
Ferreira da Silva no teu modo de pensar nunca pautaste por a marca do seres mais velho. Eu sou testemunha viva de uma de geração, mais nova de Caldas da Rainha, que teve a sorte de privar contigo e que sentiu nas tuas palavras a força para ir mais longe.
- O José Maria Sales Henriques (desculpa eu falar por ele) já só está presente na memória dos amigos, com quem partilhaste o teu conhecimento encaminhando no aprender a arte de pintor e junto ti em Paris continuou, e eu, sentado no Café Central rabiscava numa sebenta, poesia, prosa e riscos (chamavas-lhe desenho), a que só tu davas valor, o impulso de quem queria que o pouco que o estudante sabia, fosse mais longe. Tiravas-me a sebenta para mostrar aos outros amigos, como se naquilo que fazia existisse algo que devia ser público. Eu, envergonhado, sabendo que na sebenta estava o meu pensar, o resultado intimo de quem muito lia, ávido do saber, mas que nada ainda nada estava certo. Eu e José Maria Sales Henriques era-mos, de entre os estudantes do ERO, de uma geração os que mais privaram contigo e quem deste a tua amizade.
As tuas palavras sentidas para nós: Não bebam tanto!...
Eram o conselho do amigo, mais velho, que já conhecia a vida, ditas como quem sabe que não iam ser ouvidas…
Sabes, Ferreira da Silva, ainda hoje recordo, quando à noite íamos a Alfeizerão ao Pão de Ló, horas passadas a ouvir musica na máquina de Discos, tantas outros momentos de nós, em que a tua companhia e as tuas palavras perduram ainda na minha mente.
Para mim, a homenagem será permanente.
Bem mereces a Homenagem que Caldas da Rainha te presta
João Ramos Franco