100 da Republica
Publicada no Blog “Caricaturas do Centenário” em 25-05-2011
A Vantagem do Esquecimento
Friedrich Nietzsche, in "A Genealogia da Moral"
100 da Republica
Publicada no Blog “Caricaturas do Centenário” em 25-05-2011
A Vantagem do Esquecimento
Friedrich Nietzsche, in "A Genealogia da Moral"
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Celebra-se a 10 de Junho, data da morte do poeta Luís Vaz de Camões, além do dia do poeta autor de “Os Lusíadas”, o Dia de Portugal e também das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo.
Camões representa o génio da pátria e da língua portuguesa, sobretudo devido à forma esplendorosa como descreveu a História dos Portugueses n’ Os Lusíadas.
Nesta comemoração alia-se a portugalidade com o génio do poeta e com o espírito aventureiro dos portugueses, que, tal como nos tempos da expansão marítima, de grandiosidade portuguesa, em que Portugal “deu mundos ao mundo”, continuam espalhados pelos vários continentes, levando consigo o saber, a língua, a cultura e as raízes nacionais. Esses portugueses “dos quatro cantos do mundo” são deveras importantes para a expansão da importância de Portugal, daí a justiça da associação das Comunidades Portuguesas ao feriado que comemora o dia de Portugal e de Camões.
O ler das palavras que explicam a data que se celebra colocaram-me no momento actual a reler o 'Discurso do Método'… a dúvida metódica está presente…sou um Português que sente.
Penso, logo Existo
De há muito tinha notado que, pelo que respeita à conduta, é necessário algumas vezes seguir como indubitáveis opiniões que sabemos serem muito incertas, (...). Mas, agora que resolvera dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exactamente ao contrário, e rejeitar, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não ficaria qualquer coisa nas minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável.
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que até então me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, necessáriamente era alguma coisa. E notando esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.
René Descartes, in 'Discurso do Método'
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Os pobres e o dinheiro (lotaria do estado) - Vincent Van Gogh
Há uma ligação muito estreita entre a adoração da acção e o uso do homem como meio de atingir fins que não são o homem. Como há uma ligação aproximada entre este desespero e a acção, entre a razão e a acção. A proeminência dos valores da acção sobre os da contemplação indica, sobretudo, que o homem abandonou totalmente a busca duma ideia aprazível do homem e o desejo de o colocar como fim. E que na impossibilidade de agir segundo um fim, ou de agir para ser homem, ele decide agir de qualquer maneira, apenas para agir.
O homem de acção é um desesperado que procura preencher o vazio do seu próprio desespero com actos ligados mecanicamente uns aos outros e compreendidos entre um ponto de início e um ponto de conclusão, ambos gratuitos e convencionais. Por exemplo, entre o ponto de início da fabricação dum automóvel e o ponto de conclusão dessa fabricação. O homem de acção suspenderá o seu desespero enquanto durar a fabricação do veículo; suspendê-lo-á precisamente porque no seu espírito fica suspensa qualquer finalidade verdadeiramente humana: sente-se meio entre os outros homens, meios como ele. Concluída a máquina ele encontrar-se-á, é verdade, mais inerte e exânime que a própria máquina, mas arrolhará subitamente com uma promoção, com uma medalha, um pagamento a dobrar, ou simplesmente com a construção de um novo automóvel. Efectivamente apresentar-se-á a envolver-se no fluxo alienatório da acção.
Alberto Moravia in "O Homem Como Fim"
Tumultos no Porto
Jornal inglês «Fun», 1891
«Até Portugal tem zaragatas políticas
vê-se que sopram ventos de rebelião contra os reis.»
Novos Factores da Política Portuguesa
de Eça de Queirós
«UMA PARTE IMPORTANTE DA NAÇÃO PERDEU TOTALMENTE
A FÉ NO PARLAMENTARISMO, E NAS
CLASSES GOVERNAMENTAIS QUE O ENCARNAM;
E TENDE A SUBSTITUI-LA POR OUTRA COISA,
QUE ELA AINDA NÃO DEFINIU BEM A SI PRÓPRIA.»
Artigo de Eça de Queirós publicado anonimamente na «Revista de Portugal», publicação editada no Porto, mas que Eça dirigia desde Paris. Este artigo foi atribuído durante muito tempo a Oliveira Martins, mas Ernesto Guerra da Cal comprovou a existência do manuscrito original autógrafo.
Neste artigo, Eça afirma que, com a crise política provocada pelo Ultimato britânico de 1890, a população portuguesa passou a pensar que «antes qualquer outra coisa do que o que está». O problema era saber o que era esta «outra coisa». Um governo autoritário, com base no exército, parecia improvável. Então o que se perfilava no futuro parecia ser ou uma «revolução feita de cima, uma concentração de força na Coroa ... que não seria compreendida pela Nação», ou uma revolução vinda de baixo - a República, que para Eça «seria a confusão, a anarquia, a bancarrota.»
Acabava então perguntando, não apresentando naturalmente uma solução:
- «Que resta pois? Resta, como esperança, o sabermos que as nações têm a vida dura, e que o nosso Portugal tem a vida duríssima.» Sabendo que «entre nós têm-se visto governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por frio sistema.»
A história veio comprovar que Eça de Queirós para além de ser um grande escritor, assim como um grande jornalista, como Filomena Mónica salientou, foi também um grande analista político. Este artigo previu os 40 anos seguintes. O reforço do poder real, com a «ditadura» de João Franco, apoiada por D. Carlos; a revolução republicana, que se tornou a anarquia que o autor previu, e a solução militar que era a menos previsível em 1890, mas que foi a que se mostrou a mais duradoira existindo durante 50 anos, de 1926 a 1976.