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Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro
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sábado, 17 de outubro de 2009

Exactidão















Nasci na Estrada para Foz do Arelho, nº 9 (em frente ao Chafariz), este era um local de passagem diário na minha juventude.

Exactidão

Levam as frases sentido
que uma cadência lhes dá:
sentido do não-vivido
a que fica reduzido
o que, escolhido, não há.

Do imo do poder ser,
onde o não-sido se arrasta,
ouvi cadências crescer:
vaga música de ter,
na vida, quanto não basta -

quanto um sentido se entenda,
que nem verdade ou mentira.
(Que o que dele se aprenda
é como cobarde venda
para que a luz nos não fira.

Luz sem luz, brilho da treva
que tudo no fundo é;
e a certeza que se eleva
do fundo da própria treva,
de exacta que seja, é.)

Levam justiça consigo
as palavras que dissermos.
Por quanto sentido antigo,
nelas ficou por castigo
o futuro que tivermos.

Levam as frases sentido
que uma cadência lhes dá.
É justo, injusto - o escolhido?
Como quereis que, vivido,
ele não seja o que será?

Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'

Charles Aznavour-Il faut savoir

sábado, 12 de setembro de 2009

Ser…

















Parque D Carlos I
Ser…

Entre o muito que li, tento encontrar o meu modo de ser por aí…
Exercício Kafkiano, encontro um bocadinho espalhado por tudo o que li, mas não o que procuro…
Olhando-me ao espelho vejo apenas que os anos passaram e nada mais.
Sim, existe no todo de que me apercebo, um sonho que foi interrompido e que quero agora agarrar depois de acordar…
Será que tudo se passa assim?... As recordações do passado dizem-me que é este o caminho a percorrer, mas alertam-me para o presente, porque dele depende o futuro…
Queira ou não sou personagem de um romance, não escrito, que conta o meu passar pela vida…
JRF

Ser
Cansada expectativa tão ansiosa
que ser só eu na minha vida espalha!
Na longa noite em que se tece a malha
do que não serei nunca, fervorosa

minha presença rútila e curiosa
arde sombria como um arder de palha,
curiosa apenas de saber se goza
o voar das cinzas quando o vento calha

lá onde o levantá-las é verdade.
Inutilmente se mistura tudo,
que a mesma ansiedade, já esquecida,

de novo recomeça. Mas quem há-de
contrariá-la? Eu não, que não me iludo:
Viver é isto, quando se é só vida.

Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'

Charles Aznavour-Il faut savoir

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

FALEMOS DE POESIA




















Contemplo inutilmente a voz que surge
e é tão inútil como contemplá-la.
Inútil escrevê-la, dar-lhe a fala
mansa e provável com que procurá-la
por entre ecos urgentes e confusos.

Se eu próprio a escuto quando a vejo escrita
que só a entendo se me esqueço dela,
que sombras, que arvoredos à janela
o recordar ao recordar congela
como escolhidos, contemplados ecos?

Murmúrios vagos de amarguras nítidas
sem sonhos inconfessos nem paisagens
sem sonhos inconessos nem paisagens;
ciência certa de secretas viagens
pelo silêncio impuro de outras margens:
memórias são que pelo olhar se espelhem?

Ah não, nem o que vejo a mim me vê,
nem me é visão distante o que conheço.
E o próprio contemplar que, escrito, esqueço,
acaso é de outro acaso com que teço,
inútil, um sentido em quem me lê.

JORGE DE SENA

jacques brel je ne sais pas