Hat Man
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Esta foto foi finalista e acabou de ser premiada agora com uma medalha de
ouro no Paris International Street Photography Awards 2024 photo contest.
sábado, 31 de janeiro de 2009
"Eu e Luiz Pacheco"
Onde eu sou uma personagem do escritor…
UM PIDE EM MASSAMÁ
…..“Foi há dias. Dormia na minha cama de Massamá um sono regalado, seriam umas quatro da manhã, o João entra pelo quarto dentro, acende a luz e vem bichanar-me ao ouvido um segredo terrível. Estremunhado sem óculos, a principio não o reconhecia e pior o entendi. Abanava-me para que acordasse, repetia o seu recado dando risinhos abafados. Aí à quarta insistência, consegui apanhar com uma descarga de perdigotos voadores palavras soltas, quase amontoadas incertas na excitação dele: chófer, táxi, um pide, tá cá. Acordei de vez. Atirando para dento das cobertas os insultos de minha muito especial predilecção, oiço-o depois a chamar em voz alta:
- Ó amigo, chegue aqui faça favor!
E aos pés da minha cama senhorial surgiu então que nem nas mágicas um vulto e calculava quem: um chófer de táxi que trouxera o João de Lisboa, ficaram a beberricar em conversa na cozinha e era um dos tais ex- da pide-dgs.”…….
Textos de Circunstância – Luiz Pacheco –Pag. 109 – Editorial Fronteira – Maio 1977
O personagem é o João Ramos Franco, o resto do conto se o forem ler, reparam que o Pacheco não sai da cama e vem para a cozinha, por conseguinte alguém lhe relata a conversa.
Eu tinha embebedado o pide e ligado um gravador no meu quarto, que era junto à cozinha, e comecei a puxar-lhe pela língua. Da conversa gravada e do livro que o Luiz estava a ler, O Espião de Máximo Gorki, que lhe tinha oferecido dias antes, nasceu este conto. Loucuras minhas, interrogar um ex-pide-dgs!...
João Ramos Franco
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João Ramos Franco
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Ao Ferreira da Silva na Homenagem
Ferreira da Silva no teu modo de pensar nunca pautaste por a marca do seres mais velho. Eu sou testemunha viva de uma de geração, mais nova de Caldas da Rainha, que teve a sorte de privar contigo e que sentiu nas tuas palavras a força para ir mais longe.
- O José Maria Sales Henriques (desculpa eu falar por ele) já só está presente na memória dos amigos, com quem partilhaste o teu conhecimento encaminhando no aprender a arte de pintor e junto ti em Paris continuou, e eu, sentado no Café Central rabiscava numa sebenta, poesia, prosa e riscos (chamavas-lhe desenho), a que só tu davas valor, o impulso de quem queria que o pouco que o estudante sabia, fosse mais longe. Tiravas-me a sebenta para mostrar aos outros amigos, como se naquilo que fazia existisse algo que devia ser público. Eu, envergonhado, sabendo que na sebenta estava o meu pensar, o resultado intimo de quem muito lia, ávido do saber, mas que nada ainda nada estava certo. Eu e José Maria Sales Henriques era-mos, de entre os estudantes do ERO, de uma geração os que mais privaram contigo e quem deste a tua amizade.
As tuas palavras sentidas para nós: Não bebam tanto!...
Eram o conselho do amigo, mais velho, que já conhecia a vida, ditas como quem sabe que não iam ser ouvidas…
Sabes, Ferreira da Silva, ainda hoje recordo, quando à noite íamos a Alfeizerão ao Pão de Ló, horas passadas a ouvir musica na máquina de Discos, tantas outros momentos de nós, em que a tua companhia e as tuas palavras perduram ainda na minha mente.
Para mim, a homenagem será permanente.
Bem mereces a Homenagem que Caldas da Rainha te presta
João Ramos Franco
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João Ramos Franco
A cultura em movimento 1
O modo de vida e a cultura em cada país, no percurso da Volta ao Mundo de Vicente Blasco Ibanhez, dão-nos conhecer realidades que ainda hoje são verdade e a questionarmo-nos sobre o caminho que se tomou para a Globalização.
Por mais que tentemos argumentar, mostrando o que lemos para chegarmos determinadas conclusões, afirmar que encontramos a verdade ou que somos donos dela, seria irreal da minha parte.
O contributo do que vamos lendo, é uma realidade no objectivo de que quando nos pronunciamos determinado assunto possamos mais objectivos. A minha visão que passa, pela Volta ao Mundo tenta agora tentar complementar-se com a INTRODUÇÃO À HISTÒRIA DO NOSSO TEMPO de René Rémond e continuar a questionarmo-nos sobre o caminho que se tomou para a Globalização.
…“ O entendimento do presente a quem tudo ignora do passado. Só é possível ser contemporâneo do seu tempo conhecendo e tomando consciência das heranças, sejam elas consentidas ou contestadas. O objectivo deste livro é precisamente estudar o passado em função do presente – e mesmo futuro -, oferecendo uma síntese dos principais factos históricos dos últimos século e meio.
….As referências cronológicas acabam de ser expostas: delineemos o cenário geográfico. No último terço de século que assistiu à emancipação dos povos não seria possível existir outra história contemporânea que não fosse universal: de hoje em diante já nada justifica que nos limitemos à Europa (……) É – ou deveria ser – uma das virtudes principais da cultura histórica dilatar as nossas estreitezas e alargar a nossa experiencia, tornando-nos contemporâneos de outros tempos e cidadãos de outros povos.
Também só existe verdadeira história quando alargada às dimensões do Globo.”
INTRODUÇÃO À HISTÒRIA DO NOSSO TEMPO de René Rémond - Do Antigo Regime aos Nossos Dias – Revisão Cientifica de Jorge Miguel Pedreira, Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Textos das pag. 13,14 e contra capa.
Extractos do Obra publicados por. João Ramos Franco
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João Ramos Franco
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
A cultura em movimento
Não foi ao acaso que escolhi esta Obra da minha biblioteca, quando a li pela primeira vez era ainda estudante. Certas palavras nela escritas perduram ainda na minha mente.
O modo de vida e a cultura em cada país, no percurso da Volta ao Mundo de Vicente Blasco Ibanhez, dão-nos conhecer realidades que ainda hoje são verdade e a questionarmo-nos sobre o caminho que se tomou para a Globalização.
“- O quere que seja sobrenatural anima tudo quanto me rodeia, como se durante a noite se houvessem modificado os ritmos e valores da vida. O jardim fala-me, o que não é extraordinário. Também os móveis nos falam quando, em casas fechadas, estamos sós com eles, em momentos críticos da nossa existência. A’ força de contemplarmos as coisas inanimadas e os seres da vida rudimentar, acabamos por dar-lhes uma parte de nós, com os olhos e o pensamento. Depois. Quando as emoções nos fazem pequenos e carecemos de conselhos ou de amparo, esse mundo familiar e simultaneamente estranho devolve-nos duma assentada o que, dia a dia, lhe fomos dando. …………….
……….. “Devemos conhecer completamente a casa em que temos passado a vida, antes da morte nos pôr fora dela. Lembra-te de que, desde das primeiras leituras de rapaz, senti desejos de ver mundo e não quero retirar-me dele sem lhe haver conhecido a redondeza. Toma também em consideração a voluptuosidade do movimento, a embriagues da acção, a curiosidade ardente de ver por perto, com os nossos olhos, o que lemos nos livros. Talvez venha a sofrer grandes desilusões e o que fantasiei nas páginas impressas seja mais belo que a realidade. Contudo ficar-me-há sempre o prazer de ter levado uma vida boémia através do mundo. ……….””
A Volta Ao Mundo – Vicente Blasco Ibanhez – Tomo I capitula I No Jardim de Menton Pag. 1 e 9 – edição da Livraria Peninsular Editora 1931.
Extractos do Obra publicados por. João Ramos Franco
Publicada por
João Ramos Franco
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
O João Ramos Franco é o João (Traga Balas)
João Ramos Franco 1960
A necessidade de voltar atrás, ver aquilo foi escrito e o que escrevi é necessária… e esclarecer a personagem do João (Traga Balas) que vos poderá aparecer, também…
Retirado do DEPOIMENTO DE JOSÉ CARLOS NOGUEIRA
Publicado no Blog do ERO.
3º- De repente temos 16 anos, somos envolvidos pelo Elvis e pelo Rock and Roll, e descobrimos que nos portávamos tal e qual como a juventude no “Sementes de Violência”….Fumávamos às escondidas dos nossos Pais, mas em frente das miúdas. Primeiro queimámos a barba de milho, depois caímos directamente no mata-ratos, evoluindo daí para a droga mais pura ao nosso alcance: os Definitivos, cigarros estreitos e já feitos, que tinham o condão de mascarar a nossa falta de jeito para enrolar cigarros. Descobrimos os bailes, no Casino no Verão, os assaltos no Carnaval efectuados a casas respeitadas, como a da D.Maria da Graça ou a casa do Toni Vieira Pereira, ou organizados por nós na Esplanada do Parque, onde se assistiram a cenas Shakespearianas de amores não correspondidos que levavam o herói a tentar suicidar-se, fechando-se no frigorífico enorme que havia no café. Era resgatado no último minuto pelo 112 da altura que era uma garrafa de bagaço (convenhamos o homem estava hipotérmico). Nos próprios dias de Carnaval havia bailes no Casino, no Lisbonense e, para os mais esclarecidos, nos Bombeiros.
Moda que perdurou pelos anos 50 até meados dos anos 60. Esta geração, que chegou com tanta facilidade aos anos 60, foi a mesma que chegou a Angola, Moçambique, Guiné, Timor, tendo levado para essas longínquas paragens os usos e costumes do Burgo Caldense: jogo do ringue, bilhar, poker, lerpa, montinho, sete e meio, etc. Levaram também amor, expresso nas coladeras e rebentas, e amizade profunda pelos nativos, estabelecendo novas regras de comércio que depois se veio a tornar naquilo que agora chamamos globalização: tirava-se dos armazéns da tropa e vendia-se às gentes necessitadas.
A história talvez seja melhor ficar por aqui, penso que dei um contributo generoso dos hábitos da minha juventude lembrando heróis inesquecíveis, Jorge, Tó, Tony, Asdrúbal, Abílio, Hélder, o inefável Rainho, Tinico, Artur Capristano, o Varela, o Figueiredo, o João (Traga-Balas), o João conhecido pelo João Pifão, o Honório Vaca Mansa, Cipriano o Caseiro, Morais Grandalhão, os craques Moura e Cardoso, Rui Importante, Rui Cospe Cospe, o Gang (Pedro, Xico, Samagaio e Pereirinha), o Quintas, o Lacrau, o Macela (campeão de Xadrez), o Rui da Cristina e tantos outros que não andaram no Colégio, mas foram compagnons de route de todas as personagens desta história. Por vontade própria omito os nomes das nossas colegas heroínas, pois passam por mim todos os dias na rua.
Bem hajam e lembrem-se do velho grito:
É jacaré? Não é.
É tubarão? Também não.
Então o que é? RAMALHO ORTIGÃO
.
José Carlos Nogueira
João Ramos Franco disse:
Quem era o João (Traga Balas)
O José Carlos Nogueira colocando-me entre “heróis”e companheiros do ERO, deu-vos a nossa época de estudantes e os locais que mais frequentávamos.
Locais que frequentava, para além dos mencionados pelo JCN.
Tascas: A mercearia do Manuel, (junto ao Colégio, ainda no tempo do Dr. Perpétua), Adega da Ginjinha, A Viúva (Cova da Onça) e O Caseta (estrada de Tornada;
Bar do Casino: O Barbeiro do Casino (garrafas Brandy L34, lá escondidas antes dos bailes;
Desporto: Caça aos Pardais à noite, Tarzan da Quinta da Boneca, as corridas loucas de bicicleta no Parque e os “combates” de barco no Lago;
Quartel do Parque: exploração das instalações abandonadas e tomada do Paiol para nosso centro de divertimento (nem queiram saber o que isto deu);
Foz do Arelho: Acampamentos no Gronho (as galinhas das moradias desapareciam).
E há mais, deixem-me recordar.
Mas o João (Traga Balas) ainda tem algumas aventuras a contar-vos, até o porquê do Traga Balas. Aos “heróis” do JCN mas também aos que estudaram no ERO e na Escola Comercial e Industrial por agora fiquem esta citação (desse tempo ficámos com isto):
"Aprendes que as verdadeiras amizades continuam a crescer o que importa não é o que tens na vida mas quem tens na vida. E que bons amigos são a família que nos permitem escolher. Aprendes que não temos de mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos." William Shakespeare
Até breve, com uma aventura do Traga Balas
João Ramos Franco
A primeira história do João (Traga Balas)
Retirado do Os Locais do João Ramos Franco
Publicado no Blog do ERO
A Tasca/Mercearia do “Manuel”
A entrada para ERO -1953
Ao virar da esquina, vindo da rua do Café dos Capristanos, andando uns metros na Rua Capitão Filipe de Sousa, aí estava a Tasca do “Manuel”, ponto de referência para os rapazes que iam enfrentar o ERO no seu 1º ano de época de vida de estudante.
Nos 1º e 2º anos era espreitar e andar, se estivessem lá os mais velhos, que não nos deixavam entrar. Mas quando eles não estavam, entrávamos para comprar os rebuçados com os jogadores de bola. Eu tinha sorte, já me tinha saído uma bola quando andava na Escola da Praça do Peixe.
Nos primeiros anos éramos praxados pelos mais velhos. Eu gozava de uma certa protecção dos meus primos Calisto, Asdrúbal, Diamantino e Jorge, e do meu irmão Rui, a qual foi bastante útil para me salvar algumas praxes. Também tive ajuda dos Professores nesta primeira etapa.
Recordar todos os que entraram comigo é difícil mas aqui ficam alguns: João Calheiros, Samagaio, Adalberto, Edgar, João Gama, José Maria Sales, Pedro Albuquerque, José Saudade e Silva, os que faltam que me desculpem.
Já estava no 2º ano e, no Carnaval, nas escadas estreitas que ligavam o Pátio do Colégio à rua, era banho certo com a mangueira de água da Garagem Caldas. Ninguém escapava, pensámos nós, até vermos o Jorge Sales passar por cima da malta e aterrar com os pés no vidro da frente de um carro que vinha a passar. Ainda bem que este acidente não deu para o azar.
Muitas brincadeiras vi que me ficaram na memória. Talvez o saltar de guarda-chuva aberto (como se fosse pára-quedas) para o Pátio de cimento do recreio (2,5 /3m), e o frasco do ácido sulfídrico destapado (cheira a ovos podres) sejam as lembranças mais fortes. O cheiro do ácido era tão intenso que tiveram de mandar a malta toda para o recreio até o cheiro passar.
Passei no exame do 2º (em Leiria). Em Outubro e aí estava eu em mais uma etapa, o 3º Ano. Os mais velhos comemoravam a nossa entrada neste ciclo, dando-nos a regalia de poder acompanhar com eles. Significava vida mais aberta.
Para nós a Tasca do Manuel começava aqui, uma ginjinha ou um eduardinho e um cigarro era o baptismo de entrada no grupo dos mais velhos.
A partir de então era para lá que íamos quando tínhamos um intervalo mais prolongado, era o sítio onde combinávamos o que fazer depois das aulas.
Normalmente depois de beber e fumar o cigarrito, dizíamos para Manuel: “assenta aí, que depois pago”. E ele apontava na parede por debaixo do nome.
Um dia, antes de ir para férias, ouço um dos mais velhos pedir uma rodada para malta e depois dizer: “Manuel agora que vais estar sem nós, tens mais tempo, não te esqueças de caiar a parede”.
João Ramos Franco
(João Traga Balas)
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João Ramos Franco
Seis do ERO em Confraternização
Sentados: Luís (velho amigo de férias nas Caldas), Jorge Calisto e José Carlos Nogueira
De Pé: Tó Freitas, João Ramos Franco, José Lalanda e Fernando Figueiredo
A vida continua e nós unidos pela amizade fraterna que começou nos bancos da Escola. Muito gostaríamos de vos poder mostrar todos os de 1962 nesta fotografia, mas sabemos que isso não é possível, alguns já só estão presentes na nossa memória. Esquecia-me há mais um "personagem" das Caldas, o bolo...
João Ramos Franco
Publicada por
João Ramos Franco
domingo, 25 de janeiro de 2009
Aventuras e desventuras de estudantes do ERO
De S. Pedro de Muel ás Caldas da Rainha
Isabel X deixou um novo comentário na sua mensagem "PERSONALIDADES (1)":
Espero que o João Ramos Franco conte as peripécias desses dois
dias no seu blog! É um desafio...
- Entrei para os Escuteiros quando estava no 1º ano do ERO.
- Manhã, portão para a Mata por trás da Igreja de Nossa Senhora Populo, estavam presentes os meus Pais, o Padre António Emílio. O Dr. Calheiros Viegas e a Papi (minha madrinha neste acto) e um grupo de Escuteiros, depois meia dúzia de palavras que tinha de dizer e que faziam parte do “ritual” lá passei a pertencer ao agrupamento. Desde já vos digo que no lenço em volta do pescoço só tive um nó, cada nó a mais era de bom comportamento e nunca contribui para tal.
- Verão de 1959, o Dr. Calheiros Viegas (muito satisfeito) comunica que nos seus contactos com os Eclaireurs de France, tinha conseguido que o nosso agrupamento de Escuteiros participasse num acampamento comum, de 6 dias, em S. Pedro de Muel. O nosso encontro estava marcado para o Parque das Caldas e depois seguíamos juntos para o destino.
Estava tudo a correr bem até à chegada dos Eclaireurs de France.
Do autocarro que os trazia pára frente ao Portão do Parque junto ao Casino, nós bem alinhados para os receber, começam a sair, e qual o nosso espanto, não eram eles, eram elas!...
- O acampamento iria ser muito melhor, mas o Código dos Escuteiros junto com a Religião e Moral, estavam em queda livre…
- Apesar da pancada na cabeça que os menos liberais tinham levado conseguimos comportar-nos como vem nos manuais e receber os amigos/as Franceses/as, apesar de nos terem cumprimentado naturalmente com um beijo, o qual não estávamos habituados… (já me esquecia, havia quatro homens que chefiavam o grupo)
- Os cumprimentos da “praxe” terminados e entrámos para o nosso autocarro, rumo a S. Pedro Muel.
- Acampamento montado, os dias iam decorrendo normalmente, eu, o Zé Maria Sales Henriques, o José Saudade e Silva e o Edgar, com atenção aos olhares e reacções das miúdas para com cada um de nós, íamos vendo se havia a possibilidade de um “flirt” …
- E não é que aconteceu mesmo… Durante o dia, era como se nada se passa-se entre nós e elas, não era bem por causa do Dr. Calheiros Viegas (ele fingia que não via), mas os chefes de grupo delas imponham-lhes a disciplina do manual dos Escuteiros com a Religião e Moral agarrada e qualquer “pé em ramo verde era um perigo”. Esperávamos pela noite, e após as canções em torno da fogueira e outros divertimentos em comum, os nossos corações saltavam e vagueavam pelo amor que só a juventude vê e percebe…
- Na última noite de acampamento, a separação ia criar feridas, (aquelas que os nossos amores de jovens deixam), naquele passeio final após o recolher, fomos até á praia, chorar as nossas mágoas de despedida…
- No regresso, madrugada alta, dá-se o descuido que levou a não regressarmos com o Dr. Calheiros Viegas, um pontapé na espia de uma barraca provoca o acordar do acampamento, a confusão instala-se e nós não tivemos outro recurso, senão fugirmos para não pôr em causa o bom nome das nossas amadas…
- Manhã seguinte não aparecemos, estávamos a “esquecer” o desgosto numa tasca da praia, quando reparámos nas horas, era tarde e o autocarro já tinha partido para Caldas.
- Nesse dia ainda conseguimos chegar á Nazaré, mas como não tínhamos dinheiro para a camioneta, esperámos junto ao posto da Policia de Viação, e de manhã lá conseguimos boleia numa camioneta levava peixe para as Caldas.
João Ramos Franco
Isabel X deixou um novo comentário na sua mensagem "PERSONALIDADES (1)":
Espero que o João Ramos Franco conte as peripécias desses dois
dias no seu blog! É um desafio...
- Entrei para os Escuteiros quando estava no 1º ano do ERO.
- Manhã, portão para a Mata por trás da Igreja de Nossa Senhora Populo, estavam presentes os meus Pais, o Padre António Emílio. O Dr. Calheiros Viegas e a Papi (minha madrinha neste acto) e um grupo de Escuteiros, depois meia dúzia de palavras que tinha de dizer e que faziam parte do “ritual” lá passei a pertencer ao agrupamento. Desde já vos digo que no lenço em volta do pescoço só tive um nó, cada nó a mais era de bom comportamento e nunca contribui para tal.
- Verão de 1959, o Dr. Calheiros Viegas (muito satisfeito) comunica que nos seus contactos com os Eclaireurs de France, tinha conseguido que o nosso agrupamento de Escuteiros participasse num acampamento comum, de 6 dias, em S. Pedro de Muel. O nosso encontro estava marcado para o Parque das Caldas e depois seguíamos juntos para o destino.
Estava tudo a correr bem até à chegada dos Eclaireurs de France.
Do autocarro que os trazia pára frente ao Portão do Parque junto ao Casino, nós bem alinhados para os receber, começam a sair, e qual o nosso espanto, não eram eles, eram elas!...
- O acampamento iria ser muito melhor, mas o Código dos Escuteiros junto com a Religião e Moral, estavam em queda livre…
- Apesar da pancada na cabeça que os menos liberais tinham levado conseguimos comportar-nos como vem nos manuais e receber os amigos/as Franceses/as, apesar de nos terem cumprimentado naturalmente com um beijo, o qual não estávamos habituados… (já me esquecia, havia quatro homens que chefiavam o grupo)
- Os cumprimentos da “praxe” terminados e entrámos para o nosso autocarro, rumo a S. Pedro Muel.
- Acampamento montado, os dias iam decorrendo normalmente, eu, o Zé Maria Sales Henriques, o José Saudade e Silva e o Edgar, com atenção aos olhares e reacções das miúdas para com cada um de nós, íamos vendo se havia a possibilidade de um “flirt” …
- E não é que aconteceu mesmo… Durante o dia, era como se nada se passa-se entre nós e elas, não era bem por causa do Dr. Calheiros Viegas (ele fingia que não via), mas os chefes de grupo delas imponham-lhes a disciplina do manual dos Escuteiros com a Religião e Moral agarrada e qualquer “pé em ramo verde era um perigo”. Esperávamos pela noite, e após as canções em torno da fogueira e outros divertimentos em comum, os nossos corações saltavam e vagueavam pelo amor que só a juventude vê e percebe…
- Na última noite de acampamento, a separação ia criar feridas, (aquelas que os nossos amores de jovens deixam), naquele passeio final após o recolher, fomos até á praia, chorar as nossas mágoas de despedida…
- No regresso, madrugada alta, dá-se o descuido que levou a não regressarmos com o Dr. Calheiros Viegas, um pontapé na espia de uma barraca provoca o acordar do acampamento, a confusão instala-se e nós não tivemos outro recurso, senão fugirmos para não pôr em causa o bom nome das nossas amadas…
- Manhã seguinte não aparecemos, estávamos a “esquecer” o desgosto numa tasca da praia, quando reparámos nas horas, era tarde e o autocarro já tinha partido para Caldas.
- Nesse dia ainda conseguimos chegar á Nazaré, mas como não tínhamos dinheiro para a camioneta, esperámos junto ao posto da Policia de Viação, e de manhã lá conseguimos boleia numa camioneta levava peixe para as Caldas.
João Ramos Franco
Publicada por
João Ramos Franco
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
um amigo que partilhou o seu saber comigo
Víctor Palla, um amigo que partilhou o seu saber comigo.
Levantava-se cedo, sempre com a sua máquina fotográfica ao tiracolo, ia até ao do café do Jardim da Estrela e ali aguardava que eu e Luiz Pacheco aparecêssemos.
Entre nós a amena cavaqueira era fértil, não havia tema certo, variava pela mente cada um e passava uma mente colectiva.
Dos três eu (o mais novo) e o único com preocupação de horário de trabalho, pedia para nos encontrar-mos a uma determinada hora ou aos fins-de-semana, eles aceitavam e lá apareciam como era combinado.
Nesta época eu era responsável pela Secção de Xadrez da Associação Potugal-URSS, todas manifestações culturais dos países que a formavam passavam por lá, com facilidade encontrava o Víctor Palla a visitá-las, e nele encontrei também o repórter fotográfico dessa faceta da minha vida.
Arquivo dos meus recortes de Jornais. De pagina do JN (sem data) Cabeçalho: EXPOSIÇÕES – Perfil, Titulo: Curriculum Victor
a entrevista é de Inês Pedrosa
Victor Palla chega à entrevista sem bigode de muitos anos. Percorre as folhas onde os visitantes vêm deixando comentários, e guardando-as para as levar: «Faço isto todos os dias…» Traz um curriculum vitae extenso e variado – arquitecto, pintor, grafista, fotógrafo, prosador, galerista – enfim, o que coube nos 62 anos do seu activo (ou talvez 60: descontem-se os meses em que passivamente – mais berro menos berro deixou que o alimentassem e lhe mudassem as fraldas) … ... o texto da entrevista e imagens da obra de Victor Palla ocupam a totalidade da página
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João Ramos Franco
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Um estado de pensar pós-guerra
Desfile em Portalegre-Partida para a Ultramar 1964
O Retorno a Caldas da Rainha
Um estado de pensar pós-guerra
1967 – Férias em Tornada, em casa do José Maria Sales Henriques
- Na minha estante tenho livros, na minha mente recordações!...
- A caneta e a tinta são livres e recordar será não negar a nossa geração.
- È verdade que tenho sido um louco!...
- Esqueço-me todos os dias dos amigos, de mim e de que nas recordações há histórias de gente.
- Sentir a dor do amigo é pior que nada sentir!...
- Em 1967, de retorno às Caldas, já á noite no Ferro Velho fui chamado de (Mercenário pelo Luiz Pacheco e Assassino pelo Ferreira da Silva), porque tinha feito a guerra em Angola, hoje recordo os amigos que me o chamaram, e a vida acabou por devolver-me o meu nome.
- Por momentos o tempo recuou e senti-me quase que preso ao passado.
- Bastante calculista, enfrento a realidade e procuro a resolução de modo que nada fique alterado.
- Cómodo?...
- Reduzir o tempo a nada como se tudo fosse criação da minha mente e por consequência ilusão.
- Sentir que nada está mal no mundo, que o amor existe e ser inconsequente!
- Procuro encontrar explicação para a frivolidade com que enfrento tudo na vida.
- Critico-me!...
- Sinto que necessito de amor, mas acho que isso não seja tão importante para a vida que não possa passar sem ele.
- Nascimento, guerra, mulheres, filho, tudo parece não ser mais que vida, e o tempo que vivi o somatório de experiências!
- Interrogo-me e tento encontrar na experiência vivida algo a retractar o amor, os pensamentos tornam-se sem sentido, como se esse sentimento nunca tivesse estado presente.
- Todo este modo de sentir me revolta e a crueldade como penso dói-me...
A solidão ultrapassa-me, e tudo o que é parte respeitante à minha coexistência sinto que começa a ficar amorfo.
- A certeza de contribuir para a vida estável da sociedade que me envolve é uma questão de que por vezes duvido.
- Basicamente sei quais são os erros, tenho consciência deles, tento corrigi-los, e não vê-los como indivíduo isolado da sociedade.
- A tentativa de retirar do passado as experiências vividas, utilizá-las como arquivo e com elas modificar o modo de actuar no futuro é uma solução.
- Sei que este método de correcção devido aos estados psíquicos é bastante vulnerável, mas no encontrar uma de solução em que o incógnito do futuro é uma realidade, será talvez o modo menos falível de actuar.
- Ver o presente com a mente no futuro dá-nos muitas vezes a sensação de estar fora da sociedade em que vivemos e situarmo-nos como puros observadores do dia a dia sem dele fazermos parte.
- Toda esta teoria só pode ser válida quando nos retratámos e assumimos os nossos erros.
- Será que os humanos conseguem viver sem o “ódio”?
- Puramente idealista!...
- O filósofo é parvo?...
- Sentado à mesa da pastelaria, onde já há semanas comecei a escrever estas,
linhas, peço mais uma bica, e penso se devo ou não dar forma a este estado de espirito.
- Mas o querer estar ou não perante os factos que me são presentes é um querer ou não concretiza-los na mente, e o dizer que tudo o que se passa não é mais que pura criação do pensamento é o afirmar de que a sociedade é de tal modo materialista que o comportamento humano está afectado nos seus valores.
- A fala, que se entende como expressão do pensamento, é utilizada não como tal, mas como a nosso prazer, tornamo-la método de distorção da realidade.
- O sentir-se despercebido na sociedade e não na mentalidade das pessoas queria uma certa independência para enfrentá-la.
- Certas palavras a que pareço indiferente, mais tarde chamam-me à realidade!...
-Será ridículo negar que as “Almas Mortas” de Gogol me fazem sorrir?...
- O pensamento é uma realidade da qual só me apercebo quando o acto de pensar sai de mim e se torna parte influente na sociedade.
-Será que algo pode mudar todo este modo de pensar?...
-Sei que sim!..
-Simples, a realidade é o quotidiano do ser, necessariamente não é obrigatório alterar os valores do comportamento, apenas actualizá-los.
-E pensar actual, será que me diz alguma coisa!?...
-Um momento de reflexão e os valores da Universalidade do pensamento prevalecem inatingíveis.
-A todos os amigos e em especial para os Antigos alunos do ERO (fui estudante até à partida)
João Ramos Franco
Publicada por
João Ramos Franco
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Porquê da Autobiografia
Pelo Berço passa aquilo que sou, do que vou contar no Blog, as raízes são importantes, o que fiz na vida e por onde passei fazem parte da minha autobiografia.
Pretendo que os leitores do Blog, me conheçam antes de vos contar memorias, e melhor compreendam o ESTAR PRESENTE - Passado Presente e Futuro. Sei que será para vós fastidioso e até sem interesse imediato, a estrutura descritiva que vou impor no principio do Blog,
mas há certezas que tenho: não sou figura pública e mesmo os meus amigos só conhecem parte de mim.
Não escolhi por acaso a “Tabacaria” de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos, encontro no poema algo do que vos quero transmitir, talvez por as palavras dele me faça compreeder.
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Pretendo que os leitores do Blog, me conheçam antes de vos contar memorias, e melhor compreendam o ESTAR PRESENTE - Passado Presente e Futuro. Sei que será para vós fastidioso e até sem interesse imediato, a estrutura descritiva que vou impor no principio do Blog,
mas há certezas que tenho: não sou figura pública e mesmo os meus amigos só conhecem parte de mim.
Não escolhi por acaso a “Tabacaria” de Fernando Pessoa/Álvaro de Campos, encontro no poema algo do que vos quero transmitir, talvez por as palavras dele me faça compreeder.
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Publicada por
João Ramos Franco
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Os amigos da Escola (ERO)
Na escola é onde começamos a aprender a ter a noção do companheirismo/amizade, é aqui que ele nasce da espontaneidade da juventude. Começa-se uma etapa da vida, que nos dá e aponta o conhecimento, como um rumo a seguir.
JANTAR DE ALUNOS DO ERO EM 1962
RESTAURANTE "CABANA" , S.MARTINHO DO PORTO EM 1962
.
1ª Fila sentados da esquerda para a direita:1ºJoão Ramos Franco, 2ºArtur Capristano, 3ºVasco Cunha(futuro cunhado do Artur) 4ºTó Freitas 5º Caldas Lopes 6º Carlos José Marques Henriques(CáZé), 7º Dr. Gama Rose, 8ºDr Luís Rosa Bruno 9º Dr. Fernando Fontinha, em frente o 10ºJoão Gama Lourenço 11ºAlvaro Duarte, 12ºAntónio Filipe Caetano Ferreira, 13ºJosé Augusto S. Silva, 14ºJoaquim Del Rio Nazareth, 15º João Calheiros Viegas;
1ª FILA EM PÉ:1º João Fialho, 2º Luís Manuel Saudade e Silva, 3º José Júlio (cunhado do Tony), 4ºRui Américo (cospe cospe), 5º Francisco Azevedo e Castro, 6º Néné, 7º Faustino Cunha, 8ºJoão Ribeiro Coelho (Bertolino), 9º Fernando Rainho(inclinado) 10º Adérito Amora, 11ºTó Marques, 12ºJosé Manuel Faria Saudade e Silva, 13ºJorge Calisto, 14º Fernando Figueiredo, 15º Asdrúbal Calisto, 16º Tony ( Vieira Pereira), 17º José Carlos Nogueira, 18º João César Gomes, 19 João Montez Varela;
2ª FILA EM PÉ:1º João José Veiga, 2ºAdalberto Capitaz Caldeira;
3ª FILA EM PÉ:1º João (Janica) Capristano, 2º António Ventura 3º Pedro Albuquerque.
Publicada por
João Ramos Franco
O meu Pai e eu
Texto da minha entrevista dada ao João Serra, sobre a Historia do Almanaque Caldense, quando da sua publicação no Blog dos Antigos Alunos ERRO.
- Quem era, nessa altura, o João Ramos Franco? Que idade tinha? Qual a sua ocupação?
….o meu modo de pensar não teria sentido se eu não andar para trás no tempo e não contar o meu contacto com a realidade rural do Concelho das Caldas. Meu pai era médico veterinário municipal, com ele acompanhei desde muito novo e aprendi a ver o mundo rural do nosso concelho, com pobres, remediados e ricos, que o compunham e sua vida.
O meu professor neste contacto com esta realidade social foi ele, com o seu carácter humano e o seu saber. (aliviei, devo muito do que sou e como sou a ele).
- Quem subsidiou a edição?
-O Dr. Manuel Ramos Franco, meu pai, que depois ter sentido tanta inconstância da minha parte, ao mostrar-lhe o que já estava escrito do almanaque, me comprou uma máquina de escrever e foi fiador na tipografia do Rimaiorense. Esta parte tem dados pessoais que depois conversamos
- Houve reacções? Lembras-te de alguma em particular?
….A particular mais marcante é a reacção do comandante da Policia e representante da PIDE, que não gostou como no conto “A Praça” eu retratei a pobreza e o sofrimento do povo que naquela praça vendiam, a minha ida ao gabinete dele para corrigir o conto (o que me neguei a fazer) e os telefonemas para minha casa foram tantos que só terminei o assunto dizendo-lhe: O senhor não me volta a telefonar, se quiser falar comigo manda-me uma contra-fé ou prende-me.
Meu pai estava perto quando disse isto, vi-lhe um sorriso na face.
. Depois de vires da tropa (quando?) ainda regressaste às Caldas? Ou ficaste logo em Lisboa? E nunca mais te interessaste pela vida intelectual caldense?
Uma parte que dói da minha vida. Meu pai faleceu a 12 de Março de 1967 e eu regresso do ultramar a 7 de Maio do mesmo ano.
Meu irmão, já a trabalhar na TAP, aluga uma moradia na Encarnação (Lisboa) e traz a minha mãe com ele. Entrega a casa das Caldas, era o 1º andar do prédio onde viviam os pais do João Jales.
Ninguém sabia da data minha de chegada, só quando o Vera Cruz encostou é que telefonei à minha tia Sílvia (irmã de minha mãe) que vivia em Lisboa, disse que estava cá e pedi para me irem buscar ao Cais da Rocha do Conde Óbidos.
Foi nessa altura que sob que a minha morada tinha passado para Lisboa, o meu irmão foi me buscar e fiquei residir com ele e com a minha mãe.
A guerra é uma madrasta má, no momento eu estava sob o efeito dela e da falta do meu Pai, tudo agravava ainda mais a confusão que se passava no cérbero. Precisava de parar o pensamento e sentir debaixo dos meus pés a realidade da minha vida.
Publicada por
João Ramos Franco
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Eu e Luiz Pacheco
As minhas memórias passaram por aqui e em cada uma que vou partilhar, tentarei deixar imagens que vos recordem algo. Um estudo de uma Capa para uma colectânea da obra Luiz Pacheco à época (1980).
Publicada por
João Ramos Franco
domingo, 18 de janeiro de 2009
A realidade actual, questiona-nos.
Será que ela é tão cruel como nos diz o Filosofo?
..."É Triste Não Ter Amigos?
Ainda Mais Triste é Não Ter Inimigos,
Porque, Quem Não Tem Inimigos,
É Sinal De Que Não Tem:
Nem Talento Que Faça Sombra,
Nem Carácter Que Impressione,
Nem Coragem Para Que o Temam
Nem Honra Contra Qual Murmurem,
Nem Bens Que Lhe Cobicem,
Nem Coisa Alguma Que Invejem..."
(Voltaire)
Publicada por
João Ramos Franco
sábado, 17 de janeiro de 2009
Pincipio
Amizade
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade
que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido
todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os
meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer
o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão
incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não
declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de
como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu
equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto
pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida
ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma
lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que
são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os."
(Vinícius de Moraes)*
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade
que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido
todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os
meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer
o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão
incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não
declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de
como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu
equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto
pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida
ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma
lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que
são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os."
(Vinícius de Moraes)*
Publicada por
João Ramos Franco
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