente.

Penso, logo Existo

De há muito tinha notado que, pelo que respeita à conduta, é necessário algumas vezes seguir como indubitáveis opiniões que sabemos serem muito incertas, (...). Mas, agora que resolvera dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exactamente ao contrário, e rejeitar, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não ficaria qualquer coisa nas minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável.

Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que até então me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, necessáriamente era alguma coisa. E notando esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.

René Descartes, in 'Discurso do Método'


quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Desespero do Homem de Acção


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Os pobres e o dinheiro (lotaria do estado) - Vincent Van Gogh

uma ligação muito estreita entre a adoração da acção e o uso do homem como meio de atingir fins que não são o homem. Como há uma ligação aproximada entre este desespero e a acção, entre a razão e a acção. A proeminência dos valores da acção sobre os da contemplação indica, sobretudo, que o homem abandonou totalmente a busca duma ideia aprazível do homem e o desejo de o colocar como fim. E que na impossibilidade de agir segundo um fim, ou de agir para ser homem, ele decide agir de qualquer maneira, apenas para agir.

O homem de acção é um desesperado que procura preencher o vazio do seu próprio desespero com actos ligados mecanicamente uns aos outros e compreendidos entre um ponto de início e um ponto de conclusão, ambos gratuitos e convencionais. Por exemplo, entre o ponto de início da fabricação dum automóvel e o ponto de conclusão dessa fabricação. O homem de acção suspenderá o seu desespero enquanto durar a fabricação do veículo; suspendê-lo-á precisamente porque no seu espírito fica suspensa qualquer finalidade verdadeiramente humana: sente-se meio entre os outros homens, meios como ele. Concluída a máquina ele encontrar-se-á, é verdade, mais inerte e exânime que a própria máquina, mas arrolhará subitamente com uma promoção, com uma medalha, um pagamento a dobrar, ou simplesmente com a construção de um novo automóvel. Efectivamente apresentar-se-á a envolver-se no fluxo alienatório da acção.

Alberto Moravia in "O Homem Como Fim"

quinta-feira, 24 de maio de 2012

...publicado anonimamente na «Revista de Portugal»,…





Tumultos no Porto
Jornal inglês «Fun», 1891

«Até Portugal tem zaragatas políticas
vê-se que sopram ventos de rebelião contra os reis.»

http://www.arqnet.pt/imagens/linhazul.jpg

Novos Factores da Política Portuguesa
de
Eça de Queirós

«UMA PARTE IMPORTANTE DA NAÇÃO PERDEU TOTALMENTE

A FÉ NO PARLAMENTARISMO, E NAS

CLASSES GOVERNAMENTAIS QUE O ENCARNAM;

E TENDE A SUBSTITUI-LA POR OUTRA COISA,
QUE ELA AINDA NÃO DEFINIU BEM A SI PRÓPRIA.»

Artigo de Eça de Queirós publicado anonimamente na «Revista de Portugal», publicação editada no Porto, mas que Eça dirigia desde Paris. Este artigo foi atribuído durante muito tempo a Oliveira Martins, mas Ernesto Guerra da Cal comprovou a existência do manuscrito original autógrafo.

Neste artigo, Eça afirma que, com a crise política provocada pelo Ultimato britânico de 1890, a população portuguesa passou a pensar que «antes qualquer outra coisa do que o que está». O problema era saber o que era esta «outra coisa». Um governo autoritário, com base no exército, parecia improvável. Então o que se perfilava no futuro parecia ser ou uma «revolução feita de cima, uma concentração de força na Coroa ... que não seria compreendida pela Nação», ou uma revolução vinda de baixo - a República, que para Eça «seria a confusão, a anarquia, a bancarrota.»

Acabava então perguntando, não apresentando naturalmente uma solução:

- «Que resta pois? Resta, como esperança, o sabermos que as nações têm a vida dura, e que o nosso Portugal tem a vida duríssima.» Sabendo que «entre nós têm-se visto governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por frio sistema.»

A história veio comprovar que Eça de Queirós para além de ser um grande escritor, assim como um grande jornalista, como Filomena Mónica salientou, foi também um grande analista político. Este artigo previu os 40 anos seguintes. O reforço do poder real, com a «ditadura» de João Franco, apoiada por D. Carlos; a revolução republicana, que se tornou a anarquia que o autor previu, e a solução militar que era a menos previsível em 1890, mas que foi a que se mostrou a mais duradoira existindo durante 50 anos, de 1926 a 1976.

Eça de Queirós in Revista de Portugal




sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Fragilidade dos Valores… in 'A Genealogia da Moral'



Rafael Bordalo Pinheiro


Todas as coisas «boas» foram noutro tempo más; todo o pecado original veio a ser virtude original. O casamento, por exemplo, era tido como um atentado contra a sociedade e pagava-se uma multa, por ter tido a imprudência de se apropriar de uma mulher (ainda hoje no Cambodja o sacerdote, guarda dos velhos costumes, conserva o jus primae noctis). Os sentimentos doces, benévolos, conciliadores, compassivos, mais tarde vieram a ser os «valores por excelência»; por muito tempo se atraiu o desprezo e se envergonhava cada qual da brandura, como agora da dureza. 
A submissão ao direito: oh! que revolução de consciência em todas as raças aristocráticas quando tiveram de renunciar à vingança para se submeterem ao direito! O «direito» foi por muito tempo um vetitum, uma inovação, um crime; foi instituído com violência e opróbio.
Cada passo que o homem deu sobre a Terra custou-lhe muitos suplícios intelectuais e corporais; tudo passou adiante e atrasou todo o movimento, em troca teve inumeráveis mártires; por estranho que isto hoje nos pareça, já o demonstrei na Aurora, aforismo 18: «Nada custou mais caro do que esta migalha de razão e de liberdade, que hoje nos envaidece». Esta mesma vaidade nos impede de considerar os períodos imensos da «moralização dos costumes» que precederam a história capital e foram a verdadeira história, a história capital e decisiva que fixou o carácter da humanidade. Então a dor passava por virtude, a vingança por virtude, a renúncia da razão por virtude, e o bem-estar passivo por perigo, o desejo de saber por perigo, a paz por perigo, a misericórdia por opróbio, o trabalho por vergonha, a demência por coisa divina, a conversão por imoralidade e a corrupção por coisa excelente. 

Friedrich Nietzsche, in 'A Genealogia da Moral'



terça-feira, 24 de abril de 2012

Revolução do 25 de Abril pode ser revivida passo a passo pelo Facebook





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DIRECTOR: PEDRO CURVELO
terça-feira, 24 de Abril de 2012

Recordar a "Revolução dos Cravos", passo a passo, como se estivesse a acontecer hoje, é uma iniciativa que a Universidade de Coimbra (UC) vai pôr em prática durante 24 horas, convidando os cidadãos a acompanhá-la pela rede social "facebook".

A iniciativa "De 24 para 25 de Abril - emissão histórica em direto" inicia-se às 22 horas do dia 24 e prolonga-se até à noite de 25, e quem quiser acompanhá-la apenas terá de se conectar no endereço https://www.facebook.com/cd25a, do Centro de Documentação 25 de Abril da UC.
"No fundo é pegar na ideia mais ou menos conhecida da iniciativa do Orson Welles com a guerra dos mundos. No caso do Orson Welles, foi recriada uma chegada à terra dos marcianos, no nosso caso é uma tentativa de recuperar o tempo e colocar [no 'facebook'], como se estivesse a acontecer, um conjunto de factos que já foram vividos há 38 anos", explicou à agência Lusa o responsável daquele centro.
Segundo Rui Bebiano, com esta iniciativa pretendeu-se "fazer diferente" da "forma ritualizada" de evocação da revolução democrática de 1974, que "muitas vezes já não é compreendido pelas pessoas mais jovens".
Utilizando o acervo disponível no Centro de Documentação 25 de Abril, os cidadãos vão poder acompanhar a revolução à imagem do que se viveu nos seus bastidores, podendo ter acesso aos planos militares, documentos, fotos, sons e vídeos.
"Vão ser 24 horas muito preenchidas. Várias vezes em cada hora, teremos sempre factos, acontecimento e episódios a contar", afirma Rui Bebiano.
Com base no registo militar das operações no Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (MFA), propõe-se uma viagem no tempo - em tempo real - através da publicação dos registos de informação provenientes das chamadas telefónicas escutadas e recebidas através do sistema de comunicações instalado no Posto de Comando do Movimento, explicam os promotores.
A iniciativa começa às 22 horas de dia 24 de abril, altura em que, há 38 anos, os seis oficiais já estavam no Regimento de Engenharia 1 no Quartel da Pontinha onde, desde a véspera, fora clandestinamente preparado o Posto de Comando do Movimento.
Tanto conversas intercetadas nas redes militares usadas pelas unidades afetas ao regime, como as conversas telefónicas efetuadas pelas unidades envolvidas no MFA, bem como os vários momentos marcantes desse dia serão divulgados, ao longo de 24 horas, numa cronologia em tempo real.
A principal fonte usada é o documento de 52 páginas que Lopes Pires, um dos oficiais presentes, confiou ao Centro de Documentação 25 de Abril. Desse documento e de uma entrevista coletiva aos "capitães" Amadeu Garcia dos Santos, Hugo dos Santos, José Eduardo Sanches Osório, Nuno Fisher Lopes Pires, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Crespo, resultou o livro "A Fita do Tempo da Revolução, A noite que mudou Portugal".
Para Rui Bebiano, esta iniciativa visa ainda alargar o número das pessoas que se possam interessar pelas atividades do Centro de Documentação 25 de Abril e, numa altura de crise, evidenciar que em qualquer situação histórica, de forma coletiva, é possível resolver as dificuldades.


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quarta-feira, 18 de abril de 2012

A igreja e o protesto...

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…as ruínas do Partenon representam o maior símbolo da democracia moderna.




A igreja e o protesto

Por BAPTISTA-BASTOS
Diário de Noticias - 18-04-2012


A desagregação da democracia portuguesa está em marcha, e não me parece que haja grande sobressalto cívico. Cada vez ficamos mais pobres, e não só na razão da subsistência. Os intelectuais abandonaram a força propulsora que os distinguiu e caracterizou como referência moral, cedendo a uma série de intermediações que os bajula, e afasta do seu papel fundamental.
A Igreja Católica (talvez alertada por perder prosélitos) dá tímidos sinais de que esta política conduz a uma forma cruel de desapropriação e cria formas assustadoras de dependência. Uma carta da pastoral do Ensino ao ministro Nuno Crato (ex-militante da extrema-esquerda, fascinado pelas sereias do "mercado") adverte que, por este caminho, só os filhos dos ricos poderão aceder aos estudos universitários. Entretanto, por dificuldades de toda a ordem, seis mil alunos do Superior abandonaram as aulas.
O Governo de Passos Coelho, em dez meses, criou a desmesura obscena de uma desigualdade a qual não passa de derivação perversa de outra, das muitas expressões do fascismo. Não tenhamos medo das palavras. A democracia de superfície, ou a deformação do próprio conceito, tornou-se numa banalidade que não vejo analisada pelos historiadores e sociólogos portugueses.
A inocência corrompida da Igreja, sacudida pela necessidade de cuidar das coisas terrenas, resultou, por tardia, no abandono de milhões dos seus crentes. A especificidade contemporânea do mal alastrou-se com o advento do neoliberalismo e na transformação do trabalhador num mero objecto destinado a obter o rendimento máximo. Frequentemente, a Igreja cedeu a vez e calou a voz, sem qualquer outra consideração que não fosse a "defesa do sagrado", em detrimento do factor humano. Este documento agora dirigido ao ministro Crato surge depois de protestos de professores, de pais e de responsáveis de educação terem expresso um generalizado descontentamento.
Não se trata de paradoxos éticos do "mercado." O que nos está a atingir, a sufocar e a empobrecer é um programa ideológico muito bem pensado e organizado, que tem conseguido fascinar as suas próprias vítimas. Quando o prof. Medina Carreira chama a atenção pela qualidade da manipulação a que somos submetidos, consideram-no "catastrofista"; mas a verdade é que ele se tornou praticamente no único a desmontar a armadilha montada contra nós.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Escola da 3ª Classe – Praça do Peixe

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Escola da 3ª Classe – Praça 5 de Outubro


No segundo edifício, a contar do lado direito, no 1º andar e janela do lado direito, foi o local onde frequentei a 3ª Classe. Recordo-me que foi com uma Professora, mas esqueci por completo o nome da senhora.

O único facto, passado na escola, referente a esta época e que me recorda são umas célebres aulas de trabalhos manuais com barro das quais siamos todos sujos por atiramos com o barro uns aos outros… mas a olaria perto da escola onde íamos buscar o barro tem para mim, o recordar ter conhecido o dono, o pai do Padre António Emílio, um homem que pelo seu trato me ficou na memória,

O prédio, tinha no outro topo da Praça o Cine – Teatro Pinheiro Chagas, e o ambiente que vêm na fotografia, o mercado do peixe povoado pelos vendedores e compradores, é o que via quando passava para Escola.


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terça-feira, 3 de abril de 2012

Escola da 1ª e 2ª Classe…

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Escola Primária junto à Policia de Trânsito


- Fiz uma pré-primaria até aos sete anos de idade, mais ou menos frente ao ERO edifício prédio do Crespo, davam aulas duas Professoras Primárias particulares, a D. Rosa e a sua filha Alicinha, onde fiz uma pré-primaria até aos sete anos de idade.
- O passar para a escola pública tem a ver com a educação paterna, pois os “meninos” da Cidade que iam para o ERO estudavam com elas até à 4ª Classe..
-A 1ª Escola Primária que frequento é junto à Policia de Trânsito, em frente ao portão Parque que dava acesso ao pinhal. Aqui, com o Professor Lalanda, fiz a 1ª e 2ª Classe.
Recordo o professor como uma homem exigente que gostava que os seus alunos estivessem sempre prontos a responder à matéria dada mas nada amigo de dar castigos.
- Umas Férias que não contava ter, por falecimento do Presidente da Republica (Marechal Carmona) e ver pintado numa parede o nome de Norton de Matos, são factos que hoje me dizem em que ano estava.


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segunda-feira, 26 de março de 2012

Chafariz da Estrada da Foz...

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Caldas da Rainha - Chafariz da Estrada da Foz


A 17 de Novembro de 1942 passou a ter mais um observador frequente. Da varanda da casa onde nasci, frente a ele, olhava-o sem ter conhecimento de que era um velho Chafariz e que jamais o iria esquecer.
Olho para fotografia e as imagens que guardo da minha mais tenra juventude, até à idade escolar, esvoaçam por entre seres que dependem da água que jorra da sua bica e o ponto de encontro do alguém que aproveita aquele momento em que enche as vasilhas para falar da sua vida…
Esta imagem que se perpétua na minha mente marca o meu conhecimento com a cidade onde nasci.

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domingo, 18 de março de 2012

Cine - Teatro Pinheiro Chagas

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Cine - Teatro Pinheiro Chagas


Após ter lido um artigo de Hermínio de Oliveira, publicado em Setembro de 2009 no Jornal das Caldas, para me esclarecer melhor sobre a origem do edifício como património histórico, o qual recomendo a leitura aos interessados na história da nossa Cidade.
- Vou então tentar recordar alguns dos filmes que lá vi, desde já vos chamo a atenção que aqui comecei a ver a 7ª Arte.
Sei que a primeira vez que lá entrei (que me recorde) não foi para ver cinema, mas sim o Orfeão Académico de Coimbra e o Orfeão do Liceu de Leiria, pela mão do meu pai, pois a minha idade seria uns 7 ou 8 anos.

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sábado, 10 de março de 2012

É Preciso Procurar uma Só Coisa para Encontrar Muitas…

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Salão Ibéria – Parque D. Carlos I


«Desaparecido o fervor de uma monomania, falta uma ideia central para dar significado aos momentos interiores esparsos. Em suma, quanto mais o espírito está absorvido por um humor dominante, mais a paisagem interior se enriquece e varia. É preciso procurar uma só coisa, para encontrar muitas.»

Cesare Pavese in 'O Ofício de Viver'

Dean Martin and Jerry Lewis
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quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher...

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Dia Internacional da Mulher...

Alexandra Kollontai, dirigente feminista da revolução socialista, escreveu sobre o fato e sobre o 8 de março. Diz ela: "O dia das trabalhadoras em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro, no antigo calendário) foi uma data memorável na história (...) A revolução de fevereiro começou nesse dia". O fato também é mencionado por Trotski, dirigente da revolução, na História da Revolução Russa. Trotski conta que o dia 23 de fevereiro (8 de março), era o Dia Internacional da Mulher.

O Homem e a Mulher

«O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher, o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar.
O trono exalta e o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração produz amor. A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é o génio; a mulher é o anjo. O génio é imensurável; o anjo é indefenível;
A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher é a virtude extrema; A glória promove a grandeza e a virtude, a divindade.
O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência. A supremacia significa a força; a preferência representa o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher, invencível pelas lágrimas.
A razão convence e as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios. O heroísmo enobrece e o martírio purifica.
O homem pensa e a mulher sonha. Pensar é ter uma larva no cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu.»

Victor Hugo

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domingo, 4 de março de 2012

A Leitura não Deve Substituir o Pensamento…

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Júlio Pomar – Café Central


«Enquanto a leitura for para nós a iniciadora cujas chaves mágicas nos abrem no fundo de nós próprios a porta das habitações onde não teríamos conseguido penetrar, o papel dela na nossa vida será salutar. É perigoso ao invés quando, em vez de nos despertar para a vida pessoal do espírito, a leitura tende a substituí-la, quando a verdade deixa de nos surgir como um ideal que só podemos realizar através do progresso íntimo do nosso pensamento e do esforço do nosso coração, mas como uma coisa material, depositada eritre as folhas dos livros como um mel preparado pelos outros e que só temos de nos dar ao trabalho de alcançar nas prateleiras das estantes e de saborear em seguida passivamente num perfeito repouso de corpo e de espírito.»

Marcel Proust in 'O Prazer da Leitura'

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sábado, 3 de março de 2012

A Vantagem do Esquecimento...

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Eu e a Guerra Colonial


«O esquecimento não é só uma vis inertioe, como crêem os espíritos superfinos; antes é um poder activo, uma faculdade moderadora, à qual devemos o facto de que tudo quanto nos acontece na vida, tudo quanto absorvemos, se apresenta à nossa consciência durante o estado da «digestão» (que poderia chamar-se absorção física), do mesmo modo que o multíplice processo da assimilação corporal tão pouco fatiga a consciência. Fechar de quando em quando as portas e janelas da consciência, permanecer insensível às ruidosas lutas do mundo subterrâneo dos nossos orgãos; fazer silêncio e tábua rasa da nossa consciência, a fim de que aí haja lugar para as funções mais nobres para governar, para rever, para pressentir (porque o nosso organismo é uma verdadeira oligarquia): eis aqui, repito, o ofício desta faculdade activa, desta vigilante guarda encarregada de manter a ordem física, a tranquilidade, a etiqueta. Donde se coligue que nenhuma felicidade, nenhuma serenidade, nenhuma esperança, nenhum gozo presente poderiam existir sem a faculdade do esquecimento.»

Friedrich Nietzsche in "A Genealogia da Moral"

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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Galileu Galilei e a Terra quadrada

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A Prisão Dourada…


«Tenta fazer esta experiência, construindo um palácio. Equipa-o com mármore, quadros, ouro, pássaros do paraíso, jardins suspensos, todo o tipo de coisas... e entra lá para dentro. Bem, pode ser que nunca mais desejasses sair daí. Talvez, de facto, nunca mais saísses de lá. Está lá tudo! "Estou muito bem aqui sozinho!". Mas, de repente - uma ninharia! O teu castelo é rodeado por muros, e é-te dito: 'Tudo isto é teu! Desfruta-o! Apenas não podes sair daqui!". Então, acredita-me, nesse mesmo instante quererás deixar esse teu paraíso e pular por cima do muro. Mais! Tudo esse luxo, toda essa plenitude, aumentará o teu sofrimento. Sentir-te-ás insultado como resultado de todo esse luxo... Sim, apenas uma coisa te falta... um pouco de liberdade.»

Fiodor Dostoievski, in "O Movimento de Liberação",

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sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Beleza Real…

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Ninfas - Jardim Claude Monet.
Localiza-se em Giverny, uma comuna francesa. O jardim aparece no quadro "Ninfas" do pintor.


Quando então alguém, subindo a partir do que aqui é belo, através do correcto amor aos jovens, começa a contemplar aquele belo, quase que estaria a atingir o ponto final. Eis, com efeito, em que consiste o proceder correctamente nos caminhos do amor ou por outro que se deixe conduzir: em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo.
Nesse ponto da vida, meu caro Sócrates, continuou a estrangeira de Mantinéia, se é que em outro mais, poderia o homem viver, a contemplar o próprio belo. Se algum dia o vires, não é como ouroou como roupa que ele te parecerá ser, ou como os belos jovens adolescentes, a cuja vista ficas agora aturdido e disposto, tu como outros muitos, contanto que vejam seus amados e sempre estejam com eles, a nem comer nem beber, se de algum modo fosse possível, mas a só contemplar e estar ao seu lado. Que pensamos então que aconteceria, disse ela, se a alguém ocorresse contemplar o próprio belo, nítido, puro, simples, e não repleto de carnes, humanas, de cores e outras muitas ninharias mortais, mas o próprio divino belo pudesse ele em sua forma única contemplar? Porventura pensas, disse, que é vida vã a de um homem a olhar naquela direção e aquele objecto, com aquilo com que deve, quando o contempla e com ele convive? Ou não consideras, disse ela, que somente então, quando vir o belo com aquilo com que este pode ser visto, ocorrer-lhe-á produzir não sombras de virtude, porque não é em sombra que estará a tocar, mas em reais virtudes, porque é no real que estará a tocar?

Platão in 'O Banquete'

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domingo, 19 de fevereiro de 2012

As Paixões Humanas… E as recordações…

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Rua dos Plátanos – Parque D. Carlos I


«Eu considero inteligente o homem que em vez de desprezar este ou aquele semelhante é capaz de o examinar com olhar penetrante, de lhe sondar por assim dizer a alma e descobrir o que se encontra em todos os seus desvãos. Tudo no homem se transforma com grande rapidez; num abrir e fechar de olhos, um terrível verme pode corroer-lhe as entranhas e devorar-lhe toda a sua substância vital. Muitas vezes uma paixão, grande ou mesquinha pouco importa, nasce e cresce num indivíduo para melhor sorte, obrigando-o a esquecer os mais sagrados deveres, a procurar em ínfimas bagatelas a grandeza e a santidade. As paixões humanas não têm conta, são tantas, tantas, como as areias do mar, e todas, as mais vis como as mais nobres, começam por ser escravas do homem para depois o tiranizarem.
Bem-aventurado aquele que, entre todas as paixões, escolhe a mais nobre: a sua felicidade aumenta de hora a hora, de minuto a minuto, e cada vez penetra mais no ilimitado paraíso da sua alma. Mas existem paixões cuja escolha não depende do homem: nascem com ele e não há força bastante para as repelir. Uma vontade superior as dirige, têm em si um poder de sedução que dura toda a vida. Desempenham neste mundo um importante papel: quer tragam consigo as trevas, quer as envolva uma auréola luminosa, são destinadas, umas e outras, a contribuir misteriosamente para o bem do homem.»

Nicolau Gogol in 'Almas Mortas'

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Recordações…"O Bolero" (Grupo da Rua Viriato)

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JÁ PUBLICADO NO BLOG A 18 DE MAIO DE 2009


Colocar a casa da Rua Viriato, como uma tertúlia dos escritores que mencionei, seria um abuso meu. Funcionava mais como entreposto entre a noite e a madrugada, comia-se, bebia-se, falava-se de temas diversos (normalmente os que à época mais nos preocupavam) e entretanto a madrugada chegava convidando-nos a sair de casa e partir para a cidade…
Passeava-se a pé por essa noite de Lisboa, conversando, como se não tivéssemos rumo, apenas parávamos, quando nos aparecia um Café ou uma Tasca, para meter mais uns copos…
Quase sem nos apercebermos, o sem rumo que tinha-mos, levava-nos a um Cabaret/Restaurante que nunca fechava, o Bolero.
Todos extractos sociais o frequentavam.
No rés-do-chão funcionava o Cabaret, no primeiro andar o Restaurante, tinha uma porta para rua que lhe dava acesso directo, mas nós nunca a utilizávamos.
Era como que gostasse-mos de quebrar de quebrar a conversa amena e devido ao som do conjunto musical começar a falar alto para nos ouvirmos…
À entrada na sala do lado esquerdo estava o conjunto musical, chefiado por pianista invisual, que pelo som nossa voz se apercebia da nossa chegada e nos dedicava a música que recordo no início.
Era este o rumo do passeio de todas as madrugadas…
João Ramos Franco

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sábado, 11 de fevereiro de 2012

A Cegueira da Governação…

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- Centro Hospitalar de Caldas da Rainha -

Centro Hospitalar Oeste Norte
Entrou em funcionamento no dia 23 de Janeiro de 2009 o Centro Hospitalar do Oeste Norte (CHON), criado pela Portaria n.º 83/2009, publicado em Diário da República (DR). O CHON integra o Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, o Hospital de Alcoba ça Bernardino Lopes de Oliveira e o Hospital de São Pedro Gonçalves Telmo - Peniche. Pretende-se que a criar o do novo centro hospitalar favorecer a rentabilização dos recursos técnicos e humanos já existentes e proporcionar uma resposta integrada da capacidade assistencial as populações que visa servir.
























…«Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos.»

Padre António Vieira, in "Sermões"

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Devaneios Reveladores…

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-Pérgula - Parque D Carlos I-


«Na verdade, se nos fosse dado penetrar com os olhos da carne na consciência dos outros, julgaríamos com mais segurança um homem pelo que devaneia do que pelo que pensa. O pensamento é dominado pela vontade, o devaneio não. O devaneio, que é absolutamente espontâneo, toma e conserva, mesmo no gigantesco e no ideal, a figura do nosso espírito. Não há coisa que mais directa e profundamente saia da nossa alma do que as nossas aspirações irreflectidas e desmesuradas para os esplendores do destino. Nestas aspirações é que se pode descobrir o verdadeiro carácter de cada homem, melhor do que nas ideias compostas, coordenadas e discutidas. As nossas quimeras são o que melhor nos parece. Cada qual devaneia o incógnito e o impossível, conforme a sua natureza.»

Victor Hugo in 'Os Miseráveis'

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Memória é o Maior Tormento do Homem…

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- Azulejos da Zaira -


«Considera o rebanho que passa ao teu lado pastando: ele não sabe o que é ontem e o que é hoje; ele saltita de lá para cá, come, descansa, digere, saltita de novo; e assim de manhã até a noite, dia após dia; ligado de maneira fugaz por isto, nem melancólico nem enfadado. Ver isto desgosta duramente o homem porque ele vangloria-se da sua humanidade frente ao animal, embora olhe invejoso para a sua felicidade - pois o homem quer apenas isso, viver como animal, sem melancolia, sem dor; e o que quer entretanto em vão, porque não quer como o animal. O homem pergunta mesmo um dia ao animal: por que não falas sobre a tua felicidade e apenas me observas?
O animal quer também responder e falar, isso deve-se ao facto de que sempre se esquece do que queria dizer, mas também já esqueceu esta resposta e silencia: de tal modo que o homem se admira disso. Todavia, o homem também se admira de si mesmo por não poder aprender a esquecer e por sempre se ver novamente preso ao que passou: por mais longe e rápido que ele corra, a corrente corre junto. É um milagre: o instante em um átimo está aí, em um átimo já passou, antes um nada, depois um nada, retorna entretanto ainda como um fantasma e perturba a tranquilidade de um instante posterior. Incessantemente uma folha se destaca da roldana do tempo, cai e é carregada pelo vento - e, de repente, é trazida de volta ao colo do homem. Então, o homem diz:«eu lembro-me», e inveja o animal que imediatamente esquece e vê todo o instante realmente morrer imerso em névoa e noite e extinguir-se para sempre. Assim, o animal vive a-historicamente: ele passa pelo presente como um número, sem que reste uma estranha quebra.»

Friedrich Nietzsche in 'Segunda Consideração Intempestiva'

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O Sofrimento do Hipócrita…

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"Aos portões da eternidade", Vincent van Gogh (1890)


«Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. 0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão.»

Victor Hugo in "Os Trabalhadores do Mar"

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Grandeza de Carácter…

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- Política é a arte de impedir as pessoas de participarem de assuntos que são de seu interesse. Paul Valéry -


«Obedecer aos próprios sentimentos? Arriscar a vida ao ceder a um sentimento generoso ou a um impulso de momento... Isso não caracteriza um homem: todos são capazes de fazê-lo; neste ponto, um criminoso, um bandido, um corso certamente superam um homem honesto. O grau de superioridade é vencer em si esse elã e realizar o acto heróico, não por um impulso, mas friamente, razoavelmente, sem a expansão de prazer que o acompanha. Outro tanto acontece com a piedade: ela há-de ser habitualmente filtrada pela razão; caso contrário, é tão perigosa como qualquer outra emoção. A docilidade cega perante uma emoção - tanto importa que seja generosa ou piedosa como odienta - é causa dos piores males. A grandeza de carácter não consiste em não experimentar emoções; pelo contrário, estas são de ter no mais alto grau; a questão é controlá-las e, ainda assim, havendo prazer em modelá-las, em função de algo mais.»

Friedrich Nietzsche in 'A Vontade de Poder'

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domingo, 22 de janeiro de 2012

Igualdade não é Identidade…

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- Caricatura de Aníbal Cavaco Silva by Nelson Santos,koisasiiloisas.blogspot -


«Combaterei pelo primado do Homem sobre o indivíduo - como do universal sobre o particular. Creio que o culto do universal exalta e liga as riquezas particulares - e funda a única ordem verdadeira, que é a da vida. Uma árvore está em ordem, apesar das raízes que diferem dos ramos.

Creio que o culto do particular só leva à morte - porque funda a ordem na semelhança. Confunde a unidade do Ser com a identidade das suas partes. E devasta a catedral para alinhar pedras. Combaterei, pois, todo aquele que pretenda impor um costume particular aos outros costumes, um povo aos outros povos, uma raça às outras raças, um pensamento aos outros pensamentos.

Creio que o primado do Homem fundamenta a única Igualdade e a única Liberdade que têm significado. Creio na Igualdade dos direitos do Homem através de cada indivíduo. E creio que a única liberdade é a da ascensão do homem. Igualdade não é Identidade. A Liberdade não é a exaltação do indivíduo contra o Homem. Combaterei todo aquele que pretenda submeter a um indivíduo - ou a uma massa de indivíduos - a liberdade do Homem.
Creio que a minha civilização denomina «Caridade» o sacrifício consentido ao Homem para que este estabeleça o seu reino. A caridade é dádiva ao Homem, através da mediocridade do indivíduo. É ela que funda o Homem. Combaterei todo aquele que, pretendendo que a minha caridade honre a mediocridade, renegue o Homem e, assim, aprisione o indivíduo numa mediocridade definitiva.
Combaterei pelo Homem. Contra os seus inimigos. Mas também contra mim mesmo.»

Antoine de Saint-Exupéry in 'Piloto de Guerra'

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