A minha foto
Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Eu Luiz Pacheco e Fernando Saldanha da Gama














O Saldanha da Gama que nos aparece no Grupo do Café Gelo faz a sua emigração natural para o Café Monte Carlo tal como o resto do grupo.

Sendo um dos jovens do grupo e necessitado de emprego, consegue, lugar nas Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, tendo sido colocado na zona do Montijo como responsável da mesma.
A sua existência como intelectual passa, por menções no Site da Gulbenkian não mostrando no entanto algo da sua obra.
O que sei, foi me contado pelo Luiz Pacheco, o Saldanha nunca passou de um experimental, perdido entre a pintura, a poesia e a prosa, não nos deixando uma obra completa, numa destas áreas.
Do que escreveu, tenho no meu arquivo este recorte de jornal que vos mostro.

O Luiz Pacheco tinha-nos dito que tinha desaparecido o Álvaro Santos, (mais conhecido por Cabeça de Vaca). Eu e o Saldanha da Gama procuramos, descobrimos e escrevemos sobre ele.

Fernando Saldanha da Gama, neste artigo, retrata um cidadão do mundo, “lisboeta”, que vagueia por entre os intelectuais.

Eu escrevo uma pequena rábula ao assunto:

Na recepção do Hotel do Duque gera-se confusão!...
Telefone, cartas, pessoas… O Sr. Álvaro Santos, está?
“O Saldanha da Gama, reaparece, o que muito nos apraz, faz a “crónica” e os manos gostam da lição de “Savoir Vivre” que ele nos mostra.”
- O Sr. Álvaro Santos está? Insisto eu.
- Está mas não atende.
A realidade salta-nos à vista, o Álvaro pensa, não gosta da multidão, fecha-se, não a quer, não lhe interessa, ele é só…

O Saldanha tenta abrir a concha, o Pacheco também tentou e eu tento e tal como eles deparo com o inesperado…

- O Álvaro é o Álvaro.
O real e o metafísico encontram-se, nós só sabemos o que ele faz…
- E o que pensa?
- Será esse o seu elixir? …

João Ramos Franco

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Antonio Machín








Em 1958/59 a musica nos bailes era esta…

O João Ramos Franco no ERO “Prédio do Crespo”


















Foi nos dois primeiros andares do “prédio do Crespo”, situado no nº 91 da R. Capitão Filipe de Sousa, no ano de1953/54 que começou a minha vida como estudante liceal. As aulas eram mistas (rapazes e raparigas).

Os Professores eram: Dr. Manuel Perpétua – Director (Português e História), Dr. Azevedo (Matemática, Geografia, Físico-Química e Ciências Naturais), Dra. Lídia Gomes (Ciências Naturais), Maestro Carlos Silva (Canto Coral), Escultor Macário Dinis (Desenho), Dra. Irene Trunninger Albuquerque (Francês, Inglês e Alemão), Dra. Lúcia (Francês), Padre Teodoro (Religião e Moral), Dr. Umbelino Torres (Latim) Dra. Alice Freitas (Português e Francês), Dra. Elvira Bento Monteiro (Grego), Dra. Deolinda (Histórico-Filosóficas), Dr.ª Margarida (Matemática) Capitão Hipólito (Ginástica), D. Dora (Lavores). Na secretaria estava a Dº Eulália e os contínuos eram o Sr. Madeira e a Sra. Albertina.

Falar destes professores é difícil devido ao ambiente existente. A Dra. Irene Trunninger Albuquerque, Maestro Carlos Silva (Canto Coral) e o Escultor Macário Dinis (Desenho) aproximavam-se mais de nós e tentavam compreender o nosso pensar de jovens. Mas todos restantes ou tinham atitudes agressivas (obrigando a aprender com medo) ou desligavam-se de nós após as aulas (faltando acompanhamento para nos tirarem dúvidas). Nas aulas havia uma distância Professor/Aluno, que dificultava o bem estar e o aprender, excepto com os três já citados .

Isto tornava a camaradagem entre alunos bastante mais forte, permitindo, no dia a dia, saber a disposição com que os Profs. estavam e o modo de nos comportarmos com eles.

O contínuo, o Sr. Madeira, merecia uma estátua, aturava-nos tudo, desde o mal estar provocado pelos Profs. às partidas que lhe pregávamos, as brincadeiras dos intervalos das aulas e até ser chamado ao Director (Dr. Perpétua) pelo que nós fazíamos sem nos acusar. Era um bom amigo.

O Recreio era no pátio do 1º andar (quando não chovia, quando chovia era na varanda do 2º andar), separado por uma corrente, metade para os rapazes e a outra para as raparigas, onde os divertimentos eram limitados pelo espaço (os jogos de bola eram proibidos, por que se podia partir os vidros das salas de aula) e também pela disciplina, qualquer aproximação à corrente para falar com uma colega era punida com suspensão.A convivência com as raparigas era na Zaira, no Jardim e no Casino, com as restrições que a época nos impunha.

O ambiente era tal dentro destas instalações do Colégio (ERO) nesta época, que levava a que nos reuníssemos na Tasca do Manuel (de já falei nos locais João Ramos Franco - “João Traga Balas”) ou atrás da Igreja para jogar à Bola.

João Ramos Franco

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009















Tom Jobim e Vinicius de Moraes


A Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata, ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos de minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor...
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

"Eran Tres"








Pablo Casals, Pablo Neruda e Pablo Picaso



sábado, 21 de fevereiro de 2009

Eu o Luiz Pacheco e Natália Correia



















MENINA E MADONA E MAFIOSA

Sabia que era dia de inauguração da Feira do Livro, tinha combinado com Luiz Pacheco encontrarmo-nos, mas o meu quotidiano de trabalho não previa alterações, quando o continuo me anuncia:
- Sr. Franco, está á porta um senhor para lhe falar…
Dirijo-me ao hall de entrada e deparo-me com Luiz, que pretendia urgentemente falar comigo. Dei-lhe o braço e disse:
- Vamos ali á Herculano (café/pastelaria), tomar um “copo” e conversar.
- O Pacheco mostra-me este texto (capa e 5 páginas dactilografadas) e diz-me: Preciso de 50 fotocópias para passar hoje na Feira. A vinte paus, mais ou menos, já dá uns tostões para a bucha…
- Não há problema, digo eu. Depois das cinco e meia faço isto, agora puseram cá uma fotocopiadora que separa e agrafa, é num instante que despacha isto. Vou ter contigo á hora combinada e levo o material.
- Bebemos mais uma cervejola e ala que se faz tarde…
- Tinha o meu trabalho para fazer, mais este e um resto de dia que prometia ser longo…
As razões que levaram o Luiz Pacheco a distribuir este texto sobre Natália Correia, contarei, e será o Luiz Pacheco versus Natália Correia…
João Ramos Franco

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Manhã de Carnaval canta Nara Leão

CARNAVAL DE VENECIA II



Carnaval de Veneza













O Carnaval de Veneza é uma festa feita pelas pessoas e para as pessoas. É o apogeu da iniciativa e da liberdade individuais, de cada um se mascarar em função da sua fantasia ou desejo de encarnar uma personagem ou uma identidade completamente diferente daquela que tem de assumir ao longo do resto do ano.

Neste sentido, o Carnaval de Veneza oferece a todos a possibilidade de se realizarem, nem que seja só por uns dias, sublimando todos os recalcamentos e fortalecendo o seu próprio ego, pela interacção com os outros mascarados e com todos aqueles que procuram fotografar ou fotografar-se ao lado das máscaras mais bonitas.

O grande trunfo do mascarado está no seu completo anonimato. Em muitos casos, até é difícil dizer se é homem ou mulher.
De: http://www.luisnog.com/gallery_4/gallery_4.html

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Almanaque Caldense de 1963














O Almanaque Caldense de 1963 (quando ainda estudante do ERO) é primeira Publicação em que apareço como escritor, tendo como colaborador o jornalista Fernando Alberto Pimentel.
Escrevi alguns contos e artigos que se encontram dispersos por: a Gazeta das Caldas, O Riomaiorense, o Diário de Lisboa e o Diário Popular.
Mostro-vos, retirando do Blog do ERO (Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão), o que ali publicaram e um conto escrito por mim no Almanaque, com o prefácio Prof. Dr. João Bonifácio Serra.
Agradeço aos colegas do BLog do ERO este recordar.

Em 1963, um conto de João Ramos Franco no Almanaque Caldense
por João Serra
1963 foi o ano do telefone vermelho ligado entre Washington e Moscovo, das lutas dos negros norte-americanos contra a descriminação racial e do assassinato do Presidente, John Kennedy, de 46 anos, em Dallas. O Papa João XXIII morreu em Junho, sucedendo-lhe Paulo VI. No ano anterior, tinha-se inciado a guerra de guerrilha em Angola. Agora era a vez da Guiné. Salazar estava no poder há 35 anos e Portugal em regime sem liberdades há 37. O cinema novo fez a sua aparição nos cinemas portugueses com o filme “Verdes Anos” de Paulo Rocha, enquanto Hitchcock terminava “Os Pássaros”, Losey “O Criado” e Jerry Lewis “As Noites Loucas do Dr. Jerryl”. Bob Dylan editou “The Freewheelin”, os Beatles tornam-se definitivamente referencias mundiais, enquanto os Rolling Stones davam início à sua carreira. João Ramos Franco, 18 anos, caldense, aluno do Externato Ramalho Ortigão, está numa encruzilhada. Falhara dois anos antes o 5º ano de Ciências e tentava agora fazer o 7º de Direito, enquanto repetia o que ficara para trás. Parava pelos cafés, o Central e o Bocage. Conheceu Fernando Alberto Pimentel, guarda-livros da ROL, que o convidou para fazer uma publicação sobre as Caldas. Mais velho 20 anos, Fernando era neto do escritor Alberto Pimentel, escrevera em jornais e colaborava com a “Gazeta das Caldas”. O modelo de publicação que adoptam é o dos Almanaques, onde se somavam informações úteis sobre uma localidade ou um assunto a artigos sobre temas históricos e literários.













O “Almanaque Caldense” é uma obra de 1963. Contém textos sobre organizações caldenses (Os Pimpões, o CCC – Conjunto Cénico Caldense – por exemplo) entrevistas com dirigentes locais e textos literários.













Um deles, que hoje aqui se republica, é da autoria de João Ramos Franco e intitula-se “A Praça”. Trata-se de uma narrativa escrita na primeira pessoa. O autor observa um dia de Inverno da praça caldense a partir de um ponto de observação, o café Bocage. A praça é um microcosmo da sociedade e da economia locais que João procura retratar a partir da presença/ausência de vendedores provenientes da zona rural. O retrato que nos deixa é desolador, como o dia, carregado em tons cinzentos que se comunicam também aos personagens de um mundo triste e conformado.
J. Serra


A PRAÇA
por João Ramos Franco
Dia de Inverno, escuro e triste. Eu, como de costume, sentado numa mesa do Café Bocage, penso que deveria estudar, mas fico olhando aquela praça enorme, triste, com o chão coberto por restos de mercado, que a esta hora já não existe e que espera a chegada dos empregados da câmara para que a limpem.
Aqui e além os pombos pousam sobre esses restos como para provarem a bondade dos homens…
A chuva cai, agora quase que de propósito, como se pensasse que era necessária para acabar de limpar o que os empregados deixaram…
Coitados os pombos ficaram quase sem comida, ela bem podia ter esperado mais um bocado.
Tudo é triste nestes dias, é como se ela perdesse a vida mais cedo. Aquela praça que tem alguma coisa de humano está vazia, só, sem a simplicidade daqueles homens e mulheres que, logo pela manhã e às vezes ainda de noite, a pisam, talvez com sacrifício, porque mais tarde não têm as suas coisas vendidas, mas eles enchem-na todos os dias, chova ou não chova, tendo sempre as mesmas características, as mesmas vestes, homens e mulheres pobremente vestidos, de barrete ou lenço na cabeça, com o respectivo cesto na frente, tentando vender aquilo que debaixo de chuva e frio arrancaram à sua própria terra. Parou de chover, a praça começa agora a ser percorrida por seres que a pisam indiferentes. Seres que, com certeza, não sentem que nela existe parte da vida de outros iguais a eles.

Ergo os olhos daquele chão marcado por quadrados de basalto e calcário e olho agora as paredes das casas que envolvem a praça. Paredes com letreiros, anunciando outro modo de viver dos homens. Paredes limpas de letras mostrando a existência de casas de habitação. E as paredes fendidas por ruas, que fazem lembrar as guelras de um peixe, apenas porque por muita água que entre nelas, só um volume é de oxigénio.
Reparo para o relógio, são 6 horas da tarde, a noite aproxima-se mais escura e triste que o dia e sobre a praça, quase morta, apenas há as sombras das pessoas que a atravessam em direcção a casa ou aos cafés onde começa agora a pairar um ambiente pesado.
O tempo passa rapidamente e o ambiente do café é quase insuportável. Ergo-me da cadeira que ocupei durante toda a tarde e dirijo-me para a porta, onde fico olhando a praça mais uns segundos, e digo para comigo:
- Até já…
Acabei de jantar. Desço os três lances de escada da minha casa e abro a porta. O frio fustiga-me a cara e obriga-me a encolher ainda mais dentro da samarra como que tentando fugir a ele.
Percorro agora as ruas vazias olhando as paredes das casas, marcadas por recortes de luz e pensando que para lá daquelas paredes existe a vida familiar… Uma vida que deveria ser pura e bela…
Entro no café absolutamente abstracto, sento-me e olho a praça através do vidro embaciado por a respiração, ela está envolta por uma neblina que não a deixa ver.
- Sr. João deseja alguma coisa?
As palavras do empregado tiram-me da abstracção em que me encontro.
- Sim, traga-me uma bica e um brandy.
Abro o livro de Física, quase automaticamente e concentro a atenção sobre um capítulo que já li imensas vezes. Perco por completo a noção do tempo e de tudo o que se encontra à minha volta…
Oiço o relógio da Câmara dar duas badaladas. Levanto a vista do livro para a sala. As cadeiras do café sobre as mesas marcam a hora de fechar.
Chamo o empregado.
- Quanto devo?
- São 4$50, Sr. João.
Pago e saio.
Caminho agora lentamente sobre a praça iluminada pela luz ténue dos candeeiros que, por entre o nevoeiro, deixa ver apenas as sombras verticais de prédios que mais parecem sentinelas perpétuas de tudo o que aqui se passa.
E, com passos largos e pesados, olhando em volta como que tentando encontrar alguma coisa sobre a praça naquela noite fria e com nevoeiro, continuo a caminhar sobre ela… O silêncio cortante que só existe em noites como esta é interrompido. O ruído, talvez de uma carroça, aproxima-se lentamente da praça. Olho o relógio, são 3h 15. Distingo agora, no meio do nevoeiro, a sombra de um homem que desce de uma carroça encostada à praça e vejo-o começar a descarregar cestos e colocando-os sobre os quadrados pretos e brancos do chão…
Fixo quase com fervor aquela imagem, como não querendo esquecer o sacrifício daquela gente e caminho em direcção a casa.

João Ramos Franco














As imagens antigas das Caldas que utilizo estão em Caldas da Rainha em postais ilustrados

Comentário Final

O Almanaque não nasceu só pelo desafio só pelo desafio e a proposta do Fernando Alberto Pimentel, para mim não era suficiente estar consciente da cultura que eu pensava ter, nunca tinha sido posta à prova e precisava de ouvir alguém falar-me verdadeiramente sobre mim. Sem eles que conheceram o projecto e reconheceram, que eu tinha capacidade cultural para enfrentar o desafio a que me propunha, “eram poucos mas sinceros”, que eu posso citar os nomes: Dr. Manuel Ramos Franco, Dr. Correia Rosa, Dr. António Freitas. Ferreira da Silva, Dr. Bento Monteiro, Dr. Carlos Saudade e Silva, Cpt. Dario e Dr. Raimundo Neto.
- De entre todos escolho dois casos entre nomes que cito, têm algo a ver comigo quando escrevo o conto, o Cpt. Dário que não passava de capitão na reserva só pactuava com o regime e o Dr. Raimundo Neto “meu explicador (para o 7º ano), homem de 60 anos, Licenciado Ciências Sociais numa Universidade da América do Norte e que tinha vivido em Cuba, em França (onde é Prof. na Sorbonne), Moscovo e Argélia,e onde (segundo ele) estudou e leccionou, é repatriado de França para Portugal e entregue à PIDE, que o coloca com residência fixa nas Caldas e com a proibição de leccionar oficialmente”, que quando da fuga de Álvaro Cunhal e companheiros da Fortaleza de Peniche (1960), é preso e quando regressa ás Caldas, talvez seis meses depois, que alegria de o ver era ofuscada pelo estado físico em que se encontrava.
- Quanto ao meu conhecimento do meio rural o Conto e o meu modo de pensar não teriam sentido se eu não andar para trás no tempo e não contar o meu contacto com a realidade rural do Concelho das Caldas. Meu pai era médico Veterinário Municipal, com ele acompanhei desde muito novo e aprendi a ver o mundo rural do nosso concelho, com pobres, remediados e ricos, que o compunham e sua vida. O meu professor neste contacto com esta realidade social foi ele, com o seu carácter humano e o seu saber.
- Eu sei que é difícil ver a praça como eu a conto, para mim que também a vi alegre e tive noites (quando vinha do Casino) de esperar que a Padaria abrisse e na galhofa com os amigos, o nosso sentir é diferente.
Para todos os que cito o agradecimento é eterno.

João Ramos Franco

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"um amigo que partilhou o seu saber comigo, Victor Palla"




















Curriculum vitae extenso e variado – arquitecto, pintor, grafista, fotógrafo, prosador, galerista, tradutor de vários Livros, etc…

Do Livro que vos mostro, escolhi dois poemas de Ernest Hemingway, que retratam a época em que este escritor viveu…

MITRAIGLIATRICE

Os moinhos do Deuses moem lentamente
Mas o moinho
Vai batendo seu mecânico staccato,
Da mente absurda infantaria,
A avançar em difícil terreno de batalha,
A fazer deste charuto
Sua metralhadora.


A ÉPOCA PEDIA

A época pedia-nos cantigas
E cortava-nos a língua

A época pedia-nos viagens
E ia-nos edificando barragens.

A época pedia-nos bailados
Enquanto nos enfiava calções de aço.

E no fim a época recebeu
O género de merda que mereceu.

De Víctor Palla, Poemas do Inglês – pag. 31
Ler Editora

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Tchaikovsky - 1812 overture (Part 2)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Os Martyres do Dinheiro


















- A crise económica actual e todas consequências sociais, fazem-me saltar da cadeira e procurar na minha biblioteca livros que focam temas, considerados apenas de cultura geral, de uma história já passada. Quando dou por mim a reler os Martyres do Dinheiro, de Leon Tolstoi, depois de à dias vos ter falado dos Emigrantes e d’ A Selva, de Ferreira de Castro, reparo que o mostrar do que tinha lido, como tinha atingido a minha cultura, estava a ser facto presente e não o contar o passado!...
- A actualidade do que leio e ouço nos média, tornam-se de repente em imagens mentais de um dejá vu…

João Ramos Franco

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

EU o Luiz Pacheco o Manuel de Castro e o Grupo da Rua Viriato



















Escrever sobre este poeta e Companheiro, que nasceu em 1934, e morreu em 1971, é me difícil. Sei que tem dois livros publicados, Paralelo W (1958) e A estrela rutilante (1960). Quando o conheci, devido à doença, já apenas escrevia textos, para revistas e jornais.
Convivi com ele durante três anos, a sua alegria e amizade, conseguia esconder, uma autodestruição, premeditada que o ia conduzir à morte prematura.
Conhecedor da doença que ele tinha, custava me ver a sua naturalidade, ao acompanhar-nos na vida, que para além das reuniões na casa da Rua Viriato, nós levávamos de boémia.
Uma conversa que surge entre amigos, quando do falecimento de Personagens ligado ás letras e artes (como no caso do Luiz Pacheco) é o local onde reunimos (para nos despedirmos) ser uma igreja. O local de despedida do Manuel de Castro, foi na igreja da Pena, e nunca me esquecerei da atitude do Luiz Pacheco, que revoltado, perante toda aquela encenação religiosa, retira o crucifixo que tinham colocado nas mãos do Manuel dizendo: Isto é uma ofensa…
Da curta obra publicada, mas de enorme grandeza na sua essência, dou-vos vos dois poemas:
João Ramos Franco

MELODIA

Eu canto a noite. A noite cresce,
crescem os seus membros de veludo. Eu canto a noite,
e todavia sei que a minha voz
já não é pura. Sei
que lentamente se afogou em outra noite
dispersa na memória a que me entrego
de antigas coisas.

A noite afoga-me. Dispara
seu corrosivo veneno em minhas veias.
Eu sou a noite, eu canto a noite, eu vivo a noite.
Desce sobre mim, ó integral mansidão, quieto silêncio,
simples simplicidade do que é simples.

Eu canto a noite. Eu canto a morte.
Tenho a noite na garganta. Um toiro negro
dorme no meu coração atento. Algo desliza
sobre a superfície da mesa, do papel,
da garrafa. Algo desliza, vagarosamente,
sobre a minha pele. Sobre a cidade.
Sobre o mundo. A noite desliza
sobre si própria. Eu canto
a noite suavemente deslizante.
Sobre mim. Sobre as coisas. Sobre
uma nocturna humanidade.
Sobre o mundo.


TÚLIPAS VERMELHAS

Silencioso e todavia presente, ó subtil
coração das coisas… Uma infância severa,
uma fugitiva eternidade
se evola de ti, um claro aroma,
a ténue atmosfera do que vive sorrindo,
abrindo as pétalas como a mão delicada
de uma adolescente ideal,
absorvendo ar no místico recolhimento
que te é próprio. Ó subtil e ardente
coração dos objectos, ó passiva
e contudo apaixonada presença,
és tu meu sangue, a intima verdade
que pulsa no meu tacto, no cristal
desta tristeza indolor, pacífica, deslizante,
que atravessa o tempo e o olhar
a que me obrigas, túlipa, livro,
palavra, som, corpo incorruptível,
intocável, desta comunicação
entre vós, ó coisas, ó coração das coisas,
e o fluir da minha viagem isolada.

Transcritos do Colóquio na Gulbenquiian por João Ramos Franco: Capa e poemas, pag. 56 e 57
Publicados por: João Ramos Franco

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Eu e Luiz Pacheco

























O CASO DO SONÂNBOLO
CHUPISTA
(basta ampliar para ler)
história de um prémio, outro
Propõe-nos o autor a leitura de uma crítica ao Prémio Lins Rego,
bastante, detalhada e documentada por recortes colhidos da Vida Literária, suplemento do Diário de Lisboa em 1960.

Do original, editora Contraponto – Agosto 1980

Texto publicado por: João Ramos Franco

Recordar e Desejar a João B. Serra
















Quando dêste Tema no teu Blog “O que eu andei…”

….”Temos um passado que devemos recordar. Temos um futuro que podemos desejar. Mas só recordamos e desejamos no presente: aqui e agora, no tempo que nos é dado para viver.
Carlos Fuentes, Discurso proferido na cerimónia em que recebeu o Prémio D. Quixote de la Mancha, em Toledo, a 13 de Outubro de 2008”…….
O meu comentário foi:
Se me permites, João Serra, abri o meu Blog, (Estar Presente, com os Temas: Passado, Presente e Futuro) a teu conselho amigo, que encontrou em mim alguém que tinha nas suas memorias, algo que contar…
O tema “Recordar e Desejar” e após ter lido o Discurso de Carlos Fuentes, entra em mim e diz-me baixinho, recorda-te e deseja…
Se não te importares, RECORDAR E DESEJAR será tema no meu Blog, tendo como personagem, João Bonifácio Serra.

- Era uma vez duas pessoas, que tinham de comum, a cidade de origem, o terem estudado no mesmo Colégio e que apenas a diferença de idade tinha separado, para não se conhecerem.
- A morte de um amigo comum, levou-os a conhecerem-se e a desejar a partilha de memórias.
- Recordar, se estiver em amena conversa, não é difícil, mas escrever, tendo presente que o meu nome aparece ligado a Intelectuais, não é assim tão fácil, mesmo tendo documentos, que o provam, há um facto com muito peso, eu não apareço no meio deles “por obra e graça do divino”…
- Um ano após o nos termos conhecido e a amizade entre João Serra e o João Ramos Franco ter nascido, no blog O que eu andei…, escrevi em Homenagem ao Luiz Pacheco:

Um ano passou que Luiz Pacheco partiu. Morreu é uma palavra que no meu vocabulário não gosto de aplicar quando se trata de falar ou escrever sobre um Amigo. Conheci-o nas Caldas, em Junho de 1967, mas a nossa partilha de amizade, (muitas vezes debaixo do mesmo teto), foi em Lisboa e Massamá, ou seja umas em minha casa outras em casa dele. Quase todos os dias recordo momentos passados com Ele, basta olhar os livros nas estantes que me rodeiam e de entre eles salta o pensar no Luiz e o que falávamos sobre o líamos, dos seus projectos, as “tertúlias” em que participava-mos e um infindável número de historias a que eu vou chamar de etc.
Mas nestes reencontros de Amigos para nos despedirmos quando um parte, acontecem encontros que inesperados, o João Serra e eu, presentes pela mesma razão, não nos conhecíamos, (não perguntem como foi porque já não me lembro), se foi outra pessoa que nos apresentou ou se foi espontânea troca de palavras entre nós e apresentação mutua. Há uma certeza minha, muito gostaria o Luiz Pacheco de saber que no dia em partiu, dois amigos dele, o João Serra e o João Ramos Franco se iam tornar amigos.

Sei que no Recordar das memórias no meu blog, não vou ao encontro do Desejar de quem as lê. Tudo passa pelo a caminho do que sou, como o construí e a realidade.
- Se escrevesse apenas para o João Serra, não necessitaria mostrar o percurso cultural, o que li e o que estudei, por onde andei, ele sem ter sido meu companheiro no que conto, sabe conhecer a verdade das palavras e compreende-as.

- João Serra, o (Estar Presente, com os Temas: Passado, Presente e Futuro)existe a teu conselho amigo, que encontrou em mim alguém que tinha nas suas memorias algo que contar, a existência deve-se ás tuas palavras, Recordar e desejar no seu sentido. ….”Temos um passado que devemos recordar. Temos um futuro que podemos desejar. Mas só recordamos e desejamos no presente: aqui e agora, no tempo que nos é dado para viver….”

- Ao Patrono e amigo, João Bonifácio Serra

João Ramos Franco

domingo, 8 de fevereiro de 2009

EMIGRANTES



















- A edição é de 1946, a culpa do mau estado é minha, que li e reli este romance quando era estudante.
- Na envolvente rural da cidade onde vivia (Caldas da Rainha), o fenómeno da emigração, era real. Nas aldeias encontrávamos famílias em que alguém era embarcadiço ou tinha utilizado este meio de “dar o salto”, para o Estados Unidos ou Canadá, que eram os seus destinos preferidos nesta região.
- No meu interesse por estes assuntos e esclarecimento dos mesmos está sempre presente o meu Pai e a sua biblioteca…
- Na Oral do 5º ano de Letras, depois da 1ª parte da mesma, em que era obrigatório Camões, me disseram para escolher um escritor do meu agrado, respondi: Ferreira de Castro.
- Na sala fez-se um certo silêncio, naquele tempo um aluno optar por este autor, (não muito bem visto pelo regime) era arrojado…
- Quais obras do escritor que escolhe para falar?
- Emigrantes e A Selva, respondi eu.
- Não me recordo, o suficiente para vos dizer textualmente as respostas que dei… Sei que passei com 18 valores a Português.
- O examinador, sei que foi, ou o Dr. José Gonçalves (Vice-Reitor do Liceu Rodrigues Lobo, era assim que se chamava, só mais tarde passou a ser designado como Liceu Nacional de Leiria) ou a sua esposa.
- Recordo-me bem que foi um deles, porque era cunhado do Dr. Correia Rosa (da farmácia Rosa, em Caldas) e eu tinha-os conhecido pessoalmente, por intermédio da sobrinha, (nossa colega do ERO), Guida Rosa.
- Confesso que o conhecê-los pessoalmente teve influência na escolha do escritor, sabia que quem me estava examinar era contra o regime…
João Ramos Franco

- O tema Emigrantes é actual, e as palavras que Ferreira de Castro escreve no PORTICO desta edição parecem ter sido escritas hoje.

……..”Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor.
- Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico de uma existência condicionada por milhentas restrições.
Curvam-se nos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço do tumulo – a ver, pacientemente, a vida que vivem outros homens mais felizes. Outros, porém não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do Mundo, para fruição duma minoria. E eles, mordidas as almas por justificada ambição, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais ás que disfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente em continente, de hemisfério em hemisfério, em busca do seu pão.”………

Texto de Ferreira de Castro – Emigrantes – 7ª edição, 1946 – PÒRTICO, pág. 1 e 2.
Texto transcrito por: João Ramos Franco

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Nambuangongo Meu Amor
















O local, Quem escreve o Poema e as minhas Memórias…
João Ramos Franco


Nambuangongo Meu Amor

Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu. Tu
não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima
do nosso tempo. Ai tempo onde a palavra vida rima
com a palavra morte em Nambuangongo
Manuel Alegre
Texto publicado por: João Ramos Franco

Depois de algum tempo...

- Comentários no Blog do João Serra e no do ERO, fazem parte do meu quotidiano…
- Recortes de Jornais antigos, textos de Pesquisas, livros, memórias para o meu Blog, são as minas companhias…
- A continuidade da imagem que pretendo transmitir, é objecto de pensar e repensar, e de uma de conversa virtual com quem me lê…
- Há uma realidade, é que só depois lerem o que aqui deposito, falarei ou não com alguém.
João Ramos Franco


“Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. Aprendes que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança.

Começas a aprender que beijos não são contratos e que beijos não são promessas. Começas a aceitar as tuas derrotas com cabeça erguida e olhos adiante com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

Aprendes a construir todas as tuas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos e o futuro tem o costume de cair em vão.

Depois de um tempo aprendes que o sol queima se ficares exposto por muito tempo, e aprendes que não importa o quanto te importes, algumas pessoas simplesmente não se importam…E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te e de vez em quando, tu vais precisar de perdoá-la por isso.

Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais. Descobres que se levam anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la e que tu podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás para o resto da vida.

Aprendes que as verdadeiras amizades continuam a crescer o que importa não é o que tens na vida mas quem tens na vida. E que bons amigos são a família que nos permitem escolher.

Aprendes que não temos de mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida são levadas para longe de ti muito depressa, por isso, devemos sempre deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pois pode ser a última vez que as vejamos.

Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas que nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começas a aprender que não nos devemos comparar com os outros, mas com o melhor que podemos ser. Descobres que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se quer ser e que o tempo é curto.

Aprendes que não importa onde já chegaste, mas para onde vais, mas se sabes para onde vais, qualquer lugar serve.
Aprendes que, ou tu controlas os teus actos ou eles te controlam a ti, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, existem sempre dois lados.

Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências.

Aprendes que a paciência requer muita prática. Descobres que algumas vezes, a pessoa que esperas que te chute, é umas das poucas que te ajudam a levantar.

Aprendes que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tiveste e o que tu aprendeste com elas.

Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que tu supunhas.

Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são parvoíces, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobres que só porque alguém não te ama da forma que tu queres que te ame, não significa que esse alguém não te ame com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam mas simplesmente não sabem demonstrar ou viver isso.

Aprendes que com a mesma severidade que julgas, tu serás em algum momento condenado. Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o concertes.

Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto planta o teu jardim e decora a tua alma, invés de esperar que alguém te traga flores e aprendes que realmente podes suportar, que realmente és forte e que podes ir muito mais longe depois de pensares que não podes mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida! “

William Shakespeare

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A cultura em movimento 2


















O vaguear pelo li e aprendi na Biblioteca da casa Paterna e transportar para este espaço parte das fontes de conhecimento que desde do tempo de estudante foram construindo aquilo sou hoje, faz parte do tema “Passado”, que me proponho a mostra-vos.
- O que vos mostro é um dos livros por onde meu Pai tinha estudado e que quando eu lhe pedia para me ajudar a compreender o que professor tinha dado para estudar, ele explicava, complementando, o seu saber, com os livros por onde tinha estudado.
- Sei que fui um privilegiado, na época em estudei a ditadura não deixava o estudante ter acesso ao muito em casa li e aprendi.

João Ramos Franco

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Eu, Luiz Pacheco, a minha Companheira e o Grupo da Rua Viriato

- Onde a mulher que nos acompanha é parte da realidade cultural que vivemos.

- O omitir da nossa Companheira e sua identidade, apenas porque é do foro íntimo, resultaria numa omissão em que muitas vezes os leitores me iriam questionar, como conheço determinadas pessoas e factos que escrevo.

-Abrir mão da minha privacidade custa-me, mas como ela, nem os nomes das pessoas que vou citar se importariam, vou quebrar um tabu, para que tudo conto seja, para vós, mais real.

- Quando reparei nela, e perguntei quem era, o António Manzoni, jornalista, com um programa de Tauromaquia na Rádio Renascença e com quem eu colaborava fazendo reportagens (telefónicas) de corridas de touros para quais a Rádio solicitava minha presença, respondeu: é a São Sá Carneiro, vive com o Rui Sá Carneiro, o filho mais novo do Mário Sá Carneiro e mora em casa dele. A nossa conversa é interrompida por ela: Desculpem, dão-me lume, se faz favor… Naturalmente, tiro o isqueiro da algibeira e entreguei… Uma troca de olhares…

- Passaram-se uns tempos e o seu nome muda para São Ramos Franco, a busca de casa era inevitável e a Rua Viriato é nossa morada.
- Os seus contactos pessoais ligados personagens da vida cultural tinham sido imensos, vão desde Almada Negreiros passam pelo Luiz Pacheco e continuam por nomes que à medida que vou escrevendo apareceram…

João Ramos Franco

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"Eu e Luiz Pacheco e em 1968 o Grupo da Rua Viriato 1”









Herberto Helder


Os escritores de que vos vou apresentando, fazem parte do Grupo do Café Monte Carlo, com os quais eu convivi, mas só alguns optaram por se reunir em minha casa na Rua Viriato. São esses que vos dar a conhecer, uma de cada vez e algo que o retrate e só depois passarei ao Grupo da Rua Viriato.
- A sua presença devido à editora (Estampa) onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário, era quase que indispensável.
- A minha opinião pessoal, é a de alguém mais introvertido, a sua presença e opinião eram marcadas por o seu ser de poeta e uma realidade muito vivida, o que lhe dava o estatuto de moderador nas nossas conversas… Tentava sempre encontrar um ponto de situação e chamar-nos à realidade do que em comum se pretendia atingir…

………”Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos e redactor de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita. Durante os anos que se seguiram vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.
Repatriado em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional com redactor de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda nesse mesmo ano publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Em 1964 trabalha nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda Os Passos em Volta, escreve «Comunicação Académica» e publica Electronicolírica. Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia Experimental e no ano seguinte publica Húmus, Retrato em Movimento e Ofício Cantante. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio consegue obter suspensão de pena, facto este que não conseguiu evitar que fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário. Ainda nesse ano publica os livros Apresentação do Rosto, que foi suspenso pela censura, O Bebedor Nocturno e ainda Kodak e Cinco Canções Lacunares”………

Texto da Biografia editada pele www.citi.pt
Texto publicado por: João Ramos Franco

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Suas Exªs. Os Livros de um Estudante (ERO)




















Pois, suas Exªs. Os Livros de um Estudante (ERO)!...

Se permitem o devaneio de tratar os Livros como Personagens,
eu tentarei explicá-lo.
Passei tanto tempo da minha vida de estudante com eles sem ser obrigado a trata-los por Sr. Doutor, chamavam-se pelo nome da disciplina e estavam sempre ao meu dispor e não me impunham, testes, chamadas e horários, que só isto vale a homenagem que o estudante lhes presta.
- Que liberdade sentia junto aos Livros, nunca me ralharam, para eles estava sempre tudo bem, pegasse eu num e deixasse um outro de lado, não se aborreciam e esperavam calmamente que me apetecesse ir estudá-los.
- Pois é, eu sou livre de pegar nos livros, o de Físico-química, o de Geografia, os de Ciências-naturais não importam que leia os de História, os de Português e o de Francês, ou vice-versa, eles estão sempre à minha disposição.
- Os livros são belos, carinhosos, murmuram-me baixinho ao ouvido: lê-me, compreende-me e estuda-me se for necessário…
- Sua Exª. o Sr. Doutor é o contrário de tudo o que acabo de dizer...
- Viva a Liberdade, sua Exª. O Livro, desde que estude, nada impõe…
- Eu leio-vos a todos, estejam descansados. Digo eu…
João Ramos Franco

domingo, 1 de fevereiro de 2009

"Eu e Luiz Pacheco e em 1968 o Grupo da Rua Viriato”









Virgílio Martinho


Os escritores de que vos vou apresentando, fazem parte do Grupo do Café Monte Carlo, com os quais eu convivi, mas só alguns optaram por se reunir em minha casa na Rua Viriato. São esses que vos dar a conhecer, uma cada vez e algo que o retrate e só depois passarei ao Grupo da Rua Viriato.
- Virgílio Martinho, aquele me dizia baixo ao ouvido: João, não te esqueças do que aprendeste na guerra pode fazer falta à revolução…
Eu respondia: Está descançado, quando chegar a hora lá estarei..

"NA sua descida aos corredores da memória que povoaram a infância, pelos lugares perdidos e nunca esquecidos de Setúbal, Grândola, Barreiro ou Lisboa, Virgílio Martinho redescobre nas quatro histórias deste Relógio de Cuco, agora reeditado como prova de amizade e admiração literária de Luiz Pacheco, a memória das sombras e vozes que encheram esse imaginário ou paraíso perdido, numa linguagem feita de sinceridade e pouca ficção, embora pela escrita desenvolta e sincopada, povoada de imagens e sinais que chegam dos confins do tempo, reinvente o sentido de uma infância que teve os seus matizes de pobreza ou de alegria. Mas o que mais sobressalta nestas histórias que entre si nitidamente se encadeiam é, sobretudo, esse desejo de exorcizar pela memória e olhos já bem adultos os medos e conflitos que ficaram longe, nas brincadeiras despreocupadas ou na descoberta do sexo, e assim deram corpo a uma forma pessoal de estar na vida e na literatura.
Desde Orlando em Tríptico de Aventuras (1960), passando por O Grande Cidadão (1964), para desembocar neste Relógio de Cuco (1973), Virgílio Martinho sempre pautou a sua atitude de escritor em termos de uma absoluta verdade literária, que consolidou de livro a livro, obedecendo sempre a coordenadas pessoais que o fizeram aproximar-se de uma clara forma de participação política e denúncia social, ainda relacionada de perto com uma certa intervenção surrealista, evidenciada logo no livro de estreia que foi a narrativa Festa Pública (1958), mas definindo-se Virgílio Martinho como uma das vozes literárias que, longe dos círculos em que se costumam forjar as cotações, não podem ser assim tão declaradamente silenciadas."
Artigo de A Página da Educação Arquivo – Artigo Virgílio Martinho ou O Sentido do Paraíso Perdido
Texto transcrito por. João Ramos Franco