Leal daCâmara. “O Bacôco”. Revista “A Corja!”, 1898
(Umacoisa utópica que os governantes fazem de conta que cumprem assobiando para olado. Esquecem, cada vez que tomam posse, que juram cumprir a Constituição daRepública e não apenas aquilo que mais jeito lhes dá.
E está àvista de todos, até dos que preferem enterrar a cabeça na areia, na esperançavã de que o mundo esteja direito quando a desenterrarem, que se faz tábua rasada Lei Fundamental.)
Combater a Opressão
O homem,enquanto ser social, só se realiza plenamente quanto inserido numa determinadacomunidade política.
E estaintegração, pressupondo a interiorização consciente ou inconsciente de umconjunto de regras sociais, exige que o conceito de cidadania se estabeleçacomo primeiro tecido constituinte da natureza humana no cumprimento dosdireitos e deveres a que cada indivíduo está socialmente obrigado.
A estepropósito, se é particularmente sugestiva a aproximação etimológica que esteconceito estabelece com os vocábulos latinos civis (civil ou cidadão) ecivitate (cidade), dado que identifica de forma imediata a realidade dacidadania na relação do indivíduo à cidade; não deixa de ser igualmentesignificativo o paralelo que se pode estabelecer com os conceitos correlativosde origem grega: politês (político) e polis (cidade). Pois, se a polis grega éa civitate latina e se o politês grego é o civis latino, então o homem,enquanto ser social, é imediatamente um ser político. Tal é o significado e aamplitude da definição aristotélica: zoon politikon.
Ora, seos conceitos de cidadão e de político são duas noções etimologicamentepróximas, cada indivíduo, quando inserido numa determinada comunidade, temresponsabilidades acrescidas no estabelecimento do bem-comum. Pois, a cidadaniaimplica não só compreensão dos direitos e deveres de cada indivíduo, enquantocidadão, mas também a exigência de os colocar em prática na praxis social.
É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies deopressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assimela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficienteimperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte opensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade seconfunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem; aexistência passou a ser para ele o meio que um deus benevolente colocou ao seudispor para conseguir, pelo que lhe toca, deixar uma centelha onde até aíapenas a treva se cerrara; é um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho aseguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou ointimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma lutade que a não interessam nem dificuldades nem extensão.
Agostinho da Silva, in 'Considerações'
Agostinho da Silva, in 'Considerações'
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