A minha foto
Caldas da Rainha - Passado Presente e Futuro

sábado, 31 de janeiro de 2009

"Eu e Luiz Pacheco"




















Onde eu sou uma personagem do escritor…
UM PIDE EM MASSAMÁ

…..“Foi há dias. Dormia na minha cama de Massamá um sono regalado, seriam umas quatro da manhã, o João entra pelo quarto dentro, acende a luz e vem bichanar-me ao ouvido um segredo terrível. Estremunhado sem óculos, a principio não o reconhecia e pior o entendi. Abanava-me para que acordasse, repetia o seu recado dando risinhos abafados. Aí à quarta insistência, consegui apanhar com uma descarga de perdigotos voadores palavras soltas, quase amontoadas incertas na excitação dele: chófer, táxi, um pide, tá cá. Acordei de vez. Atirando para dento das cobertas os insultos de minha muito especial predilecção, oiço-o depois a chamar em voz alta:
- Ó amigo, chegue aqui faça favor!
E aos pés da minha cama senhorial surgiu então que nem nas mágicas um vulto e calculava quem: um chófer de táxi que trouxera o João de Lisboa, ficaram a beberricar em conversa na cozinha e era um dos tais ex- da pide-dgs.”…….
Textos de Circunstância – Luiz Pacheco –Pag. 109 – Editorial Fronteira – Maio 1977

O personagem é o João Ramos Franco, o resto do conto se o forem ler, reparam que o Pacheco não sai da cama e vem para a cozinha, por conseguinte alguém lhe relata a conversa.
Eu tinha embebedado o pide e ligado um gravador no meu quarto, que era junto à cozinha, e comecei a puxar-lhe pela língua. Da conversa gravada e do livro que o Luiz estava a ler, O Espião de Máximo Gorki, que lhe tinha oferecido dias antes, nasceu este conto. Loucuras minhas, interrogar um ex-pide-dgs!...
João Ramos Franco

2 comentários:

Anónimo disse...

Que caso mais interessante e inusitado: um pide a ser interrogado pelo João Ramos Franco e logo em casa do Luiz Pacheco! Ficar a saber que este episódio, conjugado com a leitura do "Espião" de Maximo Gorky, também oferecido pelo João Ramos Franco ao Luiz Pacheco, esteve na origem do seu conto "Um Pide em Massamá", é uma informação de valor inestimável! Quantas vezes nos questionamos, ao lermos qualquer texto literário, quais as vivências que levaram o autor a escrevê-lo! Tanto mais que Luiz Pacheco dizia de si mesmo não ter imaginação, isto é, que se baseava sempre em casos vividos. Muito agradeço à personagem do escritor partilhar connosco as suas memórias!
- Isabel X -

Anónimo disse...

Quem disse que a PIDE era inteligente?
MV