A minha foto
Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro
Mostrar mensagens com a etiqueta Luiz Pacheco. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Luiz Pacheco. Mostrar todas as mensagens

sábado, 28 de novembro de 2009

A Perturbação do Último Acontecimento






















Projecto (meu) de capa, para uma colectânea de obras do Luiz Pacheco

A Perturbação do Último Acontecimento

“A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitectura interna. Uma pessoa, por exemplo, lê na idade madura um livro importante para ela, que a faz dizer: "Como poderia viver sem o ter lido!" e ainda: "Que pena não o ter lido quando era jovem!". Pois bem, estas afirmações não fazem muito sentido, sobretudo a segunda, porque a partir do momento em que ela leu aquele livro, a sua vida torna-se a vida de uma pessoa que leu aquele livro, e pouco importa que o tenha lido cedo ou tarde, porque até a vida que precede a leitura assume agora uma forma marcada por aquela leitura.”

Italo Calvino in "Palomar"

O facto de no último post ter citado, “Luiz Pacheco – Exposição na Galeria da Biblioteca Nacional”, levou-me a reflectir como sou perante os acontecimentos, neste caso, que me são gratos. Não porque exista em mim uma falta de um sentir próprio pelo Luiz Pacheco, mas o sentir colectivo que levou a esta exposição, merecida para mim, nunca pensei que despertasse tão cedo.
João Ramos Franco

Fly Me To The Moon - Tony Bennett

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Luiz Pacheco – Exposição na Galeria da Biblioteca Nacional






















Catálogo da Exposição(retirado do site da BNP)

Como amigo, que acompanhou com o Luiz Pacheco e que partilhou a vida com ele, debaixo do mesmo teto, que o viu escrever muito do que mostram nesta exposição, exprimo o meu agradecimento à organização.
João Ramos Franco

Luiz Pacheco | Contraponto:
um homem dividido por dois
EXPOSIÇÃO | 26 de Novembro 2009 a 27 de Fevereiro 2010 | Galeria | Entrada livre
Escritor e editor, Luiz Pacheco (1925-2008) desde cedo revelou uma personalidade polémica e com reputação de «marginal»; mas não foi cedo que se revelou literariamente e, aliás, de um modo esparso, em revistas e jornais. Próximo do surrealismo, de cujos cultores mereceu, aliás, amizade como Mário Cesariny ou António Maria Lisboa, classificou-se a si mesmo, porém, como neo-abjeccionista.

A exposição organizada na BNP, com profuso (duplo) catálogo editado conjuntamente com a Leya, procura reunir a dupla faceta de autor e editor sob a sugestiva epígrafe «1 homem dividido vale por 2». Descerra-se, deste modo, uma prolífica actividade de poeta, prosador e crítico de Caca, cuspo & ramela (1958) ou Comunidade (1964), a Crítica de circunstância (1966) ou Diário remendado. 1971-1975 (2005); em reverso, as inúmeras edições do seu Contraponto, editora por si criada em 1950 e que foi matriz de diversos autores de vanguarda.
(retirado do site da BNP)

Gilbert Bécaud - Quand il est mort le poete [les paroles]

domingo, 26 de julho de 2009

Eu e Luiz Pacheco e o João Franco cineasta






















Quando o Luiz Pacheco nos fala da existência de dois João Franco, está retratar “Alguns Marginais e outros Mais” e tinha que obviamente separar os dois nomes porque qualquer deles poderia ter ido buscar os personagens do filme “O Recado”, ambos convivíamos com eles.
O Luiz sabe-o, o João Franco cineasta é meu primo e frequentava a casa da Rua Viriato quando ele, quanto aos personagens do Filme, o Bringela, habitava lá e era como funcionário da minha confiança para tomar conta da casa, o Álvaro e o Xico Btretz, apareciam muitas vezes para comer e beber uns copos.
Na medida em que dois João Franco são amigos e companheiros, e os personagens de “O Recado” acompanham na vida ambos, o Luiz tinha desatar um nó, o nome e fê-lo utilizando os cognomes.
Tudo poderia ficar por aqui se o Luiz Pacheco, no texto que eu passo transcrever, não falasse da existência dos dois João:
…A ideia que o João Franco cineasta, de cognome “o Bom”, para nada de confusões com o homónimo “o Facas”, de ir buscar, em vez de canastrões profissionais, figuras com cara de gente: o Álvaro, Xico Brets, o Bringela. Não fosse o realizador de “O Recado” o nabo que é e o filme já tinha outra aura. Lá fora e Cá Dentro….
Luiz Pacheco - Textos de Guerrilha - pág. 33

Todos os companheiros da Rua Viriato sabiam qual tinha sido a minha especialidade na guerra do ultramar, (explosivos, minas, armadilhas e sabotagem) e em cima da papeleira dormia a faca de mato (como fantasma desse passado). O facto do meu cognome de o Facas é real e foi devido a um bufo (do qual fui avisado pelo capitão, comandante da esquadra do Matadouro, que era meu amigo. Proibi-o entrar lá em casa, até porque devido a ele já lá tinha estado o piquete da PSP e tínhamos sido todos identificados e não foi pior porque o subchefe me reconheceu como amigo do comandante.
Uma noite, misturado entre malta conhecida do Café Montecarlo, ele surge à porta da sala e eu atirei a faca de mato, espetando-a na madeira da porta perto da orelha do bufo… Penso que todos ficam esclarecidos sobre o meu cognome de João Franco (o Facas), é verdade que naquele tempo (1968) ninguém punha em duvida que se um Bufo, tentasse entrar no nosso meio, e fosse detectado, eu o atacava…

Entre as muitas histórias que se passam durante a rodagem do Filme há uma de que nunca me esqueço, o Luiz Pacheco também estava incluído nos personagens, só que de repente desapareceu, tiveram de ir buscar o actor José Viana para o substituir.
João Ramos Franco

Mes emmerdes - Charles Aznavour

domingo, 26 de abril de 2009

O Orgulho de Ser Português























……Eis que, já não sei quando, oiço pela rádio, em sessão de esclarecimento ou dinamização do M. F. A., transfigurada em mote de incitamento convicto, a frase - chave: “o orgulho de ser português”. E com crescente insistência a sinto compartilhada, em muito largas e jovens camadas repetida e expressa consciência afervorada. Do 25 de Abril de 74, logo no 1º de Maio também de 74, dia inesquecível, um povo foi ganhando força e clarividência, a qual somente na luta se adquire.
- Nem se confunda tal orgulho com patrioteirismos à Pinheiro Chagas, com xenofobias de mística nacionalista (longe vá o agouro - …que já experimentámos no nosso século mitos e raças superiores e não esquecemos ao que levaram) ou com reminiscências daquela balela tragicómica de evangelizadores de povos pagãos, sabendo usar melhor o chicote e os pelourinhos que o crucifixo. Antes, bem pelo contrário, uma tradição portuguesa de universalidade, de convivência, de ávido conhecimento e abertura ao mundo.

- Deixámos, sim, de estar “orgulhosamente sós”, como apregoava o encaixotado fanático tacanho de Santa Comba Dão; estamos, sim, “orgulhosamente nós”. E a demonstrar que se não trata de uma paranóia colectiva que se apoderou, de repente, dos Portugueses, é ver as atenções (e preocupações) da estranja, muito embora as suas intenções (e preocupações…) para connosco divirjam, o que também sabemos. Deixámos de ser “os cafres da Europa” – e para os mais novos recordarei que por desenterrar, lastimando-o e repelindo-o, esse antigo ignominioso apodo, uma campanha pseudo – eleitoral dos tempos do fascismo, quando era consentido um escasso mês para se publicarem algumas (poucas e vigiadas) verdades, Adolfo Casais Monteiro foi preso pela PIDE; e Armindo Rodrigues, por se espantar, indignado e protestando contra, e tê-lo escrito e publicado, sofreu igual vexame. ….
Texto retirado de: Textos de Guerrilha – Luiz Pacheco - O Orgulho de Ser Português pág. 15 e 16

sexta-feira, 24 de abril de 2009

25 de Abril de 1974












Salgueiro da Maia intima à rendição do Quartel do Carmo

















Largo do Carmo













Rendição da PIDE

Madrugada do dia 25 de Abril de 1974, por volta das 4 horas, o telefone toca, alguém me informa que a Revolução estava em marcha, apenas vos digo que esse alguém é um ex-aluno do ERO e que tinha estado preso em Caxias, quando da Greve de Fome dos Estudantes na cantina da Universidade de Lisboa.
Dá-me a conhecer que o Capitão Salgueiro da Maia, comandava as forças saídas de Santarém, com o conhecimento do Coronel Almeida Bruno e que acção era apoiada por outros oficiais superiores de outras Unidades Militares de todo do País, e para eu estar descansado que quase com certeza tudo iria decorrer bem.
Deveriam ser oito da manhã quando o Luiz Pacheco chegou a minha casa e me pôs ao corrente do que se passava nas ruas da baixa, eu contei-lhe o que sabia e arrancámos os dois para o centro da revolução que já se situava entre, a Rua António Maria Cardoso (PIDE) e quartel do Carmo.
Os tiros da PIDE sobre o povo ainda me soam nos ouvidos…
João Ramos Franco

1974 - Paulo de Carvalho - E Depois Do Adeus.mp4



25 de Abril 1974 - Revolução dos Cravos

quinta-feira, 19 de março de 2009

ACIDENTE OCIDENTAL - Edição Contraponto
















Acidente Ocidental esgotou a 1ª edição, esgotou a 2ª e esta é a 3ª.
Fernando Madureira deixa-nos ainda outros dois livros publicados são: Poemas em 3 Andamentos e A Execução do Tempo.

O Prefácio de Luiz Pacheco, neste livro, esclarece-nos sobre quem foi Fernando Madureira:
Tivesse Fernando Madureira frequentado a Faculdade de Letras de Lisboa, ouvido as aulas da lucilantes de logogorreia do defunto se bem me lembro prof. Nemésio, chamando-lhe de quarto em quarto de hora ou 4 minutos, conforme a servidão ou lábia próprias, Mestre, com EME mais babado que caca/caquinha de bebé; sido, enfim, colega de carteira e carreira de fulanos tão labiosos como a dupla Davi-Urbanos, estou certo e resseguro: era subsecretário de Estado ou mais……

….3 qualidades ou espécies/espécimens de Azar, e já chegam para escarmento:

1.º azar - …….

2.º AZAR – não sendo licenciado em nada, Fernando Madureira sabe de tudo. Não pode usar o Dr. antes do Fernando? não faz mal. A Academia do Café Montecarlo, ali ao Saldanha, em Lisboa, é das mais exigentes, elegeu-o seu honorário, com o epíteto cefálico de ARANHA PELUDA…..
……FM era um estupendo camarada, só que não entrava em demagogias de ternurinhas com o vulgo e não estava / andava cá para aturar chatos drs. È preciso que se note: o comportamento das pessoas é selectivo. São elas uma verdade para cada Outro. Quando uma data de imbecis se unem para acoimar um só, é que algo vai errado na opinião geral. Eu que o diga, cavalheiros estimáveis e virtuosas damas.

3.º AZAR, e findou – escusava FM de se ter suicidado entre o Natal de 1977 e o Ano Novo de 1978. Nessa quadra festiva, qualquer suicida paga uma multa, escolhesse a 4ª feira de Cinzas. Mas desse acto de coragem ou desespero – e como o saberemos? – não se perdeu tudo: ficam todos a saber, psiquiatras, psicólogos, psicanalistas, neurologistas e demais peritos cangalheiros da mente humana, o que pensa e exprime um suicidado na sociedade – casos Van Gogh, Antonin Artaud - , momentos antes da premeditada despedida fatal: o presente desdobrável/folheto/ são as suas (dele, FM) mensagens e adeuses. Escritas ao correr das paredes – hábitos de Homem Aranha, peludo ou não – da casa onde, rodeado de botijas de butano, como Serpa Pinto fez em seu tempo com pólvora, era o que se fazia na época, as imolou (ou quase).
Aviso: devido à sua robustez física, FM ressuscitou ao 3º dia, risonho e comilão, tal como o fui ver a S. José, já com um prejuízo brutal à Previdência pós-25 de Abril – vingança de ex - Pum Pum que ele fora? Vai reaparecer com mais romances, poemas e o seu riso insólito, debaixo da boininha. Digo riso sardónico em geral. ……
Lagos, 19 de Março de 1979
Luiz Pacheco
Prefácio da 3ª edição de Acidente Ocidental – Edição Contraponto

quarta-feira, 4 de março de 2009

Luiz Pacheco e Ferreira da Silva











uma das músicas que era nossa companheira nas noites no Pão Ló em Alfeizerão


terça-feira, 3 de março de 2009

Baptista Bastos entrevista Luiz Pacheco (duas páginas do JL)






















Ao trazer-vos mais este recorte de jornal o qual tem uma entrevista de Baptista Bastos a Luiz Pacheco, continuo a patilha do meu arquivo sobre escritor e amigo.

Deixo-vos entregues á leitura das palavras de Baptista Bastos no final da entrevista:

(Não se resume numa conversa em público a experiência condensada tantos e tantos anos de fome, de experiência, de esperança, deste homem que, talvez mais que qualquer outro que conheço, é um ponto de interrogação permanente. Deste homem que, por coragem e humildade, sempre se questionou para questionar o nosso miserável tempo português. Diz-me: (Olha, mais não: atingi o limite das minhas forças, que, já de si, são forças extremamente precárias.) Ouvi-lo falar sobre a pretensa beatitude de todos nós, da honra, da dignidade, da integridade. Lê-lo. Ler um escritor que sempre procurou a exposição pessoal para tentar dar uma solução, necessariamente individual, a todos os seus dilemas e perplexidades. Odiá-lo, fingir ignorá-lo, esquece-lo, fingir desconhecê-lo. Acaba-se sempre por atinar neste cartaz humano de subversão chamado Luiz Pacheco. Uma criatura imparável que sempre recusou beleguim de qualquer ditadura. Luiz Pacheco, por sinal meu amigo. Mas eu não acredito em Deus nem no Diabo)
Fotografias e texto do JL, pág. 10 e 11.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Eu Luiz Pacheco e Fernando Saldanha da Gama














O Saldanha da Gama que nos aparece no Grupo do Café Gelo faz a sua emigração natural para o Café Monte Carlo tal como o resto do grupo.

Sendo um dos jovens do grupo e necessitado de emprego, consegue, lugar nas Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, tendo sido colocado na zona do Montijo como responsável da mesma.
A sua existência como intelectual passa, por menções no Site da Gulbenkian não mostrando no entanto algo da sua obra.
O que sei, foi me contado pelo Luiz Pacheco, o Saldanha nunca passou de um experimental, perdido entre a pintura, a poesia e a prosa, não nos deixando uma obra completa, numa destas áreas.
Do que escreveu, tenho no meu arquivo este recorte de jornal que vos mostro.

O Luiz Pacheco tinha-nos dito que tinha desaparecido o Álvaro Santos, (mais conhecido por Cabeça de Vaca). Eu e o Saldanha da Gama procuramos, descobrimos e escrevemos sobre ele.

Fernando Saldanha da Gama, neste artigo, retrata um cidadão do mundo, “lisboeta”, que vagueia por entre os intelectuais.

Eu escrevo uma pequena rábula ao assunto:

Na recepção do Hotel do Duque gera-se confusão!...
Telefone, cartas, pessoas… O Sr. Álvaro Santos, está?
“O Saldanha da Gama, reaparece, o que muito nos apraz, faz a “crónica” e os manos gostam da lição de “Savoir Vivre” que ele nos mostra.”
- O Sr. Álvaro Santos está? Insisto eu.
- Está mas não atende.
A realidade salta-nos à vista, o Álvaro pensa, não gosta da multidão, fecha-se, não a quer, não lhe interessa, ele é só…

O Saldanha tenta abrir a concha, o Pacheco também tentou e eu tento e tal como eles deparo com o inesperado…

- O Álvaro é o Álvaro.
O real e o metafísico encontram-se, nós só sabemos o que ele faz…
- E o que pensa?
- Será esse o seu elixir? …

João Ramos Franco

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Eu o Luiz Pacheco e Natália Correia



















MENINA E MADONA E MAFIOSA

Sabia que era dia de inauguração da Feira do Livro, tinha combinado com Luiz Pacheco encontrarmo-nos, mas o meu quotidiano de trabalho não previa alterações, quando o continuo me anuncia:
- Sr. Franco, está á porta um senhor para lhe falar…
Dirijo-me ao hall de entrada e deparo-me com Luiz, que pretendia urgentemente falar comigo. Dei-lhe o braço e disse:
- Vamos ali á Herculano (café/pastelaria), tomar um “copo” e conversar.
- O Pacheco mostra-me este texto (capa e 5 páginas dactilografadas) e diz-me: Preciso de 50 fotocópias para passar hoje na Feira. A vinte paus, mais ou menos, já dá uns tostões para a bucha…
- Não há problema, digo eu. Depois das cinco e meia faço isto, agora puseram cá uma fotocopiadora que separa e agrafa, é num instante que despacha isto. Vou ter contigo á hora combinada e levo o material.
- Bebemos mais uma cervejola e ala que se faz tarde…
- Tinha o meu trabalho para fazer, mais este e um resto de dia que prometia ser longo…
As razões que levaram o Luiz Pacheco a distribuir este texto sobre Natália Correia, contarei, e será o Luiz Pacheco versus Natália Correia…
João Ramos Franco

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Eu e Luiz Pacheco

























O CASO DO SONÂNBOLO
CHUPISTA
(basta ampliar para ler)
história de um prémio, outro
Propõe-nos o autor a leitura de uma crítica ao Prémio Lins Rego,
bastante, detalhada e documentada por recortes colhidos da Vida Literária, suplemento do Diário de Lisboa em 1960.

Do original, editora Contraponto – Agosto 1980

Texto publicado por: João Ramos Franco

sábado, 31 de janeiro de 2009

"Eu e Luiz Pacheco"




















Onde eu sou uma personagem do escritor…
UM PIDE EM MASSAMÁ

…..“Foi há dias. Dormia na minha cama de Massamá um sono regalado, seriam umas quatro da manhã, o João entra pelo quarto dentro, acende a luz e vem bichanar-me ao ouvido um segredo terrível. Estremunhado sem óculos, a principio não o reconhecia e pior o entendi. Abanava-me para que acordasse, repetia o seu recado dando risinhos abafados. Aí à quarta insistência, consegui apanhar com uma descarga de perdigotos voadores palavras soltas, quase amontoadas incertas na excitação dele: chófer, táxi, um pide, tá cá. Acordei de vez. Atirando para dento das cobertas os insultos de minha muito especial predilecção, oiço-o depois a chamar em voz alta:
- Ó amigo, chegue aqui faça favor!
E aos pés da minha cama senhorial surgiu então que nem nas mágicas um vulto e calculava quem: um chófer de táxi que trouxera o João de Lisboa, ficaram a beberricar em conversa na cozinha e era um dos tais ex- da pide-dgs.”…….
Textos de Circunstância – Luiz Pacheco –Pag. 109 – Editorial Fronteira – Maio 1977

O personagem é o João Ramos Franco, o resto do conto se o forem ler, reparam que o Pacheco não sai da cama e vem para a cozinha, por conseguinte alguém lhe relata a conversa.
Eu tinha embebedado o pide e ligado um gravador no meu quarto, que era junto à cozinha, e comecei a puxar-lhe pela língua. Da conversa gravada e do livro que o Luiz estava a ler, O Espião de Máximo Gorki, que lhe tinha oferecido dias antes, nasceu este conto. Loucuras minhas, interrogar um ex-pide-dgs!...
João Ramos Franco

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Eu e Luiz Pacheco

As minhas memórias passaram por aqui e em cada uma que vou partilhar, tentarei deixar imagens que vos recordem algo. Um estudo de uma Capa para uma colectânea da obra Luiz Pacheco à época (1980).