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terça-feira, 19 de junho de 2012

A definição aristotélica: zoon politikon.





Leal daCâmara. “O Bacôco”. Revista “A Corja!”, 1898


(Umacoisa utópica que os governantes fazem de conta que cumprem assobiando para olado. Esquecem, cada vez que tomam posse, que juram cumprir a Constituição daRepública e não apenas aquilo que mais jeito lhes dá.
E está àvista de todos, até dos que preferem enterrar a cabeça na areia, na esperançavã de que o mundo esteja direito quando a desenterrarem, que se faz tábua rasada Lei Fundamental.)

Combater a Opressão

O homem,enquanto ser social, só se realiza plenamente quanto inserido numa determinadacomunidade política.
E estaintegração, pressupondo a interiorização consciente ou inconsciente de umconjunto de regras sociais, exige que o conceito de cidadania se estabeleçacomo primeiro tecido constituinte da natureza humana no cumprimento dosdireitos e deveres a que cada indivíduo está socialmente obrigado.
A estepropósito, se é particularmente sugestiva a aproximação etimológica que esteconceito estabelece com os vocábulos latinos civis (civil ou cidadão) ecivitate (cidade), dado que identifica de forma imediata a realidade dacidadania na relação do indivíduo à cidade; não deixa de ser igualmentesignificativo o paralelo que se pode estabelecer com os conceitos correlativosde origem grega: politês (político) e polis (cidade). Pois, se a polis grega éa civitate latina e se o politês grego é o civis latino, então o homem,enquanto ser social, é imediatamente um ser político. Tal é o significado e aamplitude da definição aristotélica: zoon politikon.
Ora, seos conceitos de cidadão e de político são duas noções etimologicamentepróximas, cada indivíduo, quando inserido numa determinada comunidade, temresponsabilidades acrescidas no estabelecimento do bem-comum. Pois, a cidadaniaimplica não só compreensão dos direitos e deveres de cada indivíduo, enquantocidadão, mas também a exigência de os colocar em prática na praxis social.


É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies deopressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assimela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficienteimperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte opensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade seconfunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem; aexistência passou a ser para ele o meio que um deus benevolente colocou ao seudispor para conseguir, pelo que lhe toca, deixar uma centelha onde até aíapenas a treva se cerrara; é um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho aseguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou ointimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma lutade que a não interessam nem dificuldades nem extensão.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'


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