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Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro

domingo, 8 de fevereiro de 2009

EMIGRANTES



















- A edição é de 1946, a culpa do mau estado é minha, que li e reli este romance quando era estudante.
- Na envolvente rural da cidade onde vivia (Caldas da Rainha), o fenómeno da emigração, era real. Nas aldeias encontrávamos famílias em que alguém era embarcadiço ou tinha utilizado este meio de “dar o salto”, para o Estados Unidos ou Canadá, que eram os seus destinos preferidos nesta região.
- No meu interesse por estes assuntos e esclarecimento dos mesmos está sempre presente o meu Pai e a sua biblioteca…
- Na Oral do 5º ano de Letras, depois da 1ª parte da mesma, em que era obrigatório Camões, me disseram para escolher um escritor do meu agrado, respondi: Ferreira de Castro.
- Na sala fez-se um certo silêncio, naquele tempo um aluno optar por este autor, (não muito bem visto pelo regime) era arrojado…
- Quais obras do escritor que escolhe para falar?
- Emigrantes e A Selva, respondi eu.
- Não me recordo, o suficiente para vos dizer textualmente as respostas que dei… Sei que passei com 18 valores a Português.
- O examinador, sei que foi, ou o Dr. José Gonçalves (Vice-Reitor do Liceu Rodrigues Lobo, era assim que se chamava, só mais tarde passou a ser designado como Liceu Nacional de Leiria) ou a sua esposa.
- Recordo-me bem que foi um deles, porque era cunhado do Dr. Correia Rosa (da farmácia Rosa, em Caldas) e eu tinha-os conhecido pessoalmente, por intermédio da sobrinha, (nossa colega do ERO), Guida Rosa.
- Confesso que o conhecê-los pessoalmente teve influência na escolha do escritor, sabia que quem me estava examinar era contra o regime…
João Ramos Franco

- O tema Emigrantes é actual, e as palavras que Ferreira de Castro escreve no PORTICO desta edição parecem ter sido escritas hoje.

……..”Os homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país para país, em busca de pão e de um futuro melhor.
- Nascem por uma fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos, de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no sofrimento, no vegetar fisiológico de uma existência condicionada por milhentas restrições.
Curvam-se nos conceitos estabelecidos de há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do berço do tumulo – a ver, pacientemente, a vida que vivem outros homens mais felizes. Outros, porém não se resignam facilmente. A terra em que nasceram e que lhes ensinaram a amar com grandes tropos patrióticos, com palavras farfalhantes, existe apenas, como o resto do Mundo, para fruição duma minoria. E eles, mordidas as almas por justificada ambição, querem também viver, querem também usufruir regalias iguais ás que disfrutam os homens privilegiados. E deslocam-se, e emigram, e transitam de continente em continente, de hemisfério em hemisfério, em busca do seu pão.”………

Texto de Ferreira de Castro – Emigrantes – 7ª edição, 1946 – PÒRTICO, pág. 1 e 2.
Texto transcrito por: João Ramos Franco

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