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Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro
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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Recordações…"O Bolero" (Grupo da Rua Viriato)

Tangos - Por una cabeza - Nostalgia – Uno



Colocar a casa da Rua Viriato, como uma tertúlia dos escritores que mencionei, seria um abuso meu. Funcionava mais como entreposto entre a noite e a madrugada, comia-se, bebia-se, falava-se de temas diversos (normalmente os que à época mais nos preocupavam) e entretanto a madrugada chegava convidando-nos a sair de casa e partir para a cidade…
Passeava-se a pé por essa noite de Lisboa, conversando, como se não tivéssemos rumo, apenas parávamos, quando nos aparecia um Café ou uma Tasca, para meter mais uns copos…
Quase sem nos apercebermos, o sem rumo que tinha-mos, levava-nos a um Cabaret/Restaurante que nunca fechava, o Bolero.
Todos extractos sociais o frequentavam.
No rés-do-chão funcionava o Cabaret, no primeiro andar o Restaurante, tinha uma porta para rua que lhe dava acesso directo, mas nós nunca a utilizávamos.
Era como que gostasse-mos de quebrar de quebrar a conversa amena e devido ao som do conjunto musical começar a falar alto para nos ouvirmos…
À entrada na sala do lado esquerdo estava o conjunto musical, chefiado por pianista invisual, que pelo som nossa voz se apercebia da nossa chegada e nos dedicava a música que recordo no início.
Era este o rumo do passeio de todas as madrugadas…
João Ramos Franco

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

EU o Luiz Pacheco o Manuel de Castro e o Grupo da Rua Viriato



















Escrever sobre este poeta e Companheiro, que nasceu em 1934, e morreu em 1971, é me difícil. Sei que tem dois livros publicados, Paralelo W (1958) e A estrela rutilante (1960). Quando o conheci, devido à doença, já apenas escrevia textos, para revistas e jornais.
Convivi com ele durante três anos, a sua alegria e amizade, conseguia esconder, uma autodestruição, premeditada que o ia conduzir à morte prematura.
Conhecedor da doença que ele tinha, custava me ver a sua naturalidade, ao acompanhar-nos na vida, que para além das reuniões na casa da Rua Viriato, nós levávamos de boémia.
Uma conversa que surge entre amigos, quando do falecimento de Personagens ligado ás letras e artes (como no caso do Luiz Pacheco) é o local onde reunimos (para nos despedirmos) ser uma igreja. O local de despedida do Manuel de Castro, foi na igreja da Pena, e nunca me esquecerei da atitude do Luiz Pacheco, que revoltado, perante toda aquela encenação religiosa, retira o crucifixo que tinham colocado nas mãos do Manuel dizendo: Isto é uma ofensa…
Da curta obra publicada, mas de enorme grandeza na sua essência, dou-vos vos dois poemas:
João Ramos Franco

MELODIA

Eu canto a noite. A noite cresce,
crescem os seus membros de veludo. Eu canto a noite,
e todavia sei que a minha voz
já não é pura. Sei
que lentamente se afogou em outra noite
dispersa na memória a que me entrego
de antigas coisas.

A noite afoga-me. Dispara
seu corrosivo veneno em minhas veias.
Eu sou a noite, eu canto a noite, eu vivo a noite.
Desce sobre mim, ó integral mansidão, quieto silêncio,
simples simplicidade do que é simples.

Eu canto a noite. Eu canto a morte.
Tenho a noite na garganta. Um toiro negro
dorme no meu coração atento. Algo desliza
sobre a superfície da mesa, do papel,
da garrafa. Algo desliza, vagarosamente,
sobre a minha pele. Sobre a cidade.
Sobre o mundo. A noite desliza
sobre si própria. Eu canto
a noite suavemente deslizante.
Sobre mim. Sobre as coisas. Sobre
uma nocturna humanidade.
Sobre o mundo.


TÚLIPAS VERMELHAS

Silencioso e todavia presente, ó subtil
coração das coisas… Uma infância severa,
uma fugitiva eternidade
se evola de ti, um claro aroma,
a ténue atmosfera do que vive sorrindo,
abrindo as pétalas como a mão delicada
de uma adolescente ideal,
absorvendo ar no místico recolhimento
que te é próprio. Ó subtil e ardente
coração dos objectos, ó passiva
e contudo apaixonada presença,
és tu meu sangue, a intima verdade
que pulsa no meu tacto, no cristal
desta tristeza indolor, pacífica, deslizante,
que atravessa o tempo e o olhar
a que me obrigas, túlipa, livro,
palavra, som, corpo incorruptível,
intocável, desta comunicação
entre vós, ó coisas, ó coração das coisas,
e o fluir da minha viagem isolada.

Transcritos do Colóquio na Gulbenquiian por João Ramos Franco: Capa e poemas, pag. 56 e 57
Publicados por: João Ramos Franco

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Eu, Luiz Pacheco, a minha Companheira e o Grupo da Rua Viriato

- Onde a mulher que nos acompanha é parte da realidade cultural que vivemos.

- O omitir da nossa Companheira e sua identidade, apenas porque é do foro íntimo, resultaria numa omissão em que muitas vezes os leitores me iriam questionar, como conheço determinadas pessoas e factos que escrevo.

-Abrir mão da minha privacidade custa-me, mas como ela, nem os nomes das pessoas que vou citar se importariam, vou quebrar um tabu, para que tudo conto seja, para vós, mais real.

- Quando reparei nela, e perguntei quem era, o António Manzoni, jornalista, com um programa de Tauromaquia na Rádio Renascença e com quem eu colaborava fazendo reportagens (telefónicas) de corridas de touros para quais a Rádio solicitava minha presença, respondeu: é a São Sá Carneiro, vive com o Rui Sá Carneiro, o filho mais novo do Mário Sá Carneiro e mora em casa dele. A nossa conversa é interrompida por ela: Desculpem, dão-me lume, se faz favor… Naturalmente, tiro o isqueiro da algibeira e entreguei… Uma troca de olhares…

- Passaram-se uns tempos e o seu nome muda para São Ramos Franco, a busca de casa era inevitável e a Rua Viriato é nossa morada.
- Os seus contactos pessoais ligados personagens da vida cultural tinham sido imensos, vão desde Almada Negreiros passam pelo Luiz Pacheco e continuam por nomes que à medida que vou escrevendo apareceram…

João Ramos Franco

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"Eu e Luiz Pacheco e em 1968 o Grupo da Rua Viriato 1”









Herberto Helder


Os escritores de que vos vou apresentando, fazem parte do Grupo do Café Monte Carlo, com os quais eu convivi, mas só alguns optaram por se reunir em minha casa na Rua Viriato. São esses que vos dar a conhecer, uma de cada vez e algo que o retrate e só depois passarei ao Grupo da Rua Viriato.
- A sua presença devido à editora (Estampa) onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário, era quase que indispensável.
- A minha opinião pessoal, é a de alguém mais introvertido, a sua presença e opinião eram marcadas por o seu ser de poeta e uma realidade muito vivida, o que lhe dava o estatuto de moderador nas nossas conversas… Tentava sempre encontrar um ponto de situação e chamar-nos à realidade do que em comum se pretendia atingir…

………”Quando em 1955 regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos e redactor de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita. Durante os anos que se seguiram vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia, viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da prostituição.
Repatriado em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional com redactor de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda nesse mesmo ano publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Em 1964 trabalha nos serviços mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda Os Passos em Volta, escreve «Comunicação Académica» e publica Electronicolírica. Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia Experimental e no ano seguinte publica Húmus, Retrato em Movimento e Ofício Cantante. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio consegue obter suspensão de pena, facto este que não conseguiu evitar que fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e director literário. Ainda nesse ano publica os livros Apresentação do Rosto, que foi suspenso pela censura, O Bebedor Nocturno e ainda Kodak e Cinco Canções Lacunares”………

Texto da Biografia editada pele www.citi.pt
Texto publicado por: João Ramos Franco

domingo, 1 de fevereiro de 2009

"Eu e Luiz Pacheco e em 1968 o Grupo da Rua Viriato”









Virgílio Martinho


Os escritores de que vos vou apresentando, fazem parte do Grupo do Café Monte Carlo, com os quais eu convivi, mas só alguns optaram por se reunir em minha casa na Rua Viriato. São esses que vos dar a conhecer, uma cada vez e algo que o retrate e só depois passarei ao Grupo da Rua Viriato.
- Virgílio Martinho, aquele me dizia baixo ao ouvido: João, não te esqueças do que aprendeste na guerra pode fazer falta à revolução…
Eu respondia: Está descançado, quando chegar a hora lá estarei..

"NA sua descida aos corredores da memória que povoaram a infância, pelos lugares perdidos e nunca esquecidos de Setúbal, Grândola, Barreiro ou Lisboa, Virgílio Martinho redescobre nas quatro histórias deste Relógio de Cuco, agora reeditado como prova de amizade e admiração literária de Luiz Pacheco, a memória das sombras e vozes que encheram esse imaginário ou paraíso perdido, numa linguagem feita de sinceridade e pouca ficção, embora pela escrita desenvolta e sincopada, povoada de imagens e sinais que chegam dos confins do tempo, reinvente o sentido de uma infância que teve os seus matizes de pobreza ou de alegria. Mas o que mais sobressalta nestas histórias que entre si nitidamente se encadeiam é, sobretudo, esse desejo de exorcizar pela memória e olhos já bem adultos os medos e conflitos que ficaram longe, nas brincadeiras despreocupadas ou na descoberta do sexo, e assim deram corpo a uma forma pessoal de estar na vida e na literatura.
Desde Orlando em Tríptico de Aventuras (1960), passando por O Grande Cidadão (1964), para desembocar neste Relógio de Cuco (1973), Virgílio Martinho sempre pautou a sua atitude de escritor em termos de uma absoluta verdade literária, que consolidou de livro a livro, obedecendo sempre a coordenadas pessoais que o fizeram aproximar-se de uma clara forma de participação política e denúncia social, ainda relacionada de perto com uma certa intervenção surrealista, evidenciada logo no livro de estreia que foi a narrativa Festa Pública (1958), mas definindo-se Virgílio Martinho como uma das vozes literárias que, longe dos círculos em que se costumam forjar as cotações, não podem ser assim tão declaradamente silenciadas."
Artigo de A Página da Educação Arquivo – Artigo Virgílio Martinho ou O Sentido do Paraíso Perdido
Texto transcrito por. João Ramos Franco