Hat Man
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Esta foto foi finalista e acabou de ser premiada agora com uma medalha de
ouro no Paris International Street Photography Awards 2024 photo contest.
sábado, 28 de novembro de 2009
A Perturbação do Último Acontecimento
Projecto (meu) de capa, para uma colectânea de obras do Luiz Pacheco
A Perturbação do Último Acontecimento
“A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitectura interna. Uma pessoa, por exemplo, lê na idade madura um livro importante para ela, que a faz dizer: "Como poderia viver sem o ter lido!" e ainda: "Que pena não o ter lido quando era jovem!". Pois bem, estas afirmações não fazem muito sentido, sobretudo a segunda, porque a partir do momento em que ela leu aquele livro, a sua vida torna-se a vida de uma pessoa que leu aquele livro, e pouco importa que o tenha lido cedo ou tarde, porque até a vida que precede a leitura assume agora uma forma marcada por aquela leitura.”
Italo Calvino in "Palomar"
O facto de no último post ter citado, “Luiz Pacheco – Exposição na Galeria da Biblioteca Nacional”, levou-me a reflectir como sou perante os acontecimentos, neste caso, que me são gratos. Não porque exista em mim uma falta de um sentir próprio pelo Luiz Pacheco, mas o sentir colectivo que levou a esta exposição, merecida para mim, nunca pensei que despertasse tão cedo.
João Ramos Franco
Fly Me To The Moon - Tony Bennett
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João Ramos Franco
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Luiz Pacheco – Exposição na Galeria da Biblioteca Nacional
Catálogo da Exposição(retirado do site da BNP)
Como amigo, que acompanhou com o Luiz Pacheco e que partilhou a vida com ele, debaixo do mesmo teto, que o viu escrever muito do que mostram nesta exposição, exprimo o meu agradecimento à organização.
João Ramos Franco
Luiz Pacheco | Contraponto:
um homem dividido por dois
EXPOSIÇÃO | 26 de Novembro 2009 a 27 de Fevereiro 2010 | Galeria | Entrada livre
Escritor e editor, Luiz Pacheco (1925-2008) desde cedo revelou uma personalidade polémica e com reputação de «marginal»; mas não foi cedo que se revelou literariamente e, aliás, de um modo esparso, em revistas e jornais. Próximo do surrealismo, de cujos cultores mereceu, aliás, amizade como Mário Cesariny ou António Maria Lisboa, classificou-se a si mesmo, porém, como neo-abjeccionista.
A exposição organizada na BNP, com profuso (duplo) catálogo editado conjuntamente com a Leya, procura reunir a dupla faceta de autor e editor sob a sugestiva epígrafe «1 homem dividido vale por 2». Descerra-se, deste modo, uma prolífica actividade de poeta, prosador e crítico de Caca, cuspo & ramela (1958) ou Comunidade (1964), a Crítica de circunstância (1966) ou Diário remendado. 1971-1975 (2005); em reverso, as inúmeras edições do seu Contraponto, editora por si criada em 1950 e que foi matriz de diversos autores de vanguarda.
(retirado do site da BNP)
Gilbert Bécaud - Quand il est mort le poete [les paroles]
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João Ramos Franco
terça-feira, 24 de novembro de 2009
O Engano da Bondade
- Viver com a Bondade como principio, tem sido lema meu, mas de momento reencontro-me com as palavras de Pablo Neruda e reparo que a realidade nos obriga a reflectir no modo e circunstâncias como a distribuímos…
JRF
O Engano da Bondade
Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, a cutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra.
Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame. Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos.
Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estuta estupidez.
Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.
E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.
Pablo Neruda in "Nasci para Nascer"
Edith Piaf L'Hymne à l'amour
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João Ramos Franco
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
O Passado como Base para o Presente
O Passado como Base para o Presente
O tempo, na sua marcha, utiliza e destrói o que é temporal. Também nele existe mais eternidade no passado que no presente. Valor da história efectivamente cumprida, semelhante à da recordação em Proust. Deste modo, o passado apresenta-nos qualquer coisa que é, simultaneamente, real e melhor que nós, e que pode empurrar-nos para cima, coisa que o futuro nunca faz.
Simone Weil in 'A Gravidade e a Graça'
O Presente…
A minha rotura com tudo o que li, não aconteceu, mas um certo modo de estar na vida, afastou-me do hábito de leitor atento…
A publicação de citações, funciona em mim como um recuperar da cultura que no quotidiano da vida fui deixando para trás.
O estar consciente de que determinados elos da corrente de pensamento estavam quebrados, leva-me a este exercício de revisão literária, para que possa reencontrar a estrutura de pensamento que fui criando.
O ter acompanhado com intelectuais, não fez mim um deles, mas ajudou-me a ter consciência das minhas limitações e mostrar-me apenas como alguém para quem o saber próprio tem de ser utilizado com humildade.
Todo o acumular de experiencia vivida faz-me olhar para o passado, ter a sensação de que algo se passou não como queria, o caminho percorrido não foi fácil, mas satisfaz-me ter hoje consciência de nada me alterar a essência do pensamento.
Assumir a realidade actual é uma necessidade que estimula o percurso que decidi tomar.
João Ramos Franco
Demis Roussos - Forever and Ever
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João Ramos Franco
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
A Luta pela Recordação
Pablo Neruda
A Luta pela Recordação
Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida. Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja, selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor.
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...
Pablo Neruda in "Nasci para Nascer
A Mis Amigos (Alberto Cortez)
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João Ramos Franco
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
A Inspiração da Leitura
Vergílio Ferreira
A Inspiração da Leitura
Fala-se às vezes de 'inspiração' a propósito de quem escreve uma obra. Mas nunca se diz isso de quem a lê. Mas lê-la é escrevê-la outra vez. E é preciso estar-se inspirado para o conseguir bem. A inspiração possível de quem escreve um livro cumpre-se nele sem mais para o autor. Mas a de quem o reescreve, ou seja lê, é sempre variável. Ela varia não só com o desgaste da repetição da leitura, mas ainda com a variação dessa variação e o motivo dela. Porque por arranjos incognoscíveis pode alternar a adesão com a repulsa e recuperar depois em adesão o que repelira e o contrário. Como pode tudo ter que ver com razões mais cognoscíveis ou razoáveis e tudo depender assim de um insulto que nos doeu ou de um vinho que nos caiu mal. Um livro que se escreveu é imutável. O mesmo livro que se lê não o é. A inspiração de quem escreveu deu o que tinha a dar. A de quem o recebe varia e não se esgota. Porque se se esgotar, o livro não tinha nenhuma.
Vergílio Ferreira in 'Escrever'
Chet Baker Live (Belgium 1964) : Time After Time
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João Ramos Franco
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Falar Várias Línguas Apaga a Individualidade Nativa
Eça de Queirós
Falar Várias Línguas Apaga a Individualidade Nativa
O esforço contínuo de um homem para se exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção e de acento, em idiomas estranhos—isto é, o esforço para se confundir com gentes estranhas no que elas têm de essencialmente característico, o Verbo—apaga nele toda a individualidade nativa. Ao fim de anos esse habilidoso, que chegou a falar absolutamente bem outras línguas além da sua, perdeu toda a originalidade de espírito—porque as suas ideias, forçosamente, devem ter a natureza, incaracterística e neutra, que lhes permita serem indiferentemente adaptadas às línguas mais opostas em carácter e génio. Devem, de facto, ser como aqueles «corpos de pobre» de que tão tristemente fala o povo—«que cabem bem na roupa de toda a gente».
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
Gilbert Becaud-Et maintenant(1962)
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João Ramos Franco
terça-feira, 3 de novembro de 2009
A (Má) Emoção Controlada Pela Razão
Bertrand Russell
A (Má) Emoção Controlada Pela Razão
“Há a ideia de que quando se concede à razão inteira liberdade ela destrói todas as emoções profundas. Esta opinião parece-me devida a uma concepção inteiramente errada da função da razão na vida humana. Não é objectivo da razão gerar emoções, embora possa ser parte da sua função descobrir os meios de impedir que tais emoções sejam um obstáculo ao bem-estar. Descobrir os meios de diminuir o ódio e a inveja é sem dúvida parte da função da psicologia racional. Mas é um erro supor que diminuindo essas paixões, diminuiremos ao mesmo tempo a intensidade das paixões que a razão não condena.
No amor apaixonado, na afeição dos pais, na amizade, na benevolência, na devoção às ciências ou às artes, nada há que a razão deseje diminuir. O homem racional, quando sente essas emoções, ficará contente por as sentir e nada deve fazer para diminuir a sua intensidade, pois todas elas fazem parte da verdadeira vida, isto é, da vida cujo objectivo é a felicidade, a própria e a dos outros. Nada há de irracional nas paixões como paixões e muitas pessoas irracionais sentem sómente as paixões mais triviais. Ninguém deve recear que ao optar pela razão torne triste a vida. Ao contrário, pois a razão consiste, em geral, na harmonia interior; o homem que a realiza sente-se mais livre na contemplação do mundo e no emprego da sua energia para conseguir os seus propósitos exteriores, do que o homem que é continuamente embaraçado por conflitos íntimos. Nada é tão deprimente como estar fechado em si mesmo, nada é tão consolador como ter a sua atenção e a sua energia dirigidas para o mundo exterior.”
Bertrand Russell, in "A Conquista da Felicidade"
jacques brel - il nous faut regarder
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João Ramos Franco
domingo, 1 de novembro de 2009
O Grande Educador
Agostinho da Silva
O Grande Educador
É além de tudo essencial que a escola se não separe do mundo; não há escolas e oficinas; há um certo género de oficinas em que trabalham crianças nas tarefas que lhes são adequadas e lhes vão facilitando o desenvolvimento do corpo e do espírito; vão colaborando no que podem e no que sabem para que a vida melhore. Ninguém fugirá da escola e a olhará como um horror no dia em que a deixemos de conceber como o lugar a que se vai para receber uma lição, para a considerarmos como o ponto de condições óptimas para que uma criança efectivamente dê a sua ajuda a todos os que estão procurando libertar a condição humana do que nela há de primitivo; não se veja no aluno o ser inferior e não preparado a que se põe tutor e forte adubo; isso é o diálogo entre o jardineiro e o feijão; outra ideia havemos de fazer das possibilidades do homem e do arranjo da vida; que a criança se não deixe nunca de ver como elemento activo na máquina do mundo e de reconhecer que a comunidade está aproveitando o seu trabalho; de número na classe e de fixador de noções temos de a passar a cidadão.
O grande educador não pensa na escola pela escola, como o grande artista não aceita a arte pela arte; é incapaz de se encerrar na relativa estreiteza de uma vida de ensino; a escola, de tudo o que lhe oferecia o universo, é apenas o ponto a que dedicou maior interesse; mas é-lhe impossível furtar-se a mais larga actividade. De outro modo: trabalha com ideias gerais; não dirá que esta escola é o seu mundo, mas que esta escola é parte indispensável do seu mundo. E quererá também que toda a oficina passe a ser uma escola; que haja o trabalho proporcionado e alegre, amorosamente feito, porque se sabe necessário ao progresso, levado a cabo numa atitude de artista e de voluntário, disciplinado remador na jangada comum; que se não esmaguem as faculdades superiores do operário sob o peso e a monotonia de tarefas sem interesse e sem vida; que se faça a clara distinção entre o homem e a máquina; que, finalmente, se ajude o trabalhador a encontrar na sua ocupação, em todas as ideias que a cercam e a condicionam ou que ela própria provoca, o Bem Supremo da sua vida e da vida dos outros.
Agostinho da Silva, in 'Considerações'
Gilbert Bècaud - Quand il est mort le poete
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João Ramos Franco
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